Economia

Famílias de baixa renda são as maiores afetadas pelo aumento do desemprego

Vítimas do encolhimento do mercado de trabalho, brasileiros perdem qualidade de vida e têm que recorrer à ajuda de amigos para sobreviver

postado em 14/10/2016 06:05

Panelas vazias: sem trabalhar por razões médicas, Míriam Soares e o marido lutam para alimentar a família


Os números do mercado de trabalho no Brasil, divulgados periodicamente pelo IBGE, podem até ser uma abstração, em meio a tantas notícias econômicas, mas o desemprego é uma realidade cruel e palpável entre a população mais pobre, com menos anos de estudo. A diarista Míriam Ferreira Rodrigues Soares, 50 anos, que mora em São Sebastião, sente na pele a penúria que a falta de trabalho provoca. Ela fazia faxina até três meses atrás, quando foi operada de um câncer de mama. Precisa fazer radioterapia, mas o hospital não tem vagas. Era ela quem sustentava a casa desde que o marido sofreu um acidente, há seis anos. Ele recebia pouco mais que um salário mínimo como servente de pedreiro, mas caiu de um andaime e ficou com problemas na coluna. Encaminhado pelo médico da construtora ao Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), recebeu auxílio-doença por apenas três meses. Tentou voltar a trabalhar, mas o médico da empresa não permitiu.

Desde então, o marido está no limbo, sem receber nem do INSS nem da firma na qual ainda está registrado. Para piorar, a empresa decretou falência e, portanto, não tem condições nem de dar baixa na carteira de trabalho dele. A filha do casal, de 18 anos, terminou o estágio no programa Jovem Aprendiz, há nove meses, e não consegue se recolocar no mercado. O único dinheiro que entrou na casa da família no último mês foram R$ 120 do Bolsa Família por causa do filho de 11 anos, que está na escola. ;A madrinha da minha filha vai mandar R$ 100,00 por esses dias, o que vai dar para ela pagar a passagem de ônibus para procurar emprego fora de São Sebastião e a conta de luz atrasada;, contou Míriam. ;Só não morremos de fome porque os vizinhos ajudam e a gente recebe uma cesta de alimentos da igreja Perpétuo Socorro, mas a comida que preparo tem que render, pelo menos, três dias para nós quatro;, completou, mostrando a única panela com arroz e feijão misturados.

Míriam disse que a casa em que moram é deles, e estava sendo construída pelo marido quando sofreu o acidente. ;Faltam os vidros nas janelas e portas. Não deu para terminar de construir o banheiro e usamos o antigo, do lado de fora. A esperança é que a minha filha consiga um emprego para nos ajudar;, acrescentou.

Drama parecido vive o casal Lidiane Brito Costa, 34 anos, ex-caixa de supermercado e o marido dela, Gilberto Pereira da Silva, 36, auxiliar de escritório, desempregado há um ano. ;Só vivemos com a graça de Deus, da igreja, que nos dá uma cesta básica, e de familiares e vizinhos que nos ajudam;, disse Lidiane, moradora do Recanto das Emas. Ela desistiu de procurar emprego. ;Até tentei durante um tempo, mas a pessoa que cuidava das minhas filhas se mudou, e não tem vaga na creche para deixá-las;, explicou. ;Meu marido só não desiste de procurar emprego por causa das filhas pequenas para sustentar, mas não tem vaga, e quando aparece uma são mais de mil candidatos;, lamentou.

O desalento chegou para o fiscal de loja Leandro Cássio Vieira Silva, 38, de São Sebastião. Há dois anos, ele precisou trancar a matrícula na faculdade em que cursava biologia, após ficar desempregado. Há seis meses, perdeu a esperança de conseguir uma vaga com carteira assinada. ;Durante todo esse tempo mandei currículos, preenchi fichas em agências de trabalho, e nada. Agora, não procuro mais. Só faço uns bicos que os amigos indicam, porque sabem que estou precisando. Trabalhei como segurança recentemente e, antes disso, como garçom temporário;, disse. ;O meu sonho de diploma universitário para subir na vida também não existe mais;, lamentou.

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