Economia

Brasil se tornou um importante importador do metal

Embora os estrangeiros dominem a mineração do metal no país, nas cidades crescem os empregos, a renda e a arrecadação de impostos

postado em 31/05/2010 07:25
Embora os estrangeiros dominem a mineração do metal no país, nas cidades crescem os empregos, a renda e a arrecadação de impostosParacatu (MG) ; Mesmo figurando entre os 10 maiores produtores de ouro do mundo e tendo enormes jazidas ainda por serem exploradas, o Brasil se tornou um importante importador do metal. Como a maior parte do minério tirado da terra é direcionada para o exterior, para se abastecerem, as joalherias que operam no país são obrigadas, muitas vezes, a comprar lá fora o ouro que, um dia, já foi brasileiro.

A maior mina em operação no Brasil está na cidade mineira de Paracatu e não tem bandeira verde e amarela. É canadense, nacionalidade da multinacional Kinross, que a controla. Tudo o que produz é exportado. Somente nos quatro primeiros meses deste ano saíram da mina da Kinross US$ 163,9 milhões em ouro para o mercado internacional, volume 82,2% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado (US$ 90 milhões).

Embora a exploração e os lucros gerados pela mineração de ouro estejam com os estrangeiros, não se pode negar o forte impacto econômico das atividades das empresas nas regiões onde estão instaladas. Em torno das minas, a oferta de empregos é crescente, a renda está em processo ascendente e o poder público se empanturra de impostos.

Em Paracatu, a Kinross é dona de 10.942 hectares. Terras que, neste ano prometem gerar 500 mil onças-troy (unidade de medida para barras de ouro que equivale a quase US$ 1.250 cada), resultando em um faturamento aproximado de US$ 1 bilhão. Tais números garantem à pequena cidade mineira o título de dona da maior mina brasileira em área e volume de ouro no país. ;Disparadamente, somos a maior. Apesar de termos um teor de ouro pequeno no minério que retiramos, movemos uma quantidade enorme de rochas para produzirmos muito;, explica o presidente da companhia no Brasil, José Roberto Mendes Freire.

[SAIBAMAIS]Capital de sobra
Em produtividade, a mina retira 0,4 gramas de ouro por tonelada de rochas extraídas ; o menor índice do país. Mas, em um único dia, movimenta 120 mil toneladas de pedras para compensar a baixa ocorrência. ;Em 2004, começamos estudos para prolongar o tempo de vida da mina. A princípio, ela só duraria mais 10 anos. Em 2008, porém, começamos a expansão e criamos uma segunda planta, o que aumentou o tempo de exploração para mais 34 anos;, explica Marcos Paulo Dias Gomes, gerente de processos da Rio Paracatu Mineração, nome da mina da Kinross no município mineiro. Para ampliar a produção, até 2009 foram investidos US$ 570 milhões. Neste ano, o desembolso será de US$ 235 milhões. Para o presidente da Kinross, nunca foi tão promissor investir em mineração.

Para os executivos da Kinross, enquanto a demanda se mantiver aquecida, vale a pena investir na exploração de minas no Brasil. Portanto, a nova corrida do ouro que se vê no Brasil está muito longe do fim. Os mais otimistas acreditam que ela está apenas começando, tamanho é o potencial de consumo no país por joias e outros objetos feitos com o metal ; somente nos últimos seis anos, mais de 30 milhões de pessoas ascenderam à classe média. Sendo assim, no que depender dos investidores estrangeiros, não faltará capital para a exploração de minas.

Área explorada pela empresa Kinross: Somente nos quatro primeiros meses deste ano saíram da mina US$ 163,9 milhões em ouro para o mercado internacional

Interior enriquece

Paracatu (MG) ; A nova febre do ouro tem garantido a renda não somente às empresas que exploram o metal. Lugarejos pequenos, com jazidas enormes, começam a ganhar características de regiões prósperas. Limpas, bem-organizadas, as cidades estão substituindo as residências pequenas e simples, comuns no interior do país, por edifícios altos, alguns funcionando como clubes exclusivos.

Paracatu, com seus 85 mil habitantes, é exemplo claro desse novo ciclo do ouro. Com a mineração, a pequena cidade mineira entrou no seleto grupo de exportadores brasileiros ; 95% de tudo o que vende para o exterior saem da mina controlada pela canadense Kinross. É o metal que também sustenta as mais de 2 mil empresas instaladas na cidade, que garantem parte substancial de um Produto Interno Bruto (PIB) de aproximadamente R$ 1 bilhão.

Além de prédios luxuosos, está trocando a comida tradicional pelo fast food, e as feiras, pelos hipermercados. As ruas, pequenas, estão abarrotadas de carros novos. Em alguns locais, os estacionamentos são rotativos, permanência permitida somente por 10 minutos para que o comércio possa atender a todos os clientes motorizados. Para a condutora turística Christiane Pereira dos Santos, 27 anos, o município está se tornando um local melhor para viver. ;A mina de ouro realmente provocou impactos fortes em Paracatu. Mas precisamos de mais coisas. Será necessário um desenvolvimento mais sustentável, de preservação ambiental de melhoria social ; quase 40% da população estão na pobreza;, diz.

A educação, pelo menos, deu um passo importante, acredita Christiane. Faculdades foram abertas na cidade e a oferta de cursos é cada vez maior. Esse movimento é impulsionado pela própria Kinross, necessitada de mão de obra qualificada. ;Quanto melhor for qualificado o profissional, melhores serão os nossos resultados;, diz o presidente da mineradora, José Roberto Mendes Freire. Todo esse movimento tem atraído grandes empresas, como a rede de fast food Giraffas, do Distrito Federal, e o hipermercado da rede mineira Bretas. (VM)

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