Economia

Consumo em alta estimula fusões

postado em 16/10/2010 08:00
O Brasil deve atingir um recorde até dezembro e ultrapassar o número de 721 fusões que aconteceram em 2007. Pesquisa da PricewaterhouseCoopers (PwC) aponta que até o fim de 2010 terão ocorrido cerca de 800 anúncios de empresas que unificaram suas atividades, criando companhias maiores. De janeiro a setembro, 564 transações já foram divulgadas. É o melhor resultado nos últimos oito anos. Diferentemente do cenário de incertezas que dominava as eleições de 2002, este ano os investidores não demonstram preocupações com a sucessão presidencial e têm confiança na economia brasileira.

Na opinião do sócio da PwC, Alexandre Pierantoni, a robustez, a estabilidade da economia do país e o potencial de crescimento diante da existência de mais 30 milhões de consumidores - que ascenderam à classe média - com capacidade de fazer dívidas são os principais motivos para o aquecimento das fusões e das aquisições. "O Brasil deve registrar um Produto Interno Bruto (PIB) de mais de US$ 2 trilhões em 2010, com 60% deste resultado decorrente do crescimento de setores impulsionados pelo consumo interno. Essa demanda traz oportunidades de consolidação em áreas como alimentação, saúde, educação e varejo", diz.

O executivo explica que a crise de 2008 trouxe a necessidade de redirecionamento de ofertas para o mercado interno. Empresas de atuação regional começaram a caminhar para o mercado nacional e mais de 80% das transações que tiveram suas receitas divulgadas ocorreram entre companhias pequenas e intermediárias, com um valor médio de US$ 50 milhões por negócio. A internacionalização das empresas brasileiras, impulsionada pelo crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), também deu fôlego às fusões e das aquisições ; fenômeno que pode ser observado em setores como o agronegócio, mineração, tecnologia da informação e alimentos.

Preços
O sócio da consultoria KPMG Luis Motta explica que quando ocorre a união entre empresas são avaliadas as possibilidades de sinergias, proporcionando ganhos de escala e melhores preços ao consumidor. "As classes C e D estão despertando o interesse de grandes grupos. Existe grande demanda por educação e habitação", exemplifica.

Entretanto, a pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV) Adriana Hernandes Perez alerta que abusos de poder econômico podem acontecer nessas negociações e acredita que o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC), responsável por analisar as fusões no país, precisa de melhorias. "O SBDC não conta com muitos recursos, o que influi sobre a qualidade das decisões. Eles têm feito um trabalho heroico com a realidade atual. O consumidor deve se manter informado e prestar atenção para não ser enganado. Os preços cobrados não podem ser abusivos", recomenda.

Capital de risco
Segundo a Thomson Reuters, as fusões anunciadas nos últimos 12 meses podem movimentar mais de US$ 2,3 trilhões. No Brasil, a participação de fundos de investimento de capital de risco - chamados de private equity - nas negociações também cresceu: em quatro anos, eles ampliaram sua presença de 11% para 40% das transações.

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