Economia

Queda de preços e desaceleração da economia impedem repasse do dólar

postado em 24/06/2012 16:27
Apesar da alta de mais de 20% na cotação da moeda norte-americana nos últimos quatro meses, o câmbio mais alto até agora não influenciou a inflação. A prévia da inflação oficial continua em queda, e as estimativas das instituições financeiras cada vez mais se aproximam do centro da meta de 4,5% para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Segundo economistas, a disparada do dólar não teve impacto sobre os preços por dois motivos. Primeiramente, a queda do preço internacional das commodities (alimentos e minérios com cotação internacional) compensou a depreciação cambial. Além disso, a desaceleração da economia inibe os empresários de repassar os custos da alta da moeda norte-americana.



;Boa parte dos efeitos da depreciação cambial foi compensada pela queda dos preços externos;, diz o economista Thiago Curado, da Tendências Consultoria. De acordo com ele, a redução dos preços das commodities abriu espaço para o governo desvalorizar o real além dos movimentos de mercado provocados pelas turbulências globais. ;A depreciação da moeda no Brasil foi uma das mais intensas no mundo. Isso indica que também houve um movimento político de desvalorizar a moeda para proteger a indústria nacional;, acrescenta.

Na avaliação de Curado, a desvalorização tão expressiva do real foi possível justamente porque a inflação está em queda. Segundo ele, se o governo não tivesse interferido no câmbio, a redução dos índices de preços seria ainda maior. ;Com o PIB [Produto Interno Bruto] estagnado há dois semestres, as empresas, principalmente do setor de serviços, estão segurando os preços;, diz.

O economista e ex-diretor do Banco Central Carlos Eduardo Freitas também reconhece que a desaceleração da economia está compensando as pressões sobre a inflação. Ele, no entanto, adverte que o dólar mais alto terá impacto sobre os preços internos assim que o PIB voltar a crescer. ;Para este ano, acredito que a inflação deverá fechar próxima do centro da meta, mas, a partir de 2013, certamente haverá algum repasse se a economia voltar a se acelerar.;

Na última sexta-feira (22/6), o dólar comercial fechou cotado a R$ 2,06. O valor é 21% maior do que a cotação mais baixa registrada neste ano: R$ 1,699, em 28 de fevereiro. Apesar disso, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo ; 15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflação oficial medida pelo IPCA, apresentou forte queda e registrou 0,18% em junho, contra 0,51% em maio. Ao mesmo tempo, as projeções do boletim Focus (pesquisa semanal do Banco Central com instituições financeiras) apontam que o IPCA fechará 2012 em 5%, próximo do centro da meta (4,5%).

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