Economia

Modalidade em alta usa casa em garantia

Mudança na lei que permite a retomada mais ágil do bem financiado contribui para redução das taxas de empréstimo

Vera Batista
postado em 22/08/2010 09:46
As linhas de crédito com garantia em imóvel começam a atrair a atenção das classes emergentes. Quem já quitou a casa própria pode pegar dinheiro emprestado, usar como quiser e ainda pagar em suaves prestações, com juros baixos.

Uma tentação e tanto! As taxas cobradas são de aproximadamente 0,79% ao mês, ou 9,95% ao ano, mais a correção da inflação pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M). Dependendo do valor emprestado, podem chegar de 2% a 2,5% ao mês. Umas instituições estabelecem o valor mínimo em R$ 100 mil e o máximo em R$ 800 mil, com prazos entre 24 e 72 meses para pagar. Outras não têm limite algum. Mas todas fazem detalhado cálculo para que o cliente comprometa no máximo 50% do valor do imóvel e nem um centavo a mais.

A liberação do dinheiro é rápida: de 10 a 30 dias. Mas o que os credores não explicam é quanto vão cobrar, em caso de eventual inadimplência. A Brazilian Mortgages (BM), pioneira no Brasil no segmento de alienação fiduciária, com foco na classe C, declarou que busca sempre a negociação com o cliente, para evitar qualquer perda para ambas as partes, mas admite que o endividado pode perder o teto.

Residência pode ser dada como caução para financiamento imobiliário;A retomada do imóvel, prevista em contrato, é um caso muito extremo e que ainda não vivenciamos. Entretanto, o contrato estabelece que o imóvel será vendido em leilão e o valor apurado será utilizado para o pagamento da dívida; a diferença (se houver) será destinada ao proprietário do imóvel;, disse, em nota, a BM. A retomada do imóvel ficou mais ágil, a partir de 2000, quanto entrou em vigor a Lei 9.514/97.

Linhas diferentes
A principal diferença entre a hipoteca e a alienação fiduciária ou home equity é o tempo de retomada do bem de quem ficou inadimplente com o financiamento. ;Antes, o credor demorava cinco anos ou mais para retomar o imóvel, hoje, não ultrapassa um ano;, explicou Vitor Bidetti, diretor da BM. No primeiro caso, a pessoa oferecia o imóvel de sua propriedade como garantia. Agora, o credor é o dono do imóvel enquanto o empréstimo estiver em vigor. A garantia atraiu as instituições financeiras para o crédito imobiliário.

;Isso foi muito bom. Antes, a classe média só tinha acesso ao crédito consignado ou ao financiamento de veículos;, lembrou Gabriel Pentagna Guimarães, vice-presidente do Banco Bonsucesso. Ele acha que vale à pena expandir esse mercado. ;Esse é o produto do futuro. Comparado com os juros do cartão de crédito ou mesmo do CDC, a taxa ainda é muito barata;.

Na avaliação de Bidetti, com o aquecimento econômico, o crédito anda mais farto. Mas no segmento imobiliário ainda representa 3% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto no México é de 10% e no Chile, de 15% do PIB.

Sistema regulado

O home equity foi muito usado nos Estados Unidos e é o principal responsável pela crise econômica que abalou o mundo inteiro. Apesar do mesmo nome, o produto no Brasil funciona de forma diferente. ;Nos EUA, as pessoas podiam dar o mesmo imóvel duas ou três vezes como garantia, esperando uma valorização eterna. Em nosso modelo, a garantia não ultrapassa 50% do valor do imóvel quitado;, explica Gabriel Pentagna.

No Brasil, o sistema é conservador e órgãos reguladores do mercado, como Banco Central e Comissão de Valores Mobiliários (CVM), cobram explicações pelos mínimos atos em falso, lembrou Bidetti. Dois anos após a crise, os EUA ainda buscam desesperadamente ideias para salvar suas hipotecas e resolver um dos maiores e mais complicados problemas de política econômica do país. (VB)

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