Economia

Especialista alerta para pouca chance de reaver dinheiro em caso de golpe

Fraudes aplicadas por telefone, mensagem ou pelo correio não são passíveis de investigação pelos Procons. Se o autor for identificado, o caso pode ser levado à Justiça ou ser registrado na polícia. Estelionatos cresceram 26,5% no DF

Marlla Sabino - Especial para o Correio, Azelma Rodrigues - Especial para o Correio
postado em 11/02/2017 07:05
Inventividade. Criatividade a favor da maldade. As vítimas se multiplicam e os tipos de golpes também. Não importa se o escolhido é escolarizado ou possui pouca instrução. Partem de vários lados as denúncias de pessoas que se deixaram levar, ;caíram; ou ;quase caíram; na manha de ações fraudulentas, de golpistas. Seja por telefone, pela internet, pelos correios ou ;cara a cara;.

O que não falta, em toda a parte, é o sujeito que sabe como o ser humano é facilmente atingido pela emoção. O golpista está sempre criando maneiras novas de se dar bem em cima do outro. Os órgãos de defesa do consumidor nada podem fazer. Informam que são estruturados para defender direitos da pessoa lesadas na compra de produtos ou uso de serviços, na relação pessoa física versus pessoa jurídica.

[SAIBAMAIS]Se o caso é o homem que ligou para a idosa de Santa Maria dizendo que o cartão bancário dela estava com problemas e que em pouco tempo mandaria alguém para buscá-lo. E avisa que para fazer a troca ela deveria mandar junto a senha da Caixa Econômica Federal, não adianta buscar órgãos de defesa do consumidor, como o Procon. A Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça ; que centraliza os Procons ;, informa que se o golpe foi aplicado por outra pessoa física deve procurar tratar o caso ;nos tribunais de pequenas causas;. Ou na polícia.

A Secretaria de Segurança Pública e da Paz Social do Distrito Federal informa que os golpes se enquadram no conceito de estelionato ; quando uma pessoa engana a outra para obter vantagens, de maneira fraudulenta. Mas, na grande maioria das vezes, os golpes não são registrados. Apenas alguns recebem ocorrência formal.

Assim, considerando-se as estatísticas dos casos de estelionato registrados entre janeiro e novembro de 2016, num total de 12.644, ante igual período de 2015, com 9.991, houve um crescimento de 26,5% no Distrito Federal. O Departamento de Polícia Civil do DF tem uma Coordenação de Repressão a Crimes contra o Consumidor, à Ordem Tributária e a Fraudes, que avalia os casos apurados na Divisão de Falsificação e Defraudação, onde ganham espaço os grandes golpes. Mas as pequenas fraudes são também registradas nas delegacias, garante a assessoria.

Risco


;Levei um golpe de R$ 5 mil, e olha que eu me considero esclarecido;, conta o engenheiro de computação Renato Batista, 34 anos. Restavam algumas prestações para quitar o financiamento do veículo, mas ele entrou na Justiça para questionar os juros e parou de pagar. Foi quando alguém ligou se dizendo do banco, que o saldo era de R$ 18 mil, mas numa negociação cairia para R$ 12 mil. Após regatear e negociar por três dias seguidos, o falso bancário aceitou sua contraproposta de pagar R$ 7,5 mil.

O boleto foi enviado, Renato pagou as duas primeiras prestações. Antes de vencer a terceira, soube que havia caído numa fraude, pois o banco onde ele tinha a verdadeira dívida não havia recebido qualquer pagamento. ;Como é que esses caras tinham os meus dados pessoais corretos?;, ele se pergunta, lamentando o prejuízo.

A assistente de cabeleireiro Nilza Soares de Chaves, 48 anos, passou por algo parecido. Ela recebeu em casa uma fatura referente a uma dívida do cartão de crédito, no valor de R$ 300. ;Tinha escrito que, se eu quitasse esse valor, meu nome ficaria limpo;, conta. Depois de alguns meses, ela percebeu algo estranho e resolveu ligar para o número que havia no documento. ;Não atenderam e nem responderam o e-mail. A dívida ainda existia e percebi que tinha sido enganada. Fiquei bem chateada por ter perdido o dinheiro que ganhei com tanto esforço;, desabafa.

Proposta furada


Silvana Luzia de Oliveira, 54 anos, aposentada, recebeu um telefonema em que uma mulher que se dizia atendente da operadora Net lhe propôs trocar o modem. ;Por um modelo de alta tecnologia. Eu disse que estava satisfeita com o que tenho, mas ela dizia que ia melhorar o desempenho do Wi-Fi, o sinal ia ficar melhor e insistia querendo, de qualquer jeito, marcar logo uma visita à minha casa. Qual é a marca do modem que vocês vão me trazer? Perguntei. Mas ela respondeu: não sei;. Foi a deixa para Silvana desconfiar que havia algo errado. Ligou em seguida para a Net, e obteve como resposta que a operadora não tinha tal oferta, e que esse tipo de coisa é um novo golpe para marcarem e roubarem a casa no dia da visita. A assessoria da Net confirma que não autoriza esse tipo de contato, e alerta o cliente a ;confirmar o agendamento de visitas técnicas preventivas por meio da central de atendimento;.

Uma outra modalidade de golpe que merece atenção é a que vem por meio do celular. O correntista recebe uma mensagem de texto que diz: ;BB informa: agendamento de saque sem cartão em sua conta de R$ 540, local DF-1581 Correios para o dia 15/02/2017;. E traz um link para o correntista acessar sinalizando ;saques on-line;. Se o cliente clica, quem postou o link poderá ter acesso a todos os dados bancários do cliente, alerta o banco.

;O Banco do Brasil informa a seus clientes que não liga ou envia mensagens ou links solicitando senhas dos clientes, e também orienta a não fornecer, informar ou digitar as senhas em ligações ou links recebidos;, alerta a assessoria do banco oficial, solicitando ainda que clientes em tal situação denunciem o fato ao gerente.

A advogada especialista em direito bancário, Carolina Nascimento, do escritório Nelson Wilians & Advogados, acredita que a virtualização das operações bancárias tornam os clientes mais vulneráveis a fraudes. A especialista alerta que, antes de disponibilizar qualquer dado pessoal ou da conta, o cliente deve verificar, na agência bancária, se esse tipo de mensagens faz parte das práticas da instituição financeira.

Seguranças de agências da Caixa Econômica Federal já estão alertas para tentativas de golpes, com o aumento da presença de ;pessoas estranhas; na entrada das agências. ;Gente que procura informação sobre FGTS já está sendo abordado;, diz o segurança da agência do SCS. ;E olha que o dinheiro ainda nem saiu;, comenta.

* Estagiária sob supervisão de Rozane Oliveira

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