Economia

Brasileiros que nasceram após 1994 não sabem sequer preencher um cheque

Guardam, sem uso, os talões, que se tornaram obsoletos com a queda da inflação e a disseminação do cartão. Papel resiste em empresas para pagamentos de grande valor

Antonio Temóteo
postado em 25/09/2016 08:00



Ao se tornar cliente de um banco há um ano, a estudante de Letras Letícia Neri, 20 anos, comemorou a independência. Queria organizar as próprias finanças e ter a liberdade de gastar o dinheiro com segurança, usando um cartão. Ela optou por uma conta universitária, com tarifas e taxas de juros mais baixas. A surpresa veio quando recebeu 10 folhas de cheque.

Letícia já tinha visto a mãe usando esse instrumento bancário, que lhe parece complicado demais. E não pensou duas vezes. ;Eu enterrei os cheques no meu armário. Com o cartão, faço todas as compras. É fácil e seguro para mim e para quem vai receber;, diz.


Letícia usa o celular para acompanhar as aplicações no Tesouro Direto e a evolução do que mantém na caderneta de poupança. Quando precisa fazer uma transferência, usa o aplicativo do smartphone. ;Se precisar preencher um cheque, não sei como fazer;, acrescenta.

[VIDEO1]

A falta de familiaridade de Letícia com os talões é compartilhada por milhões de brasileiros que nasceram depois de 1994, quando foi implantado o Plano Real. Os cheques perderam, então, um atrativo: negociar a data de desconto. Diante da inflação alta, a espera implicava mudança de valor do pagamento.

Avanços tecnológicos
De lá para cá, muita coisa mudou por outro motivo: os avanços tecnológicos, que fizeram com que os cartões de crédito e de débito passassem a ser usados prioritariamente pela população. Compras e transferências podem agora ser feitas pelo computador, pelo caixa eletrônico e pelo celular.

O número de operações com cheque diminuiu significativamente nos últimos 20 anos, sobretudo entre os consumidores. O papel ainda resiste nas empresas para pagamentos de grandes valores. É tamanha a relevância para as firmas que os recursos movimentados por cartões só se tornaram predominantes em 2014.

Dados do Banco Central mostram que, em 1997, os brasileiros e as empresas usaram 2,9 bilhões de folhas para pagar R$ 1,8 trilhão. No ano passado, 669 milhões de cheques foram usados para cobrir despesas de R$ 953 bilhões. A quantidade de folhas usadas despencou 77,3% no período e os valores movimentos caíram 48,8%. Já as operações com cartão chegaram a 11,4 bilhões em 2015 e totalizaram gastos de R$ 1,06 trilhão.

Paralelamente, o número de contas bancárias aumentou de 39 milhões, em 1995, para 108 milhões em 2014, alta de 176,9%. Ou seja, a derrocada do cheque ocorreu paralelamente a um período de forte inclusão financeira no país, conforme dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique aqui.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação