Economia

Golpes com carros da Volks

Grupo comprava automóveis em nome de terceiros e os revendia a preços abaixo do mercado. Fraudes passam de R$ 20 milhões

Vera Batista
postado em 07/07/2010 07:29
Mais de 2 mil clientes da fabricante de veículos Volkswagen foram vítimas de uma fraude que pode passar de R$ 20 milhões. Eles foram enganados por um esquema chefiado pelo empresário Alessandro Martins, que está foragido ; possivelmente, no Canadá ;, e atuava, principalmente, entre Brasília, São Paulo e Maranhão. Cinco pessoas foram presas ontem (quatro em São Luís e uma na capital federal), acusadas de formação de quadrilha, falsificação de documentos, falsidade ideológica, crime contra o consumidor e sonegação de impostos.

Policiais da Delegacia Especializada em Crime Organizado (Deco) do Distrito Federal prenderam Anderson Tadeu de Paula Gomes, morador de Águas Claras, no escritório da Volkswagen na capital, atendendo a mandato da Justiça do Maranhão expedido pela promotora Lítia Cavalcante. Anderson é acusado de facilitar o esquema de fraudes comandado por Martins, dono da concessionária Euromar, em São Luís, e figura carimbada do high society maranhense.

O secretário de Segurança do Maranhão, Aluísio Mendes, informou à Polícia Federal, a todos os portos e aeroportos do país e à Interpol (1) (polícia internacional), que Martins é foragido da Justiça e está sendo procurado. Na capital maranhense, foram presos Débora Mendes Sampaio, diretora Comercial da Euromar; Carlos Wilson Rolim de Castro, gerente de vendas da empresa; o policial militar da reserva Ronaldo Campos Costa, funcionário do Detran do estado; e Luís Fernando Ferreira Campos, sócio-proprietário da emplacadora LFF Campos. A polícia ainda está cumprindo mandato de prisão contra um diretor da Volkswagen em São Paulo, cujo nome não foi revelado.

Polícia apreende documentos na sede da montadora em Brasília. Cabeça do esquema, o empresário Alessandro Martins é procurado pela InterpolNa operação, os policiais apreenderam documentos, CPUs, notebooks, pen drives, dólares, cofres, celulares, pastas, agendas, cartões de visita, arquivos, cartela de balas para arma de fogo e vários carros de luxo de Martins ; os veículos estão avaliados em R$ 2 milhões.

Corrupção total
No esquema montado pela quadrilha, Martins usava documentos de locadoras de veículos ; algumas não existem mais ; para, sem o conhecimento delas, comprar carros em seus nomes com desconto de até 30%. Os automóveis eram revendidos a preços abaixo do mercado para cidadãos comuns por meio de notas fiscais falsas, criadas pela Euromar. O grupo embolsava o dinheiro e as locadoras ficaram com as dívidas com a Volkswagen.

O repasse dos carros se tornava fácil, pois a operação era ;casada; com o emplacamento feito pela empresa LFF, que fornecia informações desencontradas nas notas fiscais, no CNPJ e nas características do carro. Segundo informou a promotora Lítia Cavalcante, o fugitivo Martins, ao comprar os veículos em nome de terceiros, para não pagar taxas obrigatórias, prejudicava também a concorrência, porque podia vender os carros a preços bem mais baixos.

;No dia 13 de fevereiro de 2009, recebi em minha sala clientes e donos de locadoras, todos desesperados. Quem não concordava com a negociata, ou percebia problemas na documentação, era ameaçado e saía da Euromar até com arma na cabeça;, contou a promotora.

Ela ressaltou que, quando iniciou o processo, foi perseguida pela procuradora-geral da Justiça do Maranhão, Maria de Fátima Rodrigues Travassos, e pelo procurador da República Fabiano de Cristo, que exigiram que seus carros com irregularidades, oriundos do esquema, fossem emplacados. ;A coisa é tão absurda que o desembargador Guerreiro Júnior chegou a mandar prender o diretor do Detran, Claudomir Paes, porque ele não concordou em participar do esquema;, afirmou Lítia.

Para não prejudicar os clientes que caíram na armadilha, a procuradora entrou com um pedido na Justiça para que os carros sejam regularizados mediante justo pagamento de impostos. Em nota, a Volkswagen do Brasil informou que tomou conhecimento, em fevereiro de 2009, das acusações de irregularidades e, desde então, vem colaborando com as autoridades para a solução do caso.

1 - Recompensa de R$ 2 mil
O secretário de Segurança do Maranhão, Aloísio Guimarães, disse que a caçada ao empresário foragido Alessandro Martins será implacável. Segundo ele, está sendo oferecida uma recompensa de R$ 2 mil a quem denunciar o paradeiro do mentor do golpe com carros da Volkswagen.

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