Economia

Vendas para população com características sociais chinesas crescem num ritmo de 17,5%

postado em 20/06/2010 08:25
O comércio brasileiro vem se expandindo a taxas chinesas, principalmente nas regiões com o maior contingente de pessoas de baixa renda. Esse avanço está cada vez mais atrelado a um público, curiosamente, semelhante aos orientais. Eles vivem em residências precárias e de pouco espaço, não têm direitos trabalhistas, sua mão de obra é barata e os rendimentos, pequenos. Na base da pirâmide social, essas classes ajudaram o varejo nas regiões Norte e Nordeste a registrar crescimento médio de 17,5% nos 12 meses encerrados em abril. Durante o ápice da crise internacional, o ritmo foi parecido. Em 2010, eles devem gastar R$ 10,2 bilhões a mais que no ano passado.

Com tamanho potencial, empresas têm direcionado seu marketing e criado produtos específicos para essas pessoas. O Boticário, por exemplo, tem dado bastante atenção a pequenas localidades. Em Barcarena, distante 100 quilômetros de Belém, outdoors da marca podem ser encontrados em diversas ruas. O município tem cerca de 90 mil habitantes e segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 19,9 mil estão empregados. Aproximadamente 40% da população é considerada pobre. A despeito disso, o município tem atraído o interesse de companhias por ter a segunda maior economia paraense, atualmente calculada em R$ 3,6 bilhões. Para grandes empresas, a região é de oportunidades.

Acesso aos produtos

João Vieira Martins, 49 anos, tem poucas roupas e calçados. Nunca foi a um dentista e só vai ao médico em casos de emergência. Ele é um ribeirinho que vive na margem de Barcarena. Em vez de automóvel, tem uma canoa que usa para transportar os nove filhos para a igreja e para a feira. Passa o dia na roça ou colhendo açaí e pescando. Ele e a família vivem com R$ 400 mensais, além de R$ 138 do Bolsa Família. A despeito de ser muito simpático, teria dificuldades para conseguir atendimento em um shopping ou em um centro comercial sofisticado. Para os vendedores treinados, ele seria um consumidor pouco provável. Por constrangimento, evita esses lugares. Assim com ele, uma população de 50 milhões de brasileiros de baixa renda tem dinheiro para gastar, mas não tem acesso aos produtos.

;A vida tem melhorado. Ela só fica ruim para quem não faz nada. Já tenho meu fogão, duas televisões e só não tenho geladeira porque ainda não tem luz aqui;, explica Vieira. ;Duas horas por dia a gente vê filme. Gasto de dois a três litros de gasolina para gerar energia, para a gente assistir a um DVD.; Ele admite que, apesar da renda baixa, de vez em quando consegue ;fazer graça; para as crianças e comprar biscoitos recheados e iogurtes. ;Meu maior gasto é mesmo com comida e gasolina.;

Pensando no potencial de consumo, grandes empresas realizam ações para facilitar o acesso aos produtos. A Nestlé, na última quinta-feira, lançou um supermercado flutuante no baixo Amazonas, no Pará. Vai atender 18 comunidades ribeirinhas, com cerca de 800 mil pessoas. ;Não descobrimos a baixa renda hoje. Sempre atuamos nesse segmento e apenas no ano passado faturamos R$ 1,3 bilhão com esse público;, conta o diretor de regionalização da Nestlé Brasil, Alexandre Costa. O projeto segue o exemplo bancário. O Bradesco já atua há alguns anos nos rios do Amazonas com agências flutuantes. A Caixa Econômica Federal deve iniciar projeto semelhante em breve.

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