Economia

Falta de planejamento e má gestão contribuiram para crise do setor elétrico

Estiagem é só uma das causas da ameaça de racionamento, ao lado de planejamento falho e intervencionismo

Simone Kafruni, Paulo Silva Pinto
postado em 01/02/2015 08:10
O setor elétrico está no fio da navalha. A demanda segue batendo no limite da capacidade real de geração de energia. Tanto que, por dois dias seguidos, após o apagão de 19 de janeiro, foi preciso importar energia da Argentina para atender o consumidor nacional. O país não está em condições de garantir abastecimento, sobretudo no horário de pico, que já bateu todos os recordes este ano. A falta de chuvas agrava o problema, porque mantém os reservatórios em níveis críticos num sistema que depende 70% da geração hidrelétrica. Mas foram a falta de planejamento e os escorregões do governo que contribuíram de forma determinante para a crise atual.

Dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), analisados pelo economista e colaborador do Instituto Nacional de Energia Elétrica (Inee) Péricles Pinheiro, mostram que a geração hidrelétrica aumentou 11.446 megawatts médios (MWmed) de 2001 a 2014, enquanto a geração termelétrica elevou-se 11.888 MWmed, resultando em 23.334 MWmed a mais em 13 anos. Ocorre, contudo, que a demanda subiu 23.728 MWmed no mesmo período. A diferença de quase 400 MWmed é hoje suprida pela geração eólica, dependente das condições climáticas.

;O país está no limite. As hidrelétricas estão gerando menos, com reservatórios muito baixos. Quando o vento das eólicas está fraco, é preciso tirar energia de algum lugar para manter o sistema operando;, explica Pinheiro. Isso significa que a oferta real de energia no dia a dia acaba sendo insuficiente diante de um consumo energético crescente, sobretudo em certas horas. ;Se há um ônibus feito para 50 passageiros, mas que não consegue subir uma ladeira carregando todo mundo, a potência dele não é para a capacidade total porque muita gente vai ter que descer para ele cumprir o trajeto;, compara o especialista. Na analogia, a ladeira é o horário de pico.

Além dos reservatórios vazios, dos 22 mil MWmed da capacidade instalada de termelétricas, só 16 mil MWmed estão de fato entrando no Sistema Interligado Nacional (SIN). ;As térmicas precisam de paradas para manutenção porque foram criadas para operar de maneira emergencial, mas estão ligadas a todo vapor. O ONS, contudo, já deu ordem para que nenhuma pare. Daqui a pouco elas vão começar a falhar e aí o problema será muito maior ;, alerta Pinheiro.

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