Economia

Brasil tem incremento de 2,7% no primeiro trimestre, o maior entre países listados pelo IBGE

Mesmo que a atividade parasse hoje, expansão seria de 6% no ano

postado em 09/06/2010 07:17
Mesmo que a atividade parasse hoje, expansão seria de 6% no anoRio de Janeiro ; Em uma demonstração de força sem precedentes em pelo menos 15 anos, a economia brasileira cresceu no primeiro trimestre deste ano mais do que as principais nações ricas, superou os emergentes Índia e Rússia e ainda apareceu no retrovisor da China, a locomotiva do planeta no pós-crise. Números divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que o Produto Interno Bruto (PIB), a soma das riquezas produzidas pelo país, avançou 2,7% entre janeiro e março, na comparação com o último trimestre do ano passado, e 9% em relação ao mesmo período de 2009 ; esse, o melhor resultado oficial já registrado desde que os serviços e as riquezas passaram a ser calculados, em 1995. Nas contas do governo, em um quadro hipotético, em que a economia deixasse de crescer até o fim do ano, o avanço do PIB seria de 6%, tal foi a força computada entre janeiro e março (é o que se denomina carregamento estatístico ou carry-over).

A expansão industrial e o aumento dos investimentos sustentaram quase todo o ganho. Atingidas em cheio pela instabilidade que empurrou o planeta para a recessão em 2008, as empresas reagiram com vigor. A construção civil, o comércio, a agropecuária e os serviços responderam positivamente à oferta de crédito e ao incremento do mercado de trabalho e da renda. Até os exportadores e os importadores aproveitaram a onda de recordes para baterem as suas próprias marcas.

Ainda que os próximos trimestres sejam de desaceleração e acomodação da atividade ; em níveis elevados, ressalte-se ;, pouca gente duvida que o país deixará de crescer pelo menos 7% ao fim do ano. Essa é a previsão reinante no mercado e no governo ; os mais otimistas falam em um salto de 8% ;, que, se confirmada, resultará no melhor desempenho do país desde 1986, ano do fatídico Plano Cruzado.

;Vivemos um momento de ouro neste país. É um crescimento exuberante. Acho que o Brasil merecia e precisava disso;, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante discurso em Fortaleza (CE). Em tom de revanche, Lula emendou: ;Vocês viram que fui esculhambado quando disse que a crise seria só uma marolinha aqui no Brasil, e alguns diziam que o Brasil ia afundar. O Brasil foi o último a entrar na crise e o primeiro a sair da crise;.

Dependência
Sob qualquer parâmetro recente, as comparações sugerem que o PIB nacional atingiu o topo ao entrar de sola em 2010. Em valores correntes, o montante acumulado nos três primeiros meses do ano foi de R$ 826,4 bilhões. Boa parte disso saiu do bolso das famílias (R$ 526,7 bilhões), que, há 26 trimestres, continuam consumindo e sustentando ; ainda que a um ritmo mais modesto desta vez ; a economia. O recorde no volume de investimentos realizados diretamente na produção, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), e a elevação dos gastos do governo (R$ 157,2 bilhões) também ajudaram a sustentar o salto do PIB. A baixa taxa de poupança bruta (15,8% do Produto) contrasta, por sua vez, com os bons índices registrados no primeiro trimestre e é apontada como uma pedra no sapato que poderá trazer problemas, inclusive, para o próximo presidente da República, diante da dependência cada vez maior do país por capital estrangeiro.

[SAIBAMAIS]Rebeca Palis, gerente de contas trimestrais do IBGE, explicou que, ao contrário do observado no primeiro trimestre de 2009, entre janeiro e março de 2010, o que se viu foram recordes positivos em série. Segundo ela, as perdas causadas pela crise internacional, decorrente do estouro da bolha imobiliária nos Estados, já foram recuperadas. O consumo das famílias, completou a especialista, embora em ritmo mais lento, conseguiu manter o PIB em alta no primeiro trimestre. Bancos e consultorias que respondem ao questionário semanal Focus feito pelo Banco Central acreditam que esse papel continuará sendo desempenhado com louvor pelos lares brasileiros, perante a perspectiva de criação recorde de empregos com carteiras assinadas neste ano ; a previsão é de 2,5 milhões de vagas ; e do controle da inflação por meio da elevação da taxa básica de juros (Selic).

Acomodação
Entre os países que compõem o BRIC, grupo de emergentes que despontam com chances reais de se tornarem nações desenvolvidas, o Brasil só perde para a China. Dados compilados pelo IBGE mostram que os chineses cresceram no primeiro trimestre incríveis 11,9% ante o mesmo período de 2009. Já a Índia avançou 8,6% e a Rússia, 4,5%. Se a taxa de 2,7% obtida pelo Brasil na comparação com os últimos três meses de 2009 for anualizada, ou seja, se o país mantiver o pé no acelerador e repetir igual performance nos três trimestres seguintes, o crescimento final será tão surpreendente quanto o chinês: 11,2%, taxa que só se viu nos anos 1970, quando o país estava sob o controle dos militares.

A tendência, porém, é de acomodação. Analistas independentes e até o governo reconhecem que, dificilmente, a economia se manterá tão aquecida como nos primeiros meses de 2010. A crise na Europa, o cenário de superaquecimento e os passos do BC na condução da política monetária estão sendo monitorados ; a expectativa é de que o Comitê de Política Monetária (Copom) aumente os juros hoje em 0,75 ponto percentual, de 9,50% para 10,25% ao ano. A grande preocupação dentro do governo e mesmo entre analistas do mercado é de que o BC não force demais a mão, a ponto de comprometer demais o crescimento tão comemorado.

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