Economia

Recado para a China

postado em 24/04/2010 13:04
Reunidos em Washington, ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais dos países do G-20, grupo das 19 maiores economias do mundo e a União Europeia, defenderam ontem um crescimento econômico mais equilibrado no planeta. Para que isso ocorra, as nações com melhor desempenho, como os principais emergentes, precisariam aumentar as compras de produtos dos parceiros mais afetados pela crise global. Segundo analistas ouvidos pelo Correio, a tentativa de buscar mais harmonia entre as políticas macroeconômicas e menos desigualdade no comércio exterior é muito difícil de obter na prática. Na verdade, ela não passou de mais um claro recado para o governo chinês, que resiste em valorizar sua moeda, o yuan. A excessiva desvalorização da divisa, atrelada artificialmente ao dólar, distorce as trocas comerciais no mundo, permitindo uma maior competitividade dos produtos chineses em detrimento dos concorrentes. A pressão para que as autoridades chinesas valorizem o yuan vem principalmente dos Estados Unidos e da União Europeia, mas também começa a ganhar terreno entre os demais sócios do Bric, acrônimo que reúne as quatro mais promissoras economias do mundo nos próximos 50 anos: Brasil, Rússia, Índia e China. Num café da manhã entre representantes do grupo emergente ontem, não se tocou na delicada questão. Ou seja, eles nem apoiaram nem criticaram os chineses. "Esse chamado por mais equilíbrio é uma mensagem nada discreta contra a China, que acumula saldos comerciais estrondosos porque mantém uma moeda artificialmente desvalorizada. Estados Unidos e Europa pressionam as autoridades chinesas a desvalorizar o yuan e a importar mais para favorecer os demais países", afirmou o economista João Pedro Ribeiro, analista internacional da consultoria Tendências. O pretexto de usar o objetivo do equilíbrio para criticar os chineses fica claro: que país abriria mão voluntariamente de crescer, deixando de criar empregos domésticos, para permitir a recuperação de outras nações? "Isso não existe. O alvo é mesmo a China." Alta dos juros Na avaliação de Ribeiro, se o câmbio não fosse controlado com mão de ferro pela autoridade monetária chinesa, o problema seria minimizado naturalmente nos próximos meses. O país começa a sofrer com uma crescente inflação, que não demorará a forçar o Banco da China a elevar as taxas de juros internas. Com os juros mais apetitosos, os investidores devem aumentar as aplicações financeiras no país, o que faria o yuan ganhar força. Mais poderosa, a moeda permitiria a elevação das importações. "O governo chinês tem dado sinais contraditórios sobre o tema. Numa semana, diz que vai valorizar. Na seguinte, diz o contrário. Não dá para confiar nas informações que vêm de lá", disse. O estrategista-chefe do banco WestLB no Brasil, Roberto Padovani, concorda que a declaração final do G-20 não passa de um reforço na pressão dos Estados Unidos contra o câmbio chinês. Uma eventual valorização do yuan beneficiaria as exportações norte-americanas. "Essas reuniões do G-20 têm se resumido ao embate entre Estados Unidos e China. São encontros do G-2. Quem comanda o espetáculo é quem tem dinheiro", afirmou. Evitando tratar da valorização do yuan, o comunicado final assinalou que os esforços dos governos para animar a economia estão surtindo efeito, mas a recuperação se dá de forma muito diferente em cada região. Por isso, o ritmo de retirada dos incentivos deve variar de acordo com as necessidades locais. "Reconhecemos que, em tais circunstâncias, diferentes respostas são necessárias. Países que têm capacidade devem expandir suas fontes domésticas de crescimento", assinalou o documento, com o beneplácito do diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), anfitrião do encontro.

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