Economia

Com mais estudo, PIB pode disparar

postado em 12/12/2010 08:30
Apesar de todos os avanços conquistados na educação nos últimos anos, o Brasil se ressente da péssima qualidade da sua mão de obra. O pífio resultado apresentado pelo país no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês) revela o longo caminho a ser percorrido para se ter profissionais qualificados e competir em condições de igualdade com nações desenvolvidas. O Brasil vive hoje o que se chama de pleno emprego, com a taxa de desocupação em 6,1%. Mas há mais de 2 milhões de desempregados nas seis principais regiões metropolitanas do país e, entre os que estão no mercado formal, há uma disparidade enorme nos rendimentos.

Se não reverter esse quadro rapidamente, mais demorada será a caminhada do país rumo à condição de potência econômica. Com melhor nível de educação, o Produto Interno Bruto (PIB) poderia crescer 6% ao ano, sem pressionar a inflação, no lugar dos 4,5% apontados pelos especialistas como teto para a expansão da atividade em condições sustentáveis. ;O Brasil ainda não prioriza o tema como deveria. O resultado é de longo prazo, não vem em cinco ou em seis mandatos de presidentes;, afirma Cristiano Souza, economista do Santander.

"Depois de 15 dias de trabalho, fui promovida a supervisora e passei por mais dois cargos. A qualificação fez toda a diferença. Entrei na empresa ganhando R$ 1 mil e, hoje, meu salário aumentou 10 vezes"
Ana Carolina Marangoni, gerente de marketing
Dos 65 países analisados no estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil ficou em 53; lugar, muito próximo do Cazaquistão e da Indonésia. A China foi a primeira colocada, seguida de Hong Kong, Finlândia, Singapura, Coreia e Japão.

Armadilha
O nível de conhecimento apresentado pelos estudantes, na avaliação do professor do Departamento de Economia da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em economia da educação Ricardo Madeira, é uma armadilha para o futuro. ;A situação é alarmante. Se temos crianças que não sabem ler, criamos problemas para os próximos 30 anos, quando elas vão estar no mercado de trabalho;, alerta.

A professora de educação da Universidade de Brasília (UnB) e conselheira Nacional de Educação Regina Vinhaes Gracindo observa que a maior parte dos países que apresentaram bom desempenho no Pisa tem um PIB per capita acima de US$ 6 mil. ;Esse é um fator importante, mas não é o único. A questão educacional é tão complexa que, para transformá-la, precisamos fazer uma verdadeira guerra;, observa. Regina destaca, por exemplo, o PIB per capita da Coreia, hoje de US$ 20,1 mil, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). Outro exemplo é a Finlândia, sempre nos primeiros lugares nos estudos, cujo PIB per capita ultrapassa US$ 44 mil.

Enquanto o produto interno bruto per capita anual da China saltou 344% entre 2000 e 2010, de US$ 945,5 para US$ 4,2 mil, o do Brasil cresceu 181%, de US$ 3,7 mil para US$ 10,4 mil. ;O problema não é só a quantidade investida em educação, mas a qualidade da aplicação. Hoje, destinamos cerca de 5% do PIB para o setor. Não vamos conseguir melhorias se não elevarmos esse número para, no mínimo, 7%;, defende Regina. ;Até hoje, nenhum país se desenvolveu sem investir na formação desde o ensino básico. Precisamos avançar nessa agenda com esforço do governo, das famílias e da sociedade;, observa o diretor de operações da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Rafael Lucchesi.

No fim da lista
O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês) avaliou 20 mil alunos de todos os estados e do Distrito Federal. Eles ficaram com 401 pontos, abaixo da média de 496 pontos dos 65 países participantes. A prova é aplicada a cada três anos pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e avalia o conhecimento de estudantes de 15 anos de idade em três áreas do conhecimento. A melhor pontuação foi obtida em leitura (412 pontos), seguida por ciências (405) e matemática (386). Desde 2000, o maior avanço foi em matemática e o pior, em leitura. Brasília teve a maior nota (439 pontos), classificação que a colocaria com uma educação igual à do Chile. Em todo o mundo, foram avaliados 470 mil alunos. Apesar de estar na rabeira, o governo brasileiro comemorou a posição, pois foi o terceiro país com a maior evolução no programa.

Salário 20% maior

Dados da Fundação Getulio Vargas (FGV) revelam que a remuneração dos profissionais brasileiros pode aumentar 15% por ano de estudo. Mesmo com jornadas de trabalho similares, as diferenças salariais entre os que têm e os que não têm formação podem chegar a R$ 4 mil. ;Os números variam muito. Conforme as pesquisas, os percentuais vão de 8% a 20%. Mas, além da quantidade de anos no banco da escola, é preciso ver a qualidade do ensino para saber o retorno que essa pessoa vai oferecer para a produtividade do país;, explica o especialista Ricardo Madeira.

A gerente de marketing da Cygnus Imóveis Ana Carolina Marangoni, 38 anos, é um exemplo de como o estudo impulsiona a carreira e os ganhos. Ela começou a trabalhar aos 16 anos em um banco e, após 10 anos de serviços prestados, incluindo a passagem por outra instituição financeira, concluiu curso superior em administração e saiu como gerente de conta. Em busca de desafios, foi parar numa empresa de comunicação como operadora de telemarketing e fez duas especializações na área. ;Depois de 15 dias de trabalho, fui promovida a supervisora e passei por mais dois cargos. A qualificação fez toda a diferença. Entrei na empresa ganhando
R$ 1 mil e, hoje, meu salário aumentou 10 vezes;, comemora.

O açougueiro João Batista Penha Serra, 26 anos, encontra-se em situação oposta. Desempregado há um mês, ele atribui a dificuldade de encontrar um novo posto à falta de um curso técnico ou superior. ;Eu ganhava apenas um salário mínimo e, mesmo assim, está difícil me recolocar por conta da falta de estudo. Pretendo fazer uma capacitação na área de informática para voltar ao mercado;, diz.

No Brasil, é de 7,1 anos a média da escolaridade da população com mais de 25 anos de idade. ;A educação e o crescimento econômico formam um ciclo. Eles se retroalimentam. Temos avanços, mas precisamos melhorar a qualidade do ensino em todas as áreas;, diz Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC). (CB)

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