Economia

Brasileiros optam em dividir refeições para sobreviver à crise

Disparada dos preços da alimentação dissemina entre consumidores o hábito de dividir o prato em restaurantes, ou pedir porções menores, mais em conta. Empresários se adaptam à tendência e oferecem opções para atender a demanda dos clientes

Rodolfo Costa
postado em 01/03/2016 06:00

Leandro Lacerda (2º à esquerda) e Victor Souza (de branco, ao fundo) com amigos: cardápio compartilhado reduz as despesas de cada um


Com a inflação corroendo o poder de compra das famílias, um número cada vez maior de pessoas está recorrendo a uma estratégia para fazer as despesas com refeições caberem no orçamento: compartilhar os pratos em restaurantes à la carte, ou optar por porções menores, que têm preço mais baixo. E não são apenas os consumidores que embarcaram nesse movimento. Para se adaptar ao cenário, empresários estão remodelando os planos de negócio e oferecendo opções ao gosto da clientela.

Bruno Douglas Lopes, 29 anos, proprietário de uma hamburgueria em Brasília ; que também serve refeições ;, criou uma linha de pratos executivos ;kids;, voltada para o público infantil. No entanto, a novidade tem atraído mesmo os adultos. ;Ao substituir um prato maior por outro menor, o consumidor economiza até R$ 17,40. Os clientes estão fazendo o possível para aliviar o bolso. Cada vez mais, eles perguntam se aceito vale-refeição e parcelo a conta no cartão de crédito;, afirma.

Para quem divide a comida, o cálculo é simples: quanto mais pessoas, mais diluído fica o custo final da refeição. Que o diga o analista de sistemas Leandro Lacerda, 35 anos. Ele e outros seis colegas partilhavam na última quarta-feira duas porções do tradicional baião de dois de um restaurante na capital federal ; situação que tem sido cada vez mais comum para o grupo. ;A quantidade é farta. E, mesmo pedindo bebida, a conta não sai por mais de R$ 30 para cada um;, disse Leandro. ;Às vezes, vamos em cinco e pedimos só um prato. Geralmente, um sempre acaba comendo menos, e outro mais;, explicou Victor Souza, 24, integrante do grupo.

Promoções

O gerente do restaurante, Oscar Korb, 48, avalia que a demanda pelo baião de dois cresceu pelo menos 20% em um ano. ;Como custa entre R$ 45,90 e R$ 63,90 ; dependendo do tamanho da porção ;, e alimenta um número considerável de pessoas, o prato tem sido uma opção para quem quer economizar;, pondera. A maior procura pelo alimento mudou a estratégia de vendas da casa. ;Antes, vendíamos mais petiscos à noite. Agora, com mais gente vindo jantar, vamos apostar em promoções, como dose dupla de chope, para atrair ainda mais a clientela;, destacou.

A opção por dividir as refeições está disseminada no comércio de alimentação. Mesmo as grandes empresas estão observando esse movimento, como a rede Outback. Nos últimos dois anos, a opção por pratos criados com o conceito exclusivo de compartilhar cresceu cerca de 20%. ;Houve uma migração dos clientes de escolhas individuais para pratos que podem ser divididos com amigos e familiares;, disse o presidente da companhia no Brasil, Salim Maroun. ;Muitos que estão na casa dos 30 anos nunca tinham ouvido falar de inflação tão alta ou visto sua moeda desvalorizada.;

A observação de Maroun não é à toa. Em 2015, o dólar ultrapassou a barreira dos R$ 4, algo inédito desde a implementação do Plano Real. O encarecimento da moeda norte-americana gerou maior pressão de custos em toda a cadeia produtiva, principalmente em supermercados e prestadores de serviços no ramo de alimentação. O reajuste de tarifas administradas, como energia elétrica e combustíveis, trouxe mais impactos às despesas operacionais dos empresários, que repassaram os aumentos para os preços.

Aceleração

Com isso, o custo de vida mostra a maior aceleração em mais de uma década. Na prévia da inflação de fevereiro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) registrou crescimento de 10,8% no acumulado de 12 meses. Os gastos com refeição subiram 10,9%, a maior alta desde quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) modificou a metodologia da pesquisa. Por isso, a divisão de pratos não foi suspresa para o economista-sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes. ;A estratégia das famílias é driblar a carestia onde for possível;, analisou.

A disparada dos preços está tão intensa e disseminada que pouco adianta trocar um restaurante por outro, relatou o analista de sistemas Júlio Silva Neto, 34. ;Almoçar em um self-service ou fazer uma refeição de prato executivo não está mais valendo tanto a pena;, afirma ele, que diz desembolsar até R$ 40 por um prato individual. Por isso, sempre quando pode, ele opta por dividir o almoço com alguém.

A matéria completa está disponível para assinantes. Para assinar, clique

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação