Economia

Custo de produção no Brasil é quatro vezes maior que nos EUA

Real fraco ajuda produtor, diz presidente da CNA, mas não compensa infraestrutura precária

Paulo Silva Pinto, Antonio Temóteo
postado em 12/11/2016 08:00

"Nosso custo da fazenda até o porto chega a ser quatro vezes maior que nos Estados Unidos.;


O nervosismo dos mercados financeiros nos últimos dias contrasta com a calma dos produtores brasileiros da agropecuária. Para o presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), João Martins da Silva Júnior, a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos não traz motivos de preocupação. Ao contrário. O novo patamar do real é vantajoso para a competitividade do que sai do campo. Ele espera que o dólar fique entre R$ 3,40 e R$ 3,60. Mais que isso, seria ruim. ;O produtor rural que quer o dólar a R$ 4 está pensando somente nele, não no país como um todo. Dólar a R$ 4 é horrível, experimentamos isso.;

Real fraco ajuda produtor, diz presidente da CNA, mas não compensa infraestrutura precária

[SAIBAMAIS]Ele não conta apenas, porém, com a situação macroeconômica favorável. Defende avanço significativo na infraestrutura, que torne a produção mais competitiva da porteira para fora. ;A gente ganha é no custo de produção, com três safras no ano, só que isso vai ter um limite;.

Martins espera que novas concessões de ferrovias finalmente saiam do papel. Conta com o realismo do governo nas condições a serem oferecidas para investidores. É o único caminho, alerta, para que a agricultura continue a contribuir com o crescimento. Do contrário, avalia, nossos competidores é que vão ganhar espaço.

O resultado da eleição de Donald Trump surpreendeu muita gente. O senhor acha que, no governo, ele fará o que disse na campanha?
Muitas declarações dadas por ele vão se tornar inviáveis. A complexidade das leis e das instituições americanas evita procedimentos que vimos aqui no Brasil, onde tivemos um governo que acabou a economia. Nos Estados Unidos, quando o presidente manda alguma coisa que não está dentro de orçamento, precisa ser muito bem negociado dentro do Congresso, do contrário não se aprova. Não é à toa que a economia americana é a maior do mundo. Isso não foi construído da noite para o dia.

O Brasil pode ser beneficiado com a eleição de Trump?
Pode, à medida que houver a desvalorização cambial, nosso produto se torna muito mais competitivo.

O senhor acha que o dólar vai para quanto?
Se eu soubesse, seria o homem mais rico do mundo. Tem de ser racional. O dólar a R$ 3,40 não é ruim. Mas o produtor rural que quer o dólar a R$ 4 está pensando somente nele, não no país como um todo. Dólar a R$ 4 é horrível, experimentamos isso.

Quais as perspectivas para a produção de grãos?
Hoje, o que o Brasil produz em um ano dá para alimentar toda a população brasileira durante sete anos e meio se decidíssemos não exportar nada.

Nesta safra 2016-2017, a que estamos plantando agora, talvez se chegue a 214 milhões de toneladas.


Há um problema de estocagem?
No ano passado estava previsto produzir próximo a 205 milhões de toneladas. Mas, com os problemas climáticos, fomos para 186 milhões de toneladas. Houve uma queda acentuada na produção de milho. O Brasil não conseguiu, antes, estocar o que era necessário. Temos o Nordeste com avicultura forte. E, hoje, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) não tem milho estocado comprado barato para poder fornecer ao pequeno produtor. Muito da estocagem é feita nos caminhões nas estradas, nas barcaças do tráfego. Existiu até o ano passado uma política de financiar construção de armazéns

Quanto a infrestrutura do país prejudica o setor?
É muito complexo o problema de logística no Brasil. Grande parte do nosso lucro se perde aí. Um produtor dizia que se tivesse uma máquina que pudesse captar toda a soja desperdiçada nas estradas, ele seria o maior produtor de soja do mundo. O modal rodoviário brasileiro é praticamente exclusivo nosso. Quando olhamos para a Argentina ou Estados Unidos, o transporte ferroviário é o principal. Nosso custo da fazenda até o porto chega a ser quatro vezes maior que nos Estados Unidos. Isso é um fator que tira a competitividade do Brasil.

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