Economia

Para economista, governo não enfrenta ajuste fiscal com empenho que deveria

O resultado é que faltam condições para aliviar a política monetária, e, se os juros baixarem sem condições para isso, a inflação vai persistir

Paulo Silva Pinto
postado em 30/09/2016 07:16


Para o economista Carlos Eduardo de Freitas, o governo não está enfrentando o ajuste fiscal com o empenho que deveria. O resultado é que faltam condições para aliviar a política monetária, e, se os juros baixarem sem condições para isso, a inflação vai persistir. A seguir, ele explica por quê.

A meta deficit do governo do ano pode ser estourada?
É possível. Houve grande à liberalidade no tratamento com a despesa federal durante o período de interinidade de Michel Temer.

Isso pode melhorar agora?
Acho difícil. Não me parece que o governo tenha a necessária autoridade política e moral nem empenho. Não sei até que ponto o próprio presidente da República acredita na necessidade urgente de ajuste fiscal.
[SAIBAMAIS]
Isso prejudica a retomada do crescimento econômico?
Totalmente. Podemos ter uma pequena recuperação, breve, um voo de galinha. Mas, logo em seguida, pressões inflacionárias obrigarão a taxa de juros a voltar a um patamar que incomoda.

Muita gente espera que a Selic seja reduzida na reunião do Copom no próximo mês. Há espaço para isso?
Tenho dúvidas. A recessão é muito forte e as expectativas inflacionárias estão caindo. Tomando-se a teoria pura, poderia haver espaço. Só que o deficit fiscal nominal em 12 meses está na faixa de 9% do PIB. É muito elevado. A poupança privada é muito limitada no Brasil. Fechar isso me parece difícil, exceto com taxa de juros elevada ou com inflação. Uma alternativa seria o dólar ficar mais barato e abrir um espaço maior para o deficit de transações correntes.



Se baixar juros sem condições necessárias, o que acontecerá?
Terá que subir de novo depois. É exatamente o que aconteceu com a Dilma, que tornou pior o que já estava ruim.

O limite para o aumento de gastos é uma boa medida?
Tenho dúvidas sobre a eficácia. Vai demorar para produzir efeitos. E estão sendo imaginadas várias maneiras de burlar as regras. O governo distribuiu bondades de uma vez e agora propõe um longo sofrimento. Isso é colocar Maquiavel de cabeça para baixo. Uma indicação de que o teto para aumento de gastos é fraco é que está enfrentando pouca resistência.

Quando se fez um ajuste correto?
Com Otávio de Bulhões e Roberto Campos, no governo Castelo Branco, por exemplo. Carlos Lacerda dizia que eles queriam matar os pobres de fome e os ricos de raiva.

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