Economia

Casa própria fica mais cara

Metro quadrado sobe 5,10% no ano, muito além da inflação no período. Só em julho, o custo da construção no Centro-Oeste deu um salto de 2,26%, o maior avanço do país

postado em 07/08/2010 08:37
Quem está pensando em comprar a casa própria ou construir um imóvel pode preparar o bolso. Pelas contas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o valor do metro quadrado ficou 5,10% maior nos sete primeiros meses do ano, chegando, na média do país, a R$ 752,86 . E os sinais não são nada animadores: tudo indica que o avanço sobre o orçamento dos consumidores continuará a todo vapor, pois tanto os preços do material quanto o custo da mão de obra estão apontando para cima.

Somente em julho, o Índice Nacional da Construção Civil (Sinapi) deu um salto de 0,74%, um exagero ante a variação de 0,01% da inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Para quem mora no Centro-Oeste, o esforço financeiro ficou maior: o custo da construção na região apresentou alta de 2,26% no mês passado, a maior do Brasil, acumulando, no ano, elevação de 7,61%, mais do que o dobro da variação do IPCA no mesmo período, de3,10%.

De acordo com o gerente do Sistema Nacional de Pesquisa do Sinapi, Luiz Fernando Fonseca, a mão de obra foi o custo que mais contribuiu para o encarecimento do metro quadrado dos imóveis no mês passado. ;Em junho, os materiais tiveram a maior alta do ano, de 0,53%, mas, em julho, o reajuste foi um pouco menor, de 0,43%. A mão de obra, por sua vez, havia subido 0,83% em junho e avançou 1,06% no mês passado;, afirmou. Para ele, os salários maiores são resultado dos acordos coletivos nos estados de Mato Grosso, Paraná e Acre. Mas analistas avaliam que não se trata de um fenômeno pontual.

;É a lei da oferta e da demanda. Sem dúvida, a construção é um dos setores mais aquecidos da economia e, como há muita contratação de funcionários e fornecedores, o custo da mão de obra só tende a aumentar;, explicou o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), João Carlos de Almeida. Segundo ele, a alta observada no Centro-Oeste em junho foi fruto do aquecimento do mercado. No Distrito Federal, a alta do Sinapi ficou abaixo da registrada em Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. No entanto, o custo do metro quadrado na capital do país ainda é o mais alto da região: R$ 776,08 frente os R$ 752,86 da média nacional.

Baixa renda
Segundo o vice-presidente do Sinduscon-DF, Júlio César Peres, a tendência é de que o encarecimento da mão de obra fique mais evidente ao longo do ano. Por um simples motivo. ;A demanda no mercado imobiliário vai se acentuar;, afirmou. No seu entender, o programa do governo Minha Casa, Minha Vida, voltado, principalmente, para a população de baixa renda, gerou um índice alto de construções em cidades do Entorno, o que faz com que os trabalhadores da construção que moram nessas localidades optem por obras próximas às suas residências. Com isso, a escassez de mão de obra nas regiões mais nobres da capital do país seja ainda maior.

O salário/hora calculado segundo o piso da categoria em Brasília é de R$ 3,82, um patamar considerado elevado, embora abaixo do verificado em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. No entanto, na prática, o valor pago aos trabalhadores da construção civil pode acabar sendo muito mais alto. A razão é que falta mão de obra qualificada. ;Há pelo menos um ano o setor sofre com a falta de gente capacitada. Falta carpinteiro, azulejista, armador. E ainda temos muitas obras para concluir e muitas para iniciar no DF. Hoje, são 66 mil empregos no setor e, daqui até o fim do ano, o mercado precisará absorver mais cerca de mil trabalhadores;, calculou Peres.

Crédito farto
Outro fator que encarece o custo da construção civil é a oferta maciça de recursos para financiamento da casa própria. A Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) elevou de R$ 50 bilhões para R$ 57 bilhões a projeção de contratações de crédito imobiliário neste ano apenas com recursos da caderneta de poupança. No primeiro semestre, houve incremento de 77% nos financiamentos desta natureza. ;A estabilidade econômica, que permite o controle da renda e o aumento do emprego, combinada à grande oferta de crédito aos mutuários e aos financiamentos às construtoras contribui para que o mercado da construção se mantenha aquecido;, complementou o vice-presidente do Ibef.

Aluguéis sobem 8,3% no ano

Mesmo quem já realizou o sonho da casa própria não está tendo sossego. Manter o imóvel está cada vez mais caro, como constatou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em Brasília, esse quadro é ainda mais evidente. De janeiro a junho, os gastos com habitação aumentaram 4,30%, quase o dobro da média do país (2,74%). Essa disparidade se torna maior para aqueles que pagam aluguel. Na capital federal, os contratos foram reajustados em 8,29% ante os 3,67% da média nacional. ;No Distrito Federal, o aluguel foi o item que mais pesou no grupo habitação;, disse Irene Machado, pesquisadora da Coordenação dos Índices de Preços do IBGE.

O orçamento dos brasileiros só não está indo para o buraco graças aos preços dos alimentos e dos artigos de vestuário, que estão deflação. No mês passado, os produtos que vão à mesa da população ficaram, na média, 0,76% mais baratos. E, por causa das liquidações de fim de estação, roupas e sapatos puderam ser encontrados nas lojas a valores médios 0,04% menores do que em junho.

Taxa de juros

Os consumidores tiveram, porém, que arcar com o aumento de 14,91% no leite no acumulado do ano. Já o feijão carioca teve reajuste de 79,11%, os lanches fora de casa subiram 4,20% e as carnes, 3,17%. ;O preço dos alimentos está caindo, mas continua alto. Não houve recuperação nos mesmos níveis da alta observada no início do ano;, disse a técnica do IBGE.

Com os alimentos controlados, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou julho em 0,01%, praticamente repetindo junho. Assim, nos últimos 12 meses, a taxa oficial cravou 4,6%, quase o centro da meta de inflação definida pelo governo (4,5%). Com isso, os analistas acreditam que o Banco Central não elevará mais os juros básicos da economia (Selic). Na previsão do ministro da Fazenda, Guido Mantega, o IPCA fechará o ano entre 5% e 5,2%, acima do centro da meta, mas dentro da banda de até dois pontos percentuais. ;Nós deveremos terminar o ano com a inflação sob controle e com um maior crescimento da história recente do país, um feito, porque também não adianta você ter inflação baixa e não ter crescimento;, afirmou. (MM)

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