Economia

Após demissão, especialistas mostram o que fazer para obter boa recolocação

postado em 18/09/2011 11:04
O relações públicas Paulo Gustavo Pinheiro, 30 anos, está passando por um dos momentos mais difíceis que já enfrentou na vida. Ao voltar de férias há 10 dias, foi comunicado por um de seus superiores de que não fazia mais parte do quadro de servidores da autarquia federal na qual trabalhou por um ano. ;Fui aprovado em concurso público. Passei em primeiro lugar para a vaga disputada. Sei que era regido pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), mas jamais imaginei ser demitido sem que me apresentassem um motivo justo para o desligamento. Nunca tomei sequer uma advertência durante toda a minha carreira;, lamenta. Paulo admite que ainda não conseguiu pensar em como dará a volta por cima. Responsável pela renda familiar, ele conta que se sente desnorteado. ;É humilhante. Trabalho desde os 15 anos. Sei que vou me virar, mas não tenho cabeça para avaliar as alternativas. A demissão te causa um terrível constrangimento perante a tudo e a todos. Não consigo encarar meu filho, que tem 4 anos. É um baque, estou em choque;, resume.

Especialistas em gestão de carreiras e recolocação profissional garantem que Paulo não está sozinho e que a desorientação sentida por ele é mais que natural. A demissão representa um golpe duro na autoestima da maioria dos milhões de profissionais que a experimentam anualmente. Mesmo com o mercado de trabalho no Brasil ; há uma década, o número de admissões vem superando o total de desligamentos ;, as demissões fazem e sempre farão parte da rotina das organizações, pois elas ocorrem por motivos que extrapolam o cenário econômico. Dados do Ministério do Trabalho e Emprego revelam que, em 2010, quase 10 milhões de brasileiros foram demitidos. A maioria deles foi desligada sem justa causa. No primeiro semestre deste ano, as dispensas ultrapassaram a casa dos 6 milhões.

O consultor de marketing pessoal e gestão de carreira Ari Lima pondera que a demissão é um trauma que pode levar anos para ser completamente curado, porque é uma experiência que fere o amor próprio, traz um forte sentimento de rejeição e que ameaça o bem-estar da família do demitido. Porém, o especialista sustenta que, em 90% dos casos, trata-se de uma tragédia anunciada que surpreende apenas por ser mais conveniente não conceber tal possibilidade. ;Há sinais claros que indicam que uma demissão está a caminho. Dificuldade de relacionamento com a chefia, desentendimento com colegas, reorganizações internas da empresa, dificuldades financeiras que exigem cortes de pessoal, perda de mercado e até promoções que não saíram são indicativos fortes;, diz.

Segundo Lima, seja a demissão esperada ou não, os estragos causados por ela podem ser superados somente quando a pessoa consegue assimilar a perda, levantar a cabeça e iniciar o que ele chama de processo ;ladeira acima;. O tempo varia de pessoa para pessoa, cada um tem um ritmo para perceber que o trauma pode ser uma chance de se reinventar, de repensar a carreira. O consultor alerta que o processo de volta ao mercado é trabalhoso, precisa de disciplina e motivação. ;O indivíduo não deve jamais vestir a camisa de desempregado. É fundamental entender que o seu trabalho, no momento, é procurar emprego e não ser o faz-tudo da família. Um outro erro muito comum é aceitar qualquer colocação. Somente em último caso, o profissional deve topar uma posição inferior à que ocupava;, aconselha.

Seja racional
Um equívoco apontado por especialistas é a não aceitação de uma mudança temporária no padrão de vida. Lima aconselha o trabalhador a reunir todos os recursos disponibilizados a quem é desligado, como o seguro-desemprego e a indenização do Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (FGTS). ;Viva de acordo com a nova realidade, economize, não dê espaço ao supérfluo. A prioridade é investir na carreira. Trace objetivos, levante cedo, acione sua rede de relacionamentos, deixe os outros saberem que você procura uma recolocação. Estude o mercado. Se julgar necessário, atualize-se, faça cursos. Busque oportunidades de estar em contato com profissionais atuantes, monte estratégias;, orienta.

A especialista em desenvolvimento organizacional e vice-presidente da Federação Internacional de Coach no Brasil, Eliana Dutra, explica que, mais do que nunca, o momento exige racionalidade. ;Recuperado o baque emocional, trabalhe para encontrar novamente um lugar ao sol. Tem gente que embarca em possibilidades de fuga da realidade ; tira férias, por exemplo. Esse é um passo para se culpar duplamente. Primeiro por perder o emprego, depois por ter gasto recursos sem poder;, lembra. De acordo com Eliana, se as economias permitirem, a demissão pode ser um empurrão para a abertura de um negócio. Mas apenas se o empreendedorismo for um traço marcante do desempregado. A coach ressalta que quem é demitido tem tendência a responsabilizar as circunstâncias ou outras pessoas, o que é extremamente contraproducente, porque tira do indivíduo o poder de desenvolver alternativas.

Também não adianta ter apenas um currículo perfeito, é importante saber se vender. O gerente de vagas do site www.empregos.com.br dá a dica: elabore um currículo que chame a atenção. ;Algumas organizações permitem o envio por e-mail, outras preferem recebê-lo impresso com um portfólio. O mais importante é que o candidato registre informações verdadeiras e objetivas sobre sua capacitação e qualificação. Uma carta de apresentação costuma ser vista com bons olhos. Erros de gramática são inadmissíveis e fecham as portas;, lembra.

Há um ano e sete meses, o administrador de empresas Vicente de Paula Lopes do Nascimento, 45 anos, foi desligado de uma empresa do ramo farmacêutico na qual atuou por mais de duas décadas. Ele admite que perdeu completamente o chão. ;Fui admitido com apenas 19 anos, conquistei espaço até chegar a uma gerência com atuação em praticamente todos os estados do país. Eu tinha paixão pelo meu trabalho, vestia a camisa da empresa, imaginava me aposentar lá. Questionei uma crítica feita pelo meu superior direto e, em 30 dias, fui desligado;, conta. ;Acredito que dei a volta por cima porque fui contatado por recrutadores de três indústrias do mesmo ramo. O mercado reconheceu o meu valor e eu não fiquei nem 20 dias desempregado. O apoio da família e dos amigos também foi fundamental. Eles não permitiram que eu ficasse constrangido pela situação porque me lembravam das conquistas e do profissional disciplinado que sempre fui.;

Saiba mais
O demitido tem direito a:

Indenização do FGTS

; É possível sacar todo o dinheiro do Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (FGTS), mais 40% do total. Vá a uma agência da Caixa Econômica Federal com Carteira de Trabalho, RG, cartão
do cidadão ou de inscrição no PIS/Pasep e o Termo de Rescisão do Contrato de Trabalho (TRCT) homologado.

13; proporcional

; Divida seu salário por 12 e multiplique-o pelo número de meses que você trabalhou na firma: é o quanto você receberá.

Férias proporcionais

; O cálculo é o mesmo do 13;, mas você só terá direito às férias proporcionais se houver trabalhado por mais de um ano na empresa.

Seguro-desemprego

; Dê entrada na Delegacia Regional do Trabalho da sua cidade. O benefício garantirá uma renda mensal por um período mínimo de
três meses e máximo
de cinco meses. O valor
do seguro-desemprego dependerá de qual era seu salário e do tempo de permanência na empresa.

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