Economia

Embrapa leva experiência da Rede BioFORT para conferência na África

A Rede BioFORT tem a finalidade de aumentar o conteúdo de micronutrientes dos cultivares (variedades) de arroz, feijão, batata-doce, mandioca, milho, feijão-caupi, abóbora e trigo

postado em 28/03/2014 16:55
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) participará, da próxima segunda-feira (31/3) ao dia 2 de abril, da 2; Conferência Global sobre Biofortificação, na cidade de Kigali, em Ruanda, na África. O encontro vai tratar sobre os avanços em torno do desenvolvimento de alimentos mais nutritivos para a população mundial, os desafios que ainda têm de ser superados e a integração de experiências e projetos de alimentos biofortificados, em vigor nos diferentes países.

Dentre os representantes brasileiros que participarão da conferência, destaque para a pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos (EAA), Marília Nutti, líder da Rede Brasileira de Biofortificação (Rede BioFORT), que existe desde 2003 e envolve cerca de 150 pesquisadores de várias unidades da Embrapa, de universiades e de institutos de pesquisa estaduais e federais no desenvolvimento de projetos alimentares no Brasil.

Com financiamento da Agência de Desenvolvimento Internacional do Canadá (Cida), do Departamento de Desenvolvimento Internacional do Reino Unido (Dfid) e da Fundação Bill e Melinda Gates, a Rede BioFORT utiliza melhoramento genético convencional, com a finalidade de aumentar o conteúdo de micronutrientes dos cultivares (variedades) de arroz, feijão, batata-doce, mandioca, milho, feijão-caupi, abóbora e trigo. Isso permite que novas culturas sejam geradas com maiores teores de pró-vitamina A, ferro e zinco, que combatem a deficiência de micronutrientes no organismo humano, chamada fome oculta, que provoca anemia e cegueira noturna, entre outras doenças.



Marília Nutti falou nesta sexta-feria (28/3) à Agência Brasil e destacou que o Brasil é o único país que trabalha com pesquisas de oito cultivos. ;E a gente já conseguiu lançar dez cultivares, entre feijão, feijão-caupi, abóbora, batata-doce e, no ano que passou, conseguiu uma variedade de milho com maiores teores de pró-vitamina A -- um produto voltado para a agricultura familiar ;, comemorou.

Em paralelo, a Rede BioFORT começou a fazer termos de compromisso com alguns municípios, aos quais repassa sementes para que eles possam plantar e distribuir para pequenos agricultores. A produção é vendida para as próprias prefeituras, com vistas a abastecer a merenda escolar. Marília disse que outra possibilidade, que sendo testada em escolas agrícolas do Piauí, é a plantação de cultivares biofortificados de batata-doce e feijão-caupi, para a alimentação dos próprios alunos. ;O Brasil está com uma série de ações, algumas ainda de pesquisa. Mas a gente está indo muito bem;, salientou.

Marília Nutti revelou que a Rede BioFORT foi convidada a coordenar os trabalhos em conjunto, na América Latina, com participação da Nicarágua e Guatemala, dentre outros países, e adiantou que a rede deve trabalhar também em parceria com pesquisadores do Haiti. Países que, segundo ela, têm altos índices de deficiência nutricional. No ano passado, a EAA começou a organizar a rede de parceiros com universidades e institutos de pesquisa da Nicarágua. Os trabalhos serão iniciados com cultivares de arroz, feijão e milho.

Na Guatemala, o foco serão os cultivares de feijão e milho, que compõem a dieta da população local. Já existem variedades desenvolvidas pelo Instituto de Pesquisa Agropecuária, empresa similar à Embrapa no país. Para o Haiti, a EAA já enviou diversos cultivares, biofortificados ou não, para testar a adequação no solo local. A expectativa é colher dados a partir do próximo ano. No Panamá, a rede já trabalha em conjunto, porque lá a biofortificação é uma política do governo do país. Na Colômbia, há também cooperação na parte da pesquisa.

A meta dara 2015, no Brasil, é continuar o trabalho que está sendo desenvolvido com abóbora e trigo, além de avaliar a parte nutricional desses produtos, em parceria com universidades. ;A gente começa a pensar na avaliação de impacto, em um trabalho diretamente ligado à população;, esclareceu Marília Nutti. A ideia é elaborar um estudo controlado dos cultivares, com o estabelecimento de um cardápio à base de produtos biofortificados, e depois de um tempo medir os impactos por meio de exames de sangue, para conseguir ver como os micronutrientes estão sendo absorvidos. ;É um teste muito apurado;.

No Piauí, ela acrescentou que a estratégia envolve, além da plantação de cultivos biofortificados pelos próprios estudantes das escolas agrícolas, a disseminação dos novos cultivares nas famílias dos próprios alunos e para os agricultores familiares da região, que vivem da produção de subsistência. ;A gente percebe que isso está melhorando a vida dessas pessoas;, adiantou.

Ela fez questão ainda de esclarecer que os cultivares biofortificados são desenvolvidos com melhoramentos convencionais, e não devem ser confundidos com alimentos transgênicos. ;Biofortificação não é transgenia;, assegurou a líder da rede BioFORT. Marília completou que a partir do cruzamentos de cultivares, os pesquisadores estão conseguindo melhorar a quantidade de micronutrientes, bem como a produtividade dos produtos e a resistência a pragas.

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