Economia

Nelson Barbosa e Joaquim Levy estão cotados para Ministério da Fazenda

Com recusa de Luiz CarlosTrabuco em assumir o Ministério da Fazenda, presidente avalia nomeação de Barbosa, ex-secretário executivo da pasta, ou de Levy, diretor-superintendente de um dos braços do Grupo Bradesco

Paulo Silva Pinto, Rosana Hessel, Paulo de Tarso Lyra
postado em 21/11/2014 06:05
O governo pode anunciar hoje o nome do novo ministro da Fazenda. Ontem a presidente Dilma Rousseff se reuniu em São Paulo com o economista Nelson Barbosa, um dos principais cotados para o cargo. Ex-secretário executivo da pasta, ele atualmente é professor da Fundação Getulio Vargas (FGV). Na quarta-feira, ela havia se encontrado com o ex-secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, diretor-superintendente do Bradesco Asset Management.

É possível que os dois nomes venham a integrar a equipe econômica novamente ; um deles na função de ministro e o outro na de secretário do Tesouro, que é, na prática, o segundo cargo mais importante da pasta, embora o secretário executivo seja hierarquicamente superior. A posse do novo ministro deverá ocorrer poucos dias depois do anúncio. Mantega pretende sair logo para cuidar de sua vida pessoal. Dilma guarda um arrependimento: ter atendido o conselho do ex-presidente Lula e anunciado antecipadamente a demissão do atual ministro ainda durante a campanha eleitoral.

Mesmo com as conversas avançadas, o governo enfrenta dificuldades na escolha. A preferência de Dilma era pelo presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco. Ele foi convidado para o cargo na quarta-feira. Ficou de pensar e acabou por dizer não, ontem, alegando motivos pessoais. Outro nome cotado, o do ex-presidente do Banco Central (BC) Henrique Meirelles, é tido como com chances muito baixas de ser escolhido. Também é pequena, ainda que não impossível, a possibilidade de o atual presidente do BC, Alexandre Tombini, ir para a Fazenda. Ele deve ser mantido no governo, mas no cargo em que está.

Meirelles é um nome defendido por Lula, de cujo governo participou do primeiro ao último dia, e por vários parlamentares petistas. É alguém que conhece o governo e é muito bem-visto pelo mercado. Além disso, quer ser ministro. O problema é que a presidente Dilma não está convencida de que ele seria a melhor escolha para sua equipe. E ela não fará uma escolha a contragosto. As chances do ex-presidente do BC dependem, portanto, de a presidente mudar de ideia, e ela não dá sinais de estar disposta a isso.

Meirelles e Dilma não tinham uma boa convivência no governo Lula. Nos debates sobre a necessidade de ajuste fiscal em 2004, o presidente do BC e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, estavam de um lado;. Dilma e o então líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, de outro. Não é à toa que Mercadante, hoje na Casa Civil, é um dos ministros mais poderosos do governo e também o que tem maior trânsito no gabinete presidencial, embora a presidente não o queira no comando da economia.

Trabuco seria a melhor opção para conquistar a credibilidade que o governo busca no mercado. Ele enfrenta dois problemas: a sucessão no Bradesco e o prejuízo que o banco poderia ter como o seu principal executivo ocupando cargo no governo. Ele vem sendo preparado há anos para, ao se aposentar, ocupar a presidência do Conselho de Administração do banco pelo próprio ocupante do cargo, Lázaro Brandão. O Bradesco, uma organização extremamente conservadora, é avesso a movimentos bruscos e mudanças de planos de última hora.

Outro argumento, de um integrante do governo, é que o Bradesco teria muito a perder com a escolha de seu principal executivo para o cargo mais importante nas finanças públicas. Qualquer decisão correria o risco de ser vista como algo que pudesse beneficiar o banco. Ele teria até mesmo que prejudicar a instituição financeira, eventualmente, para não dar margem a suspeitas de favorecimento. Um caso semelhante aconteceu com José Andrade Vieira, que era dono do Bamerindus quando se tornou ministro da Agricultura do governo Fernando Henrique Cardoso. Ele teve de suspender vários negócios do governo com o banco, que, aliás, por outros fatores, acabou insolvente e vendido para o HSBC.



Para o mercado, a recusa foi vista como algo compreensível. ;Embora seja difícil especular as razões, elas provavelmente têm mais a ver com a posição dele no Bradesco do que com o temor de que a presidente não lhe desse liberdade para atuar;, escreveu o diretor do Eurasia Group no Brasil, João Augusto de Castro Neves.

Mesmo sem aceitar o convite, porém, Trabuco sugeriu o nome Levy. Ainda que seja diretor do Bradesco, ele tem uma expressiva carreira no Ministério da Fazenda nos governos de Lula e de Fernando Henrique; portanto, não estaria identificado com o banco de forma essencial.

Levy teve enfrentamentos com Dilma quando ela era ministra das Minas e Energia e ele, secretário do Tesouro. Não são consideradas rusgas graves, porém. Barbosa também teve enfrentamentos com ela, que já era presidente da República. Os focos da tensão eram a contabilidade criativa, que eleva artificialmente o superavit primário, e a tentativa do governo de limitar a taxa de retorno das concessões na área de infraestrutura. Os incidentes são considerados superados.

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