Economia

Com a crise econômica, mais pessoas procuram vagas no mercado

Taxa de desocupação bate recorde e atinge 11,3% no segundo trimestre. Rendimento médio recua 4,2% em relação ao mesmo período de 2015, para R$ 1.972 %u2014 o menor valor em quase quatro anos

Rodolfo Costa
postado em 30/07/2016 08:00

José Lucas perdeu o emprego em uma empresa de reciclagem e agora vende maçã do amor para pagar as contas


A deterioração do mercado de trabalho só se agrava: 11,6 milhões de pessoas estavam desempregadas no segundo trimestre deste ano. A taxa de desocupação cravou 11,3%. Números recordes, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em 2012. E, para piorar, como não há emprego para todos, quem ainda consegue uma vaga está recebendo menos do que antes da crise econômica se intensificar. O rendimento médio recuou 4,2% em relação a abril a junho de 2015, para R$ 1.972 ; o menor valor em quase quatro anos.

O aumento da desocupação é um sinal claro da retração da atividade econômica. Entre abril e junho de 2016, houve uma alta de 3,2 milhões pessoas de desempregadas em relação ao mesmo período de 2015. No trimestre, 90,8 milhões de brasileiros exerciam alguma atividade, uma redução de 1,4 milhão na comparação com o igual intervalo do ano passado. A diferença significa que mais gente, com a crise econômica, saiu à procura de uma vaga no mercado, explicou o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo. A população economicamente ativa cresceu 1,8 milhão de pessoas para 102,4 milhões de pessoas ante 2015 ; 656 mil somente do primeiro para o segundo trimestre deste ano.

[SAIBAMAIS]Segundo Azeredo, a perda de 1,5 milhão de postos com carteira assinada levou não apenas quem foi demitido a procurar emprego, como outros familires diretamente envolvidos. No segundo trimestre do ano passado 35,9 milhões de pessoas estavam no mercado formal, neste ano, apenas 34,4 milhões. ;A redução desse tipo de ocupação provoca pressões adicionais por emprego. Por exemplo, um pai ou mãe, chefe de família que fica desempregado, procura uma vaga e pede para que o filho, com mais de 14 anos, que estava apenas estudando, tente colocação no mercado para ajudar a compor a renda;, explicou.

Bicos
Se nos tempos de bonança da economia os bicos eram para jovens que ainda não haviam ingressado no mercado ou uma emergência para mais experientes, agora, está virando regra. José Lucas, 21 anos, trabalhava com reciclagem, mas com a redução de matéria-prima, a empresa reduziu os serviços. Para não ficar sem renda, José Lucas agora vende maçãs do amor nos fins de semana com um amigo. ;Realmente está muito complicado não só conseguir um emprego, como também mantê-lo. Não tenho mais certeza de permanecer em algum lugar;, lamenta ele que, com o trabalho, recebe cerca de R$ 150. Valor insuficiente para manter o padrão de vida.

Para driblar a falta de emprego, André Silva, 34, passou a entregar panfletos, serviço pelo qual é remunerado com R$ 8 por dia trabalhado. ;Apesar de ser pouco, esse bico ajuda a complementar a renda da minha família. É o que tenho hoje, e o jeito é torcer para a vida melhorar;, desabafou. O estudante Marcelo Almeida, 22 anos, engrossa a lista de desempregados. Para não ficar sem ganhar nada, toca violão em áreas comerciais e em ônibus. ;Mando currículos por e-mail todos os dias, inclusive sempre que vou tocar os trago em uma pasta. Mas está difícil. Enquanto eu não consigo nada, vou levando vida com a minha música;, disse.

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