Economia

Infraero deve faturar R$ 1,15 bi com a concessão de espaços nos aeroportos

postado em 15/08/2011 07:23
Amplos ambientes climatizados e de arquitetura moderna, por onde circulam todo ano 160 milhões de consumidores com razoável poder de compra, constituem, virtualmente, o maior shopping do país. Para tornar essa condição mais lucrativa, os 67 aeroportos administrados pela Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) estão sendo reorganizados com investimentos em marketing e, sobretudo, por uma agitada renovação da maior parte de suas quase 4 mil concessões comerciais.

Os estabelecimentos licitados desde 1998, que formam um leque variado de lojas ; de engraxataria a restaurante de luxo ;, são alvo da disputa por empresários atentos ao rápido crescimento do tráfego aéreo brasileiro, num ritmo anual de 11% (o maior do planeta), e às oportunidades em locais com funcionamento 24 horas.

A Infraero adotou a estratégia de incrementar seus espaços comerciais, visando reforçar o caixa em harmonia com o fluxo de passageiros. ;Queremos oferecer ao frequentador dos aeroportos todas as opções de consumo que ele espera ter, mas sem prejudicar atividades operacionais, que são prioridade;, esclarece Geraldo Neves, diretor comercial da estatal. A companhia faturou R$ 900 milhões em 2010 com aluguel e participações em receitas dos pontos concedidos para mídia, varejo e serviços. A meta é crescer 22% este ano, para R$ 1,15 bilhão. Hoje, 31% do faturamento vem dessas concessões.

Neves ressalta que o espaço ocupado pelo varejo e pelos serviços está limitado a 15% da área total, podendo ser reduzida, a qualquer momento, em função da necessidade do embarque e do desembarque. É o caso de Brasília, cuja acomodação de usuários avançará este ano sobre lojas e restaurantes.

Com o objetivo de dar mais transparência e competição às licitações, as renovações estão sendo feitas por meio de leilões eletrônicos, nos quais ganha quem propuser o maior valor para explorar o negócio. Além disso, o portal www.infraero.gov.br exibe mapas detalhados com a situação de cada uma das concessões ao longo do país, com prazos e valores envolvidos. ;Até o Tribunal de Contas da União elogiou a iniciativa;, ressalta Neves.



Copa do Mundo
O auge dessa competição deverá ser os contratos que coincidem com a temporada da Copa do Mundo de 2014. A Coca-Cola é uma das multinacionais que já manifestaram interesse em marcar presença na recepção de turistas nacionais e estrangeiros. Em geral, as concessões têm validade de até 10 anos, sendo que locais de publicidade, incluindo as vias de acesso, podem ser explorados por dois anos. A estatal tomou o cuidado de tirar a chance de renovação automática dos contratos. No Aeroporto de Salvador, a Infraero precisou ingressar com pedidos de reintegração de posse de 13 estabelecimentos cujos contratos venceram em dezembro de 2010.

Mas, a julgar pelos leilões realizados desde 2010 e que renovaram metade das concessões, os ganhos da Infraero deverão exceder as expectativas. Os candidatos mostraram que estão dispostos a pagar até cinco vezes mais que o lance mínimo. A maioria dos concessionários cujos contratos venceram ou estão vencendo não gostou nada dessa modalidade de contratação e ingressou com ações judiciais para sustá-la. Na avaliação deles, o consumidor é quem vai pagar a conta da supervalorização dos pontos.

;Os leilões são um desserviço ao cidadão, que terá de pagar mais por produtos e serviços nos aeroportos, além de fecharem lojas, como as de artesanato;, reclama Marcos Birbeire, presidente da Associação dos Concessionários de Aeroportos do Brasil (Abrasca). Críticos lembram que, em alguns terminais, o aluguel do metro quadrado supera o de grandes centros comerciais de Paris e Londres, citando a loja McDonald;s, no Aeroporto de Porto Alegre. Com o pregão de março, a mensalidade subiu para R$ 230,5 mil, o triplo do lance mínimo.

Geraldo Neves, da Infraero, rebate dizendo que ;sempre se reclamou no mundo todo que comer e comprar em aeroporto é caro;, considerando o impacto dos custos locais. Ele acrescenta que vencedores dos certames ;não ousariam; cobrar preços ;além do aceitável pela clientela;, lembrando que a nova classe média é o público que mais cresce. O executivo lembra que a tarifa aérea média atingiu, em maio, o menor nível histórico para o mês: R$ 263,81 ; 29% inferior a maio de 2002.

Neves acredita que a oferta de opções mais baratas pode forçar a queda de preços nos pontos comerciais. A Infraero está licitando grupos de máquinas para oferecer alimentos e bebidas. Até novembro, 15 aeroportos terão a venda automática de café, salgadinhos, refrigerantes e água. A estatal fixou taxa mensal de R$ 500 por máquina e área reduzida de depósito. Ao todo, serão 143 unidades espalhadas por grandes terminais, como Brasília e Salvador. A ideia é implantar o sistema em toda a rede da estatal.

Salas VIP
O primeiro embate na Justiça entre a estatal e concessionários envolveu companhias aéreas que há 13 anos tentam impedir licitações das salas VIP, sob a justificativa de serem áreas operacionais e não comerciais. ;Esse argumento não se sustenta. Se fosse assim, porque as empresas não abrem essas áreas a todos os clientes?;, provoca Neves.

Em paralelo às negociações com atuais e futuros lojistas, a Infraero está resgatando seu projeto Aeroshopping, lançado em 2002. Com treinamento de mão de obra, padronização visual e pesquisas de opinião, a estatal tenta criar ambientação funcional em favor dos negócios nos terminais. A logomarca desse espaço de vendas foi até revitalizada este ano, ganhando as cores da bandeira brasileira.

Hoje, 17 aeroportos já adotaram o conceito, entre eles Porto Alegre e Uberlândia, devendo subir para 25 até 2013. ;Além dos contabilizados pelo transporte aéreo que andam pelos saguões e corredores, atendemos outros milhões que acompanham os passageiros;, sublinha Claiton Resende Faria, superintendente de Negócios Comerciais da Infraero.

Para aeroportos novos ou áreas de expansão, o tema concessão é menos traumático. A reforma em Manaus, por exemplo, prevê construção de uma praça de alimentação panorâmica. O terminal ganhará mais 50 mil metros quadrados para restaurantes e lanchonetes, além das 40 mil atuais.

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