Economia

Tesouro é contra a alta dos juros

Secretário alerta para os riscos de novos arrochos monetários por parte do Banco Central comprometerem o crescimento do país

postado em 29/07/2010 07:57
Às vésperas de o Banco Central divulgar a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) explicando as razões para o aumento da taxa básica de juros (Selic) de 10,25% para 10,75% ao ano, na semana passada, o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, fez questão de marcar posição contrária ao arrocho. Para ele, é preciso ter muito cuidado com medidas que restrinjam o crescimento econômico, pois a acomodação da atividade no segundo trimestre do ano pode ter sido mais forte que o desejado, comprometendo os próximos meses. Segundo ele, a desaceleração exige ;atenção redobrada para evitar que a expansão da atividade fique abaixo do esperado;. Pelas contas do Ministério da Fazenda, o Produto Interno Bruto (PIB) de 2010 avançará entre 6,5% e 7%.

Augustin reforçou a tese defendida pelos ministros Guido Mantega (Fazenda) e Paulo Bernardo (Planejamento) de que o ciclo de ajuste monetário deve ser encerrado, sob pena de emperrar o crescimento do país. ;O incremento da economia está longe do superaquecimento, como alguns diziam. O que vemos é que um avanço não tão exuberante está acontecendo. Portanto, entendo que a atividade está no patamar que deveria estar e não devemos trabalhar com medidas para segurar mais a economia;, afirmou.

Secretário alerta para os riscos de novos arrochos monetários por parte do Banco Central comprometerem o crescimento do paísPara reforçar sua posição, o secretário invocou os números das contas públicas em junho. O superavit primário do governo (economia para o pagamento de juros) somou R$ 631,5 milhões, ante um deficit primário de R$ 518 milhões em maio. No entender de Augustin, a melhora do resultado decorreu da queda nas despesas com pessoal em R$ 128,5 milhões, além do recuo de R$ 2,3 bilhões nos gastos com custeio (funcionamento da máquina) ; a maior parte referente a sentenças judiciais.

Investimentos
Segundo o secretário, o resultado primário ;neutro; de maio e junho deve se repetir em julho. ;A atividade vem menos aquecida, o que deve se confirmar na arrecadação de julho (que deve crescer menos). O superavit forte foi em abril. Maio e junho foram neutros e julho não deve ter grande impacto, mas esperamos que seja positivo;, ressaltou. No acumulado do primeiro semestre, a economia feita pelo governo para o pagamento de juros somou R$ 24,8 bilhões, o equivalente a 1,46% do Produto Interno Bruto (PIB). Já os gastos com pessoal contabilizaram queda de 4,5%. As despesas com custeio da máquina, em contrapartida, aumentaram 7,8% de janeiro a junho, enquanto os custos de capital saltaram 51,2%.

Os investimentos, especificamente, avançaram 72% no ano, um recorde, segundo Augustin. ;Foi o maior avanço da série dos investimentos. E, provavelmente, os desembolsos atingirão um patamar histórico no ano;, completou. As liberações totalizaram R$ 20,6 bilhões, dos quais R$ 14,9 bilhões referentes ao que o governo chama de restos a pagar. São obras contratadas em 2009, mas pagas efetivamente apenas neste ano. Quando considerado apenas o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), os investimentos entre janeiro e junho totalizaram R$ 8,9 bilhões ; alta de 85% sobre o igual período no ano passado.

Emissão em reais

Confiante nos bons resultados da economia e no entusiasmo dos investidores estrangeiros em relação ao país, o Tesouro Nacional poderá retomar, até o fim do ano, a emissão de títulos em reais no exterior. A preferência, porém, ainda é por papéis dolarizados. Neste ano, foram feitos dois lançamentos de títulos, a segunda delas encerrada ontem. Foram captados, nas operações, quase US$ 1,6 bilhão.

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