Economia

Negócios ruins põem aposentadoria em risco

Fundos de pensão ligados a empresas estatais acumulam prejuízos por anos seguidos, prejudicando os trabalhadores que poupam para complementar benefícios pagos pelo INSS. Entre as fundações de companhias privadas, os ganhos são contínuos

Antonio Temóteo
postado em 26/03/2016 08:05

Os fundos de pensão estão sujeitos às mesmas regras de mercado, independentemente de serem patrocinados por empresas públicas ou privadas. Os riscos a que se submetem em um ambiente tão hostil, como o que se vive no Brasil, exigem de todos muita cautela para não torrar o dinheiro que garantirá a complementação de aposentadoria de milhões de trabalhadores. No caso das fundações de estatais, no entanto, em vez de ganhos, o que se vê é uma rotina de prejuízos. Motivos não faltam: investimentos ruins, uso político, má administração e desvio de recursos.

As discrepâncias entre os fundos são gritantes. Entre 2005 e 2014, período em que todos os dados estão consolidados, das 10 maiores fundações bancadas por companhias privadas, sete registraram ganhos em todos os anos, conforme levantamento realizado pelo Correio. Entre as três restantes, uma computou deficit somente em um exercício e não precisou fazer um equacionamento com contribuições extras de empregados e do patrocinador. Em 2015, pelo menos seis se mantiveram no azul, a despeito da derrocada econômica do país.

Já entre as entidades ligadas a estatais, a realidade é outra. Dos 10 principais fundos, seis operaram no vermelho entre 2005 e 2014. No ano passado, somente os quatro maiores contabilizaram rombo superior a R$ 45 bilhões. A situação é tão complicada, que os associados estão sendo intimados a cobrir o buraco. No caso da Funcef, dos empregados da Caixa Econômica Federal, as contribuições extras vão perdurar por 17 anos. No Postalis, dos funcionários dos Correios, cujo patrimônio foi surrupiado por uma organização criminosa, segundo o Ministério Público, as contribuições terão aumento de 18% a partir de maio.


Caixa-preta
Na avaliação dos especialistas, por mais que a legislação tenha avançado em relação à gestão dos fundos de pensão, entre as entidades vinculadas a estatais, ainda prevalece o atraso. A maior parte das fundações é usada para acomodar aliados políticos. Os cargos de direção são distribuídos para pessoas sem capacidade, que se preocupam mais em atender a interesses nada republicanos do governo. Não por acaso, os fundos são vistos como verdadeiras caixas-pretas, mantendo-se distantes da transparência que deveriam priorizar.

A justificativa dos fundos de estatais para os péssimos resultados tem sido o tombo registrado pelas bolsas de valores no governo de Dilma Rousseff. Citam, principalmente, a forte desvalorização da Petrobras e da Vale. Não há dúvidas de que o impacto desses papéis no patrimônio das fundações é grande. Mas a base dos prejuízos está em aplicações malfeitas, como as que resultaram na injeção de bilhões de reais na fabricante de sondas para exploração de petróleo Sete Brasil. A fatura de prejuízos inclui, ainda, títulos podres da dívida da Venezuela e de empresas de fachada.

As fundações patrocinadas por companhias privadas mostraram, nos últimos anos, menos disposição para se expor a investimentos duvidosos. É o caso da Telos, fundo de pensão dos empregados do grupo de telefonia Claro. Com R$ 6,5 bilhões em ativos, a entidade acumula 11 anos seguidos de superavit. Atualmente, 92% do patrimônio estão aplicados em títulos de renda fixa. No caso da Valia, dos empregados da mineradora Vale, com R$ 19,5 bilhões em ativos, desde 2008, os participantes recebem benefícios 25% maiores que os previstos graças aos ganhos acumulados.

Cautela
Bancada por empresas de energia, entre elas, a Eletropaulo, a Funcesp mostrou-se rentável entre 2005 e 2014, mas sentiu o baque da recessão no ano passado. Com patrimônio de R$ 23,9 bilhões, a maior fundação do país ligada ao setor privado computou deficit de R$ 1,6 bilhão. Diretor de Investimentos da entidade, Jorge Simino diz que, mesmo com a turbulência neste início de ano, o fundo acumula resultado positivo de R$ 300 milhões. Ele lembra que, até 2007, 35% dos ativos estavam aplicados em renda variável, mas essa posição foi reduzida em 40% ainda com os preços em alta. Isso garantiu rentabilidade de 11% em 2008, quando estourou a crise mundial. No mesmo período, a maioria das fundações teve retorno próximo de zero.

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