Economia

Priorizando o turismo, Índia investe US$ 1 tri em obras de infraestrutura

postado em 06/02/2011 09:20
Enviado Especial

Nova Délhi e Mumbai ; O temor de repetir o Brasil das últimas duas décadas e interromper o rápido processo de crescimento econômico faz o governo indiano pisar no acelerador dos investimentos em infraestrutura. Nos próximos cinco anos, a promessa é destinar US$ 1 trilhão ; o dobro do registrado no quinquênio anterior ; para a construção e a melhoria de estradas, portos, aeroportos e saneamento básico e, sobretudo, para geração e distribuição de energia elétrica. Com avanço econômico entre 8% e 9% ao ano, a Índia é extremamente dependente de carvão para abastecer casas e empresas. Mas, além de ser poluente, o mineral não é suficiente para atender a demanda. Pelo menos metade das moradias, especialmente as do interior do país, onde estão quase 70% da população, vive às escuras.

O majestoso Taj Mahal recebe 2,7 milhões de visitantes por anoA Índia tem dado provas, porém, de que rompeu definitivamente com o atraso. Desde 2002, quando foi inaugurado, o metrô da capital indiana, Nova Délhi, com mais de 16 milhões de habitantes, já transita por 161 quilômetros de trilhos, quase o triplo do tamanho da malha de São Paulo, que, em quatro décadas, tem apenas 69 quilômetros de extensão. Os dois maiores aeroportos do país, o de Délhi e o de Mumbai, foram construídos em tempo recorde e estão entre os mais modernos do mundo. Ambos estão sob administração privada, pois a prioridade do governo é levar serviços básicos à população e garantir a infraestrutura das grandes cidades, que, nos próximos anos, receberão pelo menos 300 milhões de migrantes do campo em busca de trabalho.

O capital privado, por sinal, será vital para que a Índia se mantenha nos trilhos. ;Estamos de portas abertas para investimentos produtivos;, diz Vishnu Prakash, porta-voz do Ministério de Relações Exteriores. A abertura econômica do país começou em 1991, com Manmohan Singh, então ministro das Finanças, hoje primeiro-ministro indiano. Com a China e o Brasil, a Índia forma o triunvirato de nações emergentes que disputam a atenção dos investidores estrangeiros. Pelas contas de Prakash, em 2010, o país recebeu US$ 37 bilhões de fora do país, volume que deverá crescer pelo menos 30% neste ano.

Tantos avanços, contudo, não impendem o governo indiano de manter rígido controle sobre setores considerados estratégicos, como o comércio varejista. Apesar do interesse de grandes multinacionais em disputar um dos mercados consumidores mais promissores do planeta ; estima-se que a classe média indiana some 300 milhões de pessoas, quase três vezes a brasileira ;, elas estão proibidas de abrirem unidades na Índia. A justificativa é de que os gigantes estrangeiros massacrariam os mais de 5 milhões de pequenos comerciantes, donos de armazéns e quitandas, muitos operando na informalidade.

As primeiras barreiras foram quebradas recentemente pelo francês Carrefour e pela norte-americana WalMart, que abriram centros atacadistas em parceria com empresários indianos. Esse movimento é um sinal de que a redução das barreiras tanto para o varejo quanto para os setores de mineração, portos, financeiro e segurador é questão de tempo em um país que precisa urgentemente criar empregos.


10 milhões de empregos por ano

Nova Délhi e Mumbai ; A ânsia da Índia pelo crescimento econômico rápido e sustentado é mais do que justificada. Nos próximos 20 anos, pelo menos 200 milhões de postos de trabalho terão de ser criados para absorver os jovens que serão despejados no mercado. Sem oportunidades, o risco de essa população mergulhar na marginalidade é enorme, uma bomba para um país que já convive com o fantasma do terrorismo baseado no Paquistão. A taxa de desemprego atinge 10,8%, o dobro da brasileira.

Mas não é só: 92% dos trabalhadores estão na informalidade, afirma Anjan Roy, economista-chefe da Federação das Indústrias da Índia (FICCI, na sigla em inglês). ;Será preciso um enorme esforço para mudar essa realidade. Não é possível fazer previsões mostrando a Índia como potência, mas com um mercado de trabalho totalmente informal;, diz. Tal realidade, acredita, empurrará o país para uma reforma das leis trabalhistas, com incentivos às empresas para a contratação de mão de obra.

Presidente da Comissão de Orçamento do Congresso indiano, Montek Singh Ahluwalia admite a necessidade de flexibilização das leis trabalhistas para reduzir o desemprego e incrementar a inclusão social. Mas, a seu ver, para que as mudanças ocorram será preciso um amplo acordo com os sindicatos de trabalhadores, avessos à qualquer tipo de reforma. Enquanto o consenso não vem, Hyat Khan, 56 anos, agradece todos os dias por ter tido acesso a um financiamento bancário que lhe permitiu comprar o carro que usa como táxi.

A mesma sorte não teve Soni (que não revela o sobrenome), 63 anos. Ele luta para conseguir o dinheiro da comida todos os dias como condutor de Riksha, uma espécie de bicicleta também usada como táxi, que disputa espaço no caótico trânsito da capital indiana. ;A situação está cada vez mais difícil para nós. A concorrência com táxis modernos e os Tuk-Tuks (motocicletas com uma cabine que carrega até três pessoas, além do motorista) não para de crescer;, lamenta.

No lado moderno da Índia, o da tecnologia, o quadro é bem diferente. Com as atividades em expansão ; o setor movimenta US$ 74 bilhões por ano, dos quais US$ 60 bilhões são exportados ;, faltam trabalhadores. As empresas estão sendo obrigadas a fazer plantão nas universidades para recrutar mão de obra logo no início dos cursos. ;A tecnologia será cada vez mais demandada no mundo moderno. Por isso, o aumento dos investimentos em educação será fundamental;, diz Som Mittal, presidente da Associação das Empresas de Serviços e de Sotwares (Nasscom).


Consumistas e poupadores


; A classe média indiana ; quase 300 milhões de cidadãos ; não economiza. Tanto que quase 700 milhões de aparelhos de celulares já estão funcionando no país e 18 milhões, em média, são habilitados a cada mês. Mas os mesmos indianos têm a cultura da poupança. O dinheiro reservado para as despesas futuras representam, nos cálculos da Bolsa de Valores de Bombaim (nome antigo de Mumbai), equivale a 34,3% do Produto Interno Bruto (PIB) da Índia. Quase 5% da população aplicam em ações das mais de 5 mil empresas listadas no mercado.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação