Economia

Reestruturação da Gol não anima investidores; ações da companhia caem

De janeiro a setembro do ano passado, a Gol acumulou perdas de pouco mais de R$ 700 milhões

Rosana Hessel
postado em 20/01/2014 20:06
A Gol anunciou nesta segunda-feira (20/1) uma reestruturação na organização da companhia. O objetivo, segundo a empresa, é reforçar a área de segurança. No entanto, a medida não empolgou os investidores. As ações da companhia aérea negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BM) tiveram queda bem superior à retração de 0,96% do Índice Bovespa. Desabaram 2,05%, para R$ 10,50.

;Essa queda reflete a falta de confiança do mercado na companhia, que vem registrando resultados financeiros muito ruins e pouco tem feito no sentido de melhorar a gestão;, explicou o economista Felipe Chad, diretor da DX Investimentos. A mesma opinião é compartilhada pelo especialista em aviação, Olavo Henrique Furtado, coordenador de pós-graduação e MBA da Trevisan Escola de Negócios. ;Apesar da expectativa de aumento da oferta com os eventos esportivos, a situação do setor de aviação não anda muito boa porque há muitos problemas de gestão. As companhias aéreas brasileiras não souberam se planejar após a crise de 2008. Aproveitaram o aumento do número de passageiros, mas não fizeram planejamentos de longo prazo e, agora, sofrem as consequências;, disse o acadêmico.

Na avaliação o professor da Trevisan, a falta de uma fiscalização mais rígida do governo, voltada para uma melhor prestação de serviços ao consumidor, tem contribuído para o notório aumento de clientes insatisfeitos. ;O problema não é só da empresa. A fiscalização não é muito forte no Brasil, de forma geral, e tem muitas falhas;, completou. Não à toa, as líderes Gol e Tam encabeçam as listas de reclamações dos usuários nos aeroportos brasileiros. Juntas, são donas de 75,2% do mercado doméstico, sendo que a Gol está na vice-liderança, com 36,4% do segmento, conforme dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) de novembro de 2013.

De janeiro a setembro do ano passado, a Gol acumulou perdas de pouco mais de R$ 700 milhões e o reflexo da má gestão apontada pelos especialistas também tem reflexo no exterior. As ações que a empresa lançou há dez anos na bolsa de Nova York, a US$ 19 no primeiro dia de negociação, e, hoje, valem apenas US$ 4,5. Somente ontem, despencaram 2,5%.

Mudanças

Conforme o comunicado ao mercado da Gol, o comandante Sérgio Quito assumirá a posição de diretor-executivo de operações, cargo antes ocupado por Adalberto Bogsan, que renunciou ao posto no último dia 14. Fontes ligadas ao sindicato dos aeronautas destacam a experiência de Quito em segurança operacional, área que ele coordena na empresa desde maio de 2009.

Também foram criadas duas novas diretorias, a de Vendas e Marketing, que será ocupada por Eduardo Bernardes, e a de Planejamento, com Celso Ferrer à frente. Os executivos assumem no dia 1; de fevereiro e se reportarão diretamente ao presidente da companhia Paulo Kakinoff, que assumiu o manche da empresa em julho de 2012 e não tem sido visto como um bom gestor pelo mercado.

Natural de Santo André (SP), ele fez carreira na Volkswagen e, em 2009, assumiu a presidência da Audi Brasil antes de ser convidado para a Gol. ;Kakinoff era considerado um prodígio no setor automobilístico, mas não tem tido o mesmo desempenho na aviação. Ele provavelmente pode entender do setor automobilístico, mas talvez não entenda muito do aeronáutico, que é muito mais complexo;, comentou Chad, da DX Investimentos.

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