Economia

Brasileiro se afunda na dívida do cartão

Consumidores estão comprometendo parcelas maiores da renda com várias prestações nos cartões de crédito. Calote chega a 10%

Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 16/07/2010 09:12
Os brasileiros estão alongando o prazo de pagamento de suas dívidas com cartões de crédito. Segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central, nos últimos dois anos, aumentaram, de forma considerável, as transações com pagamento parcelado. Isso está sendo possível devido à ação das grandes redes varejistas, que têm permitido o pagamento de móveis e eletrodomésticos em até 12 vezes. O comprometimento futuro de renda dos consumidores está fazendo com que índice de calote dos usuários dos cartões encoste nos 10%.

Pelos levantamento do BC, de janeiro a maio deste ano, as dívidas com cartões de crédito aumentaram 10,3%, superando a expansão média de 7,9% de todos os financiamentos às famílias. Somente de abril para maio, os débitos com o dinheiro de plástico deram um salto de 3,6%, totalizando R$ 28,32 bilhões. Diante de quadro, o ritmo de emissão de cartões vem caindo. A explicação é simples: com os limites de crédito estourados e sem renda disponível para novas dívidas, os brasileiros são obrigados a desativar tal meio de pagamento por pelo menos um período.

Os dados incorporados pelo BC ao relatório sobre a Indústria de Cartões de Pagamento ; as informações disponíveis até então eram de 2007 ; indicam que o estoque de cartões passou a crescer 6,1% ante os 26,8%, em média, computados entre 2003 e 2007. O BC considera como cartões ativos os que foram usados pelo menos uma vez nos últimos 12 meses. Por esse conceito, praticamente a metade dos 152 milhões de cartões de crédito existentes no país no fim de 2009 é considerada inativa pelo BC. Ou seja, 74,9 milhões estão sendo usados regularmente.

Na opinião do diretor de Política Monetária do Banco Central, Aldo Luiz Mendes, a crise econômica dos últimos dois anos pode ter contribuído para a diminuição do ritmo de crescimento dos cartões de crédito. Há ainda a hipótese de o aumento de parcelas estar relacionado com o nível de endividamento das famílias, que não têm dinheiro à vista para adquirir o bem. ;Também há a opção das facilidades dadas pelos lojistas, oferecendo, por exemplo, o mesmo preço para o pagamento à vista ou parcelado;, explicou.

Cancelamento
A inatividade do cartão também vale para a função de débito. Segundo o BC dos 221 milhões de cartão de débitos existentes em dezembro de 2009, apenas 57,7 milhões foram usados pelo menos uma vez no ano. Para Aldo Mendes, o elevado percentual desses cartões não usados pode estar relacionado, por exemplo, a contas-correntes encerradas, sem o correspondente pedido de cancelamento, ou à devolução dos cartões.

Em 2009, ainda de acordo com o BC, foram feitas 5,1 bilhões de transações com cartões de pagamento, sendo 2,8 bilhões na função crédito e 2,3 bilhões na de débito. Em relação a 2007, as transações de crédito aumentaram 28,7%, taxa de crescimento mais de duas vezes maior que a do incremento na emissão de cartões. Ou seja, os brasileiros aumentaram o volume de gastos por meio desse sistema. No mesmo período, o volume de transações de débito saltaram 40,3%, índice quatro vezes superior ao de elevação do total de cartões.

JUROS SOBEM E VÃO A 237% AO ANO
; Pelo terceiro mês consecutivo, os juros ao consumidor subiram, refletindo o aperto monetário capitaneado pelo Banco Central. Segundo a pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), em junho, a taxa média cobrada dos consumidores chegou a 6,86% ao mês. Os juros do cartão de crédito se mantiveram como os mais elevados do mercado, alcançando incríveis 237,42% ao ano. Os empréstimos em financeira ficaram em segundo lugar, com 222,80% anuais. A pesquisa identificou o crédito direto ao consumidor (CDC) como a opção mais barata: em parcelamentos de 12 meses, a taxa ficou em 34,17% ao ano.

Meirelles contra-ataca

Pressionado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, a colocar um freio na escalada dos juros, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles saiu do seu habitual silêncio sobre o assunto e declarou, pelo segundo dia consecutivo, que decisões futuras sobre a taxa básica de juros (Selic) serão tomadas com base em todos os dados disponíveis até a data da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que se reúne na próxima semana.

Anteontem, mais um indicador, desta vez o Índice de Atividade da Economia, medido pelo próprio BC, mostrou que a economia parou de crescer em maio, após 16 meses seguidos de expansão. Diante dos dados econômicos que confirmam a desaceleração da atividade, o próprio mercado financeiro começou a rever para baixo a previsão de alta dos juros até o fim do ano. Mas, para tentar abafar as críticas, Meirelles garantiu, mais de uma vez, que o Copom não toma decisões com antecedência.

;O Copom se reúne a cada 45 dias exatamente para levar em conta todos os dados relevantes que são divulgados entre as suas reuniões. Por isso, sempre deixamos claro que as decisões não são tomadas previamente;, disse. Questionado sobre a hipótese de o mercado estar ;atrasado; em relação às suas apostas para a reunião que acontece na próxima terça e quarta-feira, Meirelles preferiu não opinar. Afirmou apenas que esses prognósticos são de responsabilidade de cada instituição.

Vendas fracas
Ele também se negou a comentar a forte queda observada nos juros futuros, que aconteceu logo após a divulgação, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos dados das vendas do varejo, que vieram mais fracas ( 1,4%) do que o esperado (2%, na média). Também a inflação cedeu. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como referência para o sistema de metas inflacionárias, teve variação zero ; a expectativa do mercado era de alta de 0,11%. A produção industrial ficou estável em maio sobre abril, também contrariando as expectativas de crescimento de 1,5%. As previsões de inflação para 2010 e 2011 seguem, no entanto, acima do centro da meta de 4,5% perseguida pelo BC. (VC)

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