Economia

Vitória de Dilma pode acentuar alta do dólar, diz ex-ministro da Fazenda

Maílson da Nóbrega acredita que, se a petista for reeleita, os investidores poderão bater em retirada do país

postado em 18/09/2014 20:19

Maílson da Nóbrega acredita que, se a petista for reeleita, os investidores poderão bater em retirada do país

Mata de São João (BA) ; Conhecido pelas análises duras ao governo, o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega avalia que a hipótese de uma vitória da presidente Dilma Rousseff (PT) nas eleições de outubro tende a detonar uma nova escalada da moeda norte-americana, com investidores batendo em retirada do país. Após beirar os R$ 2,38 ontem, o dólar encerrou esta quinta-feira (18) cotado a R$ 2,36 para a venda.

O desfecho eleitoral, acredita o ex-ministro, provocará impacto diretos sobre a trajetória do dólar, num movimento semelhante ao que ocorreu em 2002, quando o receio de vitória da candidatura do também petista Luiz Inácio Lula da Silva levou a moeda dos EUA a superar os R$ 4. Falando a empresários durante abertura da 54; Convenção Nacional do Comércio Lojista, realizada no complexo Costa do Sauípe, próximo a capital baiana de Salvador, ele fez uma simulação da trajetória do dólar que leva em conta dois cenários políticos.

Líder nas pesquisas de intenção de voto, Dilma Rousseff não é bem vista por investidores, por ter implementado políticas que resultaram em baixo crescimento econômico e inflação persistente, próxima ao teto da meta de 6,5%. Por isso, numa hipótese de reeleição da petista, a divisa dos EUA poderia saltar dos atuais R$ 2,35 para R$ 2,45, até dezembro, acredita Maílson da Nóbrega.

Já a suposição de vitória da ex-senadora Marina Silva (PSB) ou do senador Aécio Neves (PSDB), os dois principais candidatos de oposição ao governo, tende a provocar efeito contrário sobre a cotação do câmbio. A avaliação é que, nesse cenário, o risco Brasil cairia, e, com ele, a cotação da divisa dos EUA, que tenderia a recuar, até dezembro, para patamares próximos de R$ 2,10.

Na palestra, o ex-ministro criticou a condução da política econômica, cujos erros, na avaliação dele, provocaram resultados contraditórios para o país, como uma situação de estagflação ; baixo crescimento econômico combinado a uma alta de preços persistente. ;É um ano perdido;, decretou. ;A economia perdeu dinamismo. Hoje, há cada vez menos empregos sendo gerados. E tudo indica que, no final deste ano, veremos aumento do desemprego;, disse.

Enquanto isso, reforçou o ex-ministro, o brasileiro viu a renda encolher diante da escalada de preços. ;A inflação está penosamente acima da meta;, lembrou, reforçando que o Brasil tem uma das maiores metas de inflação do chamado mundo desenvolvido. ;A meta dos países no mundo desenvolvidos é 3%. No Peru é de apenas 2%. E a (presidente) Dilma vem dizer que a inflação está dentro da meta. Seis e meio não é cumprir a meta;, criticou.

A meta de inflação no país é de 4,5%, com tolerância de dois pontos, para baixo ou para cima. A última vez que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu o centro do alvo foi em 2009. Durante o governo Dilma, o indicador rompeu, durante 12 vezes, o teto da meta, o que significa dizer que um terço da gestão da presidente teve inflação acima do limite de tolerância. Não por outro motivo Maílson citou, durante três vezes na sua apresentação, a expressão ;memória inflacionária;, para citar o desconforto da sociedade com a alta de preços. ;Ficar vários anos com inflação de 6,5% eleva as expectativas de que os preços continuem subindo, criando indexação;, disse.

Ao não controlar os preços, o governo teria criado incertezas para o país, o que afugenta investidores, na avaliação do ex-ministro. A falta de crescimento econômico, que caiu de uma média de 4,5%, durante o segundo mandato do presidente Lula, para perto de 1,5%, no governo Dilma, reforçou esse quadro de preocupações do setor privado. Enquanto isso, reforçou o economista, países vizinhos que vinham crescendo menos que o Brasil fizeram reformas econômicas e, com isso, conseguiram atrair mais investidores estrangeiros. O resultado foi um crescimento econômico mais forte. ;Basta olhar os nossos vizinhos. Enquanto nós vamos crescer este ano, no máximo, 0,3%, a Colômbia crescerá num ritmo quase 20 vezes maior, 5%. Enquanto isso, o (desempenho do) Chile será de 4% a 4,5%; México, de 4% a 4,5%;, reforçou o ex-ministro, que ironizou: ;O Brasil virou o patinho feio da América Latina;.

Maílson foi aplaudido de pé por boa parte dos cerca de 3,5 mil empresários presentes no evento. Ao fim da palestra, ele aproveitar para dar um recado aos que, como ele, desaprovam os resultados do governo Dilma. ;Não precisa pensar em sair do país. O Brasil tem jeito. Não vai virar nenhuma Venezuela;, alfinetou.

* O jornalista viajou a convite da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL)

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