Economia

Competentes, mas desvalorizadas

Mesmo com curso superior e capacitadas, mulheres ainda recebem 72% a menos que os homens. Por causa dos servidores, salários médios em Brasília são mais do que o dobro do país

Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 06/08/2010 08:03
A contratação de mulheres está em alta no mercado de trabalho. Elas são as preferidas das empresas, principalmente quando o nível de exigência implica em ter grau de instrução superior. O motivo, no entanto, não está relacionado ao bom desempenho na atividade. As mulheres, simplesmente, custam menos que os homens. O salário médio de trabalhadoras com curso superior completo é de R$ 2.919,99, enquanto que o ganho do sexo oposto, na mesma condição, chega a R$ 5.019,49 ; diferença de 72%. Nessa situação, uma empresa pode contratar três mulheres em vez de dois homens e ainda ter troco.

;As empresas estão contratando mais mulheres porque é mais barato;, reconheceu o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, ao divulgar ontem os dados de 2009 da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), a mais completa radiografia do mercado de trabalho brasileiro. Mas isso não significa que todas as mulheres, mesmo comprovadamente competentes, estão em condições salariais inferiores. Há, ainda que minoritariamente, empresas remunerando suas funcionárias bem acima da média de renda masculina. É o caso da Primavera Enxovais, que conta com 10 lojas no Distrito Federal.

Na loja de enxovais, Sueli (de branco) garante que elas ganham melhorSegundo a proprietária da rede, Sueli Ribeiro, todas as 60 vendedoras são mulheres. ;Em muitos casos, elas ganham mais que os maridos;, disse. Ela contou que a preferência pelas moças leva em consideração a própria cultura feminina, que está mais alinhada com o tipo de produto que vende. ;Desde criança elas já brincavam de casinha. É natural terem bom conhecimento de decoração. E a resposta dos clientes é muito boa quando são atendidos por elas;, ressaltou.

Disparidades
Como um retrato do país no mercado de trabalho, a Rais comprova a desigualdade no país. Homens em geral ganham mais do que as mulheres, independentemente do nível de escolaridade. Quanto mais baixa a escolaridade, mais baixo é o salário e mais alta é a rotatividade no emprego. A cor também é determinante. Mesmo entre as pessoas do mesmo sexo, os negros ganham menos que os brancos. A maior disparidade ocorre entre os rendimentos médios de negros e brancos com nível superior completo. Os salários médios dos negros representam 70,68% do rendimento dos brancos.

Outro dado relevante é a disparidade dos rendimento. Pela Rais, é no Distrito Federal onde se paga o maior salário médio do país. O brasiliense ganha R$ 3.445,06, três vezes mais que a renda de R$ 1.130,31, na Paraíba, e mais do que o dobro da média nacional, de R$ 1.595,22. O motivo, segundo o ministro do Trabalho, é o funcionalismo público da capital do país, que puxa a rendimento para cima.

Mas há um boa notícia. A Rais mostrou que vem crescendo a participação no mercado de trabalhadores mais velhos, portanto mais experientes. Embora em números absolutos eles estejam longe de ser o maior número, o crescimento de vagas foi superior a 7% (quase o dobro da média) entre os que têm mais de 50 anos no mercado de trabalho. Só no ano passado, 372.783 pessoas de 50 a 64 anos acharam emprego. A Rais provou ainda que poucos jovens vêm conseguindo ingressar no mercado de trabalho. Eles podem estar optando por permanecer mais tempo na escola, mas também são vítimas do preconceito das empresas porque não possuem experiência e, no geral, têm baixa qualificação.

Pior ano
Pelos dados da Rais, o Brasil criou, no ano passado, 1,766 milhão de empregos ; só entre os empregos formais do setor privado foram 995 mil ; uma variação de 4,48% em relação ao estoque de trabalhadores existentes em 2008. Foi o pior resultado desde 2003, bem inferior a 2007, quando o mercado de trabalho (incluindo o setor público) foi capaz de gerar 2,452 milhões postos com carteira assinada. Lupi explicou que o resultado menor de 2009 decorreu da crise econômica mundial, que começou no final de 2008 e se estendeu para o ano seguinte.

Com os dados do ano passado, o número de trabalhadores com vínculos formais no país atingiu 41,207 milhões. Cerca de 7,4 milhões de empresas declararam a Rais, das quais 3,224 milhões com empregados e 4,209 milhões sem empregados. O setor de serviços é o maior empregador do país. Ao final de 2009 contava com 13,235 milhões de funcionários. Em segundo lugar vem a administração pública, com 8,763 milhões de servidores e, em terceiro, o comércio com 7,692 milhões de empregados.

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