Economia

Juros afastam BC e Fazenda

Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 15/04/2010 09:38
A duas semanas de o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) dar início ao quarto ciclo de aumento dos juros no governo Lula, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, partiu para cima dos bancos brasileiros, aos quais acusou de cobrar alto demais nos empréstimos e nos financiamentos concedidos aos consumidores e às empresas. Segundo ele, apesar de o custo do dinheiro ter cedido um pouco nos últimos anos, é preciso que as instituições acelerem a redução do spread %u2014 diferença entre o que pagam aos investidores e o que recebem dos devedores. Boa parte desse spread garante os lucros do sistema financeiro. Ao se referir aos juros, Mantega foi taxativo: "Poderiam ser menores". Na avaliação do ministro, que participou de audiência pública na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga as causas da elevada dívida do governo, a demora dos bancos em diminuir o custo do crédito é decorrência da oligopolização (concentração) do setor financeiro brasileiro %u2014 os seis maiores bancos dominam mais de 80% dos empréstimos e financiamentos. "Falta concorrência", disse. A situação só não é pior, segundo Mantega, devido à atuação dos bancos públicos, que, ao longo do período mais crítico da crise mundial, ampliaram maciçamente a oferta de crédito no país. Presente na mesma reunião, o presidente do BC, Henrique Meirelles, minimizou as críticas, numa clara tentativa de tirar o foco sobre o Copom, que vem sendo bombardeado pelo mercado e por integrantes do governo. Ao se referir à taxa básica (Selic), que serve de parâmetro para a composição de todos os juros de empréstimos, afirmou não ver nada de excessivo. A seu ver, a política monetária conduzida pelo BC tem sido fundamental para livrar o país de surtos inflacionários e garantir o poder de compra da população e o crescimento sustentado. A Selic está em 8,75% ao ano, uma das maiores taxas praticadas no mundo e, pelas projeções dos analistas mais pessimistas, deve avançar até os 13%. As posições diferentes entre Meirelles e Mantega mereceram comentários jocosos por parte dos deputados presentes na CPI. Coube ao ministro responder a provocação de que ele e o presidente do BC batem cabeça quando o assunto é a taxa de juros. "Não bato cabeça com o Meirelles, mesmo porque isso é pouco recomendado. Haveria dano, uma vez que não temos nenhuma proteção", disse, referindo-se à careca que ambos ostentam.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação