Economia

Queda da importação de aço preocupa

Apesar de um recuo na invasão do produto do exterior, as usinas nacionais temem prejuízos com a entrada do metal a baixo custo

postado em 27/02/2011 09:12
Enfraquecimento da moeda da China frente ao dólar impulsiona vendas de fabricantes asiáticos ao BrasilA queda nas importações de aço no começo de 2011 foi insuficiente para tranquilizar os fabricantes no país. Após a invasão de produtos siderúrgicos em 2010, que atingiu a marca recorde de 21% da demanda interna ante uma média histórica de 5%, eles esperam agora reações da Justiça e do governo brasileiro contra %u201Cartificialismos de preços%u201D dos importados. Diante de estoques elevados das distribuidoras e dos clientes nacionais neste trimestre, analistas divergem sobre uma provável tendência de alta nos preços no mercado doméstico a partir de abril, em razão do recuo da concorrência. Aos olhos do presidente do Instituto Aço Brasil (IABr), Marco Polo de Mello Lopes, dificilmente 2011 reeditará o conjunto de fatores que levou ao salto na importação de aço do ano passado. A combinação de câmbio valorizado, subsídios de governos estrangeiros, excesso de oferta internacional e isenções fiscais de estados reduziu lucros de siderúrgicas locais e proporcionou a maior abertura para o exterior desde os anos 1980. %u201CO volume de 6 milhões de toneladas importadas no ano passado era, até então, algo inimaginável%u201D, comenta. Distorções Para Germano Mendes de Paula, professor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e especialista em siderurgia, a presença dos aços importados já %u201Cmudou de patamar%u201D. Ele também não acredita na repetição de percentuais como os do ano passado, mas acha difícil o país voltar aos níveis históricos. O tamanho das perdas das empresas nacionais do setor depende, na sua avaliação, de vários fatores internos e externos. No mercado internacional, os preços do aço têm subido como resposta aos custos maiores das siderúrgicas com matérias-primas, mas o quadro mais claro depende do comportamento da demanda. %u201CA atual crise no Oriente Médio, com impacto nos preços do petróleo, torna essas previsões ainda mais difíceis%u201D, diz Mendes de Paula. Lopes lembra que ainda paira insegurança sobre projetos de novas usinas, diante de um cenário comercial em que preços externos chegam muito abaixo do custo de produção local. Os prejuízos para as siderúrgicas refletem, segundo ele, problemas conjunturais e não estruturais, mas contribuem com a tese de risco de uma desindustrialização, com efeitos sobre toda a cadeia produtiva. Para piorar, o IABr pede na justiça a revisão de benefícios fiscais considerados ilegais, que reduziram impostos estaduais sobre o aço importado, de 14% para 2%, em média. Exportações O avanço das importações está concentrado nos produtos das siderúrgicas asiáticas, lideradas pela China. %u201CA valorização cambial de 45% nos últimos meses se somou aos efeitos do iuan desvalorizado%u201D, resume o presidente do IABr. O momento atual de mercado reflete compras estocadas para mais de quatro meses, realizadas no fim de 2010. %u201CAchamos que as distorções do cenário não mudaram, mas acreditamos em reações do governo, que já mostra preocupação%u201D, diz Lopes. Neste ano, o volume das exportações deverá ficar acima da média e a expectativa de uma elevação de preços, se ocorrer, vai impactar mais as redes de distribuidoras via redução nos descontos dados pelas siderúrgicas do país. Para contrabalançar, a produção brasileira de aço bruto para 2011 está estimada em 33,1 milhões de toneladas, um avanço de 25% sobre o ano passado. DUAS PERGUNTAS PARA Augusto Espeschit de Almeida, presidente para as Américas Central e do Sul do Grupo ArcelorMittal Do ponto de vista da concorrência, num momento em que o produto importado perde fôlego, quais serão os rumos do mercado brasileiro de aços? Vejo o Brasil como um mercado promissor e estamos nos preparando para acompanhar um país que vem crescendo de forma sustentada. Ao mesmo tempo, há um aumento de custos com matérias-primas nos pressionando a dar passos curtos, mas a performance brasileira se diferencia do resto do mundo. Não tenho nenhuma ilusão de que a concorrência está parada. A Usiminas confirmou estar retirando descontos concedidos aos preços, diante de um mercado que se recuperou. A ArcelorMittal seguirá essa linha? Ainda não estamos trabalhando com retirada de descontos ou negociação de repasse de custos. O mercado é que vai ditar essas condições. Temos de tomar muito cuidado, hoje, no Brasil, com a questão da defasagem cambial que nos impõe algumas desvantagens. O custo Brasil torna-se mais acentuado e isso nos induz a buscar cada vez mais processos produtivos competitivos.

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