Economia

Retratos da crise: Frustrados, brasileiros voltam a deixar o país

Parte do 1 milhão de pessoas que retornaram ao Brasil depois do boom econômico e da crise mundial está voltando ao exterior em busca de oportunidades melhores. Esse grupo é engrossado pela nova classe C, que se beneficiou de programas sociais

postado em 23/08/2015 08:00
O forte crescimento do Brasil na primeira década dos anos 2000 e o desastre econômico das principais economias do mundo, afetadas pelo estouro da bolha imobiliária dos Estados Unidos, provocaram um fenômeno impressionante. Brasileiros que haviam tentado a sorte no exterior, desiludidos com a falta de oportunidades na terra em que nasceram, decidiram voltar às cidades de origem. Desde 2008, pelo menos 1 milhão de pessoas acreditaram que, finalmente, poderiam ganhar a vida perto da família e dos amigos e usufruírem do melhor que o país poderia lhes dar. Passados quase sete anos desse movimento de retorno, boa parte das pessoas começa a emigrar novamente. Com a economia mergulhada na recessão, o desemprego disparando e a inflação açoitando o orçamento das famílias, de novo, o Brasil voltou a ser sinônimo de decepção.

As autoridades que acompanham os movimentos de entrada e saída do país ainda não dispõem de números precisos sobre quantos brasileiros que haviam retornado já voltaram para o exterior. Mas as estatísticas preliminares mostram um fato marcante: a esse grupo de desiludidos estão se juntando integrantes da nova classe média. São brasileiros que ascenderam socialmente nos últimos anos e usufruíram de programas do governo, como o Universidade para Todos (Prouni) e o Ciência Sem Fronteiras. Apesar de ostentarem os tão sonhados diplomas, não conseguem se encaixar no mercado de trabalho. Os jovens são as principais vítimas do desemprego. Pelas contas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice de desocupação nessa parcela da população chegou, em julho, a 18,6%, quase três vezes a média, de 7,5%.

;Infelizmente, não vejo oportunidades no Brasil. Quando olhamos para a frente, há um quadro nebuloso de falta de perspectivas;, diz o engenheiro civil Felipe Bandeira, 24 anos, filho de comerciantes que nunca saíram do Brasil. A passagem de ida para a Itália, em setembro, já está comprada; a de volta, não. A ideia de buscar uma vida melhor no exterior o persegue desde que fez intercâmbio na Europa, em 2013, por meio do Ciência Sem Fronteiras. ;Decidi participar do programa para adquirir maior qualificação acadêmica, profissional e pessoal. Após vivenciar um período em um país de Primeiro Mundo, onde tudo funciona, como transporte, educação e sistema de saúde públicos, decidi que optaria por voltar ao exterior para fazer uma pós-graduação;, conta.

Faxina e jardinagem

O desejo de deixar o Brasil, no entanto, se agigantou diante das perspectivas econômicas. ;Para qualquer lado que olhamos, só há dados ruins. O desemprego ainda vai aumentar muito e, tão cedo, não haverá espaço para muita gente no mercado de trabalho;, afirma Bandeira. Ele reconhece que, também na Europa, em especial na Itália, a situação da economia é ruim. ;Mas, aos poucos, eles vão se recuperar e não podemos esquecer que estamos falando de regiões que acumularam muita riqueza, têm uma estrutura social bem melhor que a nossa;, acrescenta. O jovem assinala que, nos últimos meses, enfrentou uma grande redução de projetos com os quais trabalhava. ;Houve vários cancelamentos de propostas. E tenho visto muitos colegas com dificuldade para arranjar emprego;, lamenta ele, que não tem prazo para voltar da Itália.

A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique aqui.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação