Economia

Pão de Açúcar se junta ao concorrente Carrefour

Rosana Hessel
postado em 29/06/2011 08:00
O Grupo Pão de Açúcar (CDB) quer controlar o varejo brasileiro e, para isso, vai se juntar ao concorrente, o Carrefour. Depois de partir para a consolidação nos dois últimos anos em áreas em que tinha presença fraca, como eletroeletrônicos e móveis, comprando os gigantes Casas Bahia e Ponto Frio, o conglomerado de Abílio Diniz dá um passo em busca do monopólio do mercado de alimentos. Para assumir os negócios da rede francesa no Brasil, o empresário precisará de 2,5 bilhões de euros (R$ 5,7 bilhões), dos quais até 2 bilhões de euros (R$ 4,6 bilhões) poderão ser liberados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Apesar da forte concentração do mercado, que pode prejudicar os consumidores, o governo vê com bons olhos a junção do Pão de Açúcar com o Carrefour, por temer a desnacionalização do setor de varejo. Com 36,9% do capital da rede de Abílio Diniz, o francês Casino tem a prerrogativa de assumir o controle acionário da varejista brasileira a partir de 2012. Não à toa, o presidente do Casino, Jean-Charles Naouri, divulgou nota repudiando o casamento do rival Carrefour com o Pão de Açúcar. Ele, que se recuou a receber Diniz em Paris, considerou as negociações um golpe.

Na França, o Carrefour informou que recebeu a oferta de compra do Pão de Açúcar por meio da Gama, empresa do Banco BTG Pactual, de André Esteves. O negócio resultará em um grupo com domínio de 27% do varejo de alimentos e faturamento anual de R$ 67,9 bilhões. Após a confirmação do negócio, as ações da rede de Abílio Diniz dispararam na Bolsa de Valores de São Paulo, chegando a subir quase 15% na máxima. Os papéis encerraram o dia a R$ 73,25, com alta de 12,64%, enquanto o Ibovespa, principal índice do pregão paulista, subiu apenas 1,77%. Já os papéis da Casino despencaram 5,61% na França, para 62,20 euros.

A operação, que terá de ser avaliada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), dará origem ao Novo Pão de Açúcar (NPA), do qual Abílio Diniz será o maior acionista.

O BTG Pactual, que também ficará com um naco da empresa, prometeu desembolsar pelo menos 500 milhões de euros (R$ 1,1 bilhão) no negócio, bastante complexo, por envolver várias etapas.

Está prevista, ainda, a emissão de títulos de R$ 1,15 bilhão da Novo Pão de Açúcar e a capitalização de R$ 3,45 bilhões na CBD, que será dona de 100% das operações do Carrefour no Brasil.

Logo, a participação do Casino deverá encolher. O grupo francês ampliou recentemente a sua fatia na rede brasileira, de 33% para 36,9%, passando a ter o controle da Wilkes, holding criada em 2006 e que é dona de 66% das ações ordinárias (com direito a voto) do Pão de Açúcar. No acordo inicial, nenhum dos sócios poderia fazer qualquer negociação de fusão sem o consentimento do outro.

Estratégia dupla
Para o professor e consultor em estratégia empresarial Marcos Morita, a compra do Carrefour pelo Pão de Açúcar era inevitável, pois os franceses não estavam com resultados satisfatórios no país. Apesar de parecer estranha, o consultor acredita que a movimentação de Diniz teve duplo resultado. ;Ele vai aumentar o tamanho de sua empresa no Brasil e terá parte do capital do Carrefour na França;, disse. Na opinião de Morita, os consumidores podem sair prejudicados com a negociação. ;A gente sabe que essas compras, geralmente, acabam resultando em preços mais caros para a população. Isso vai acontecer especialmente na região Sudeste, que é onde existem mais lojas das empresas;, afirmou.

Alcides Leite, da Trevisan Escola de Negócios, também considerou a fusão inevitável. ;Aliás, esse movimento de consolidação do mercado é uma tendência natural e permitirá ao Pão de Açúcar ganhar mais força internacional. Resta saber se haverá a proteção da concorrência e a preservação dos empregos;, completou. As demissões, contudo, serão inevitáveis. O sócio do BTG, Claudio Galleazi, informou que entre 5% ou 7% das lojas próximas serão fechadas. Um estudo feito pela Tendência estima que a redução de custos com a fusão chegará a R$ 1,6 bilhão.

Informações desencontradas
A dificuldade para entender a compra do Carrefour pelo Pão de Açúcar é tanta que nem mesmo o comunicado das duas empresas tinha dados iguais. A divergência começou com as participações de cada grupo na empresa que surgirá da operação, a Novo Pão de Açúcar. Enquanto um comunicado do Carrefour dizia que os sócios do Pão de Açúcar teriam 78,6% e o Banco BTG Pactual junto com BNDES, 21,4%; o aviso ao mercado do grupo brasileiro informava que os acionistas originais da CBD teriam 78,84% da Novo Pão de Açúcar e o BTG e o BNDES, 21,16%.

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