Economia

Mais de 900 mil pessoas ficaram desempregadas nos primeiros meses do ano

Em três meses, segundo a Pnad Contínua, o número de pessoas à procura de trabalho subiu de 12 milhões para 12,9 milhões. De novembro a janeiro, foram fechados 29 mil postos formais. Endividamento das famílias leva mais gente a tentar entrar ou voltar ao mercado

Rodolfo Costa
postado em 25/02/2017 07:00
Em três meses, segundo a Pnad Contínua, o número de pessoas à procura de trabalho subiu de 12 milhões para 12,9 milhões. De novembro a janeiro, foram fechados 29 mil postos formais. Endividamento das famílias leva mais gente a tentar entrar ou voltar ao mercadoO desemprego atingiu níveis sem precedentes. No trimestre encerrado em janeiro, a taxa de desocupação chegou a 12,6%, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O índice é resultado de 12,9 milhões de pessoas à procura de emprego. Outro número também nunca antes observado.

A alta da população desocupada impressiona. No trimestre encerrado em outubro, 12 milhões estavam em busca de trabalho. Significa que, em apenas três meses, cerca de 900 mil engrossaram o quadro de desempregados. É o maior volume de ingresso de novos desocupados para o período em toda a série histórica.

Chama a atenção que, no mesmo período, a população ocupada recuou em 29 mil postos, encerrando o trimestre fechado em janeiro em 89,9 milhões. Ou seja, com número tão baixo de redução na ocupação, a pressão sobre a população desocupada veio das pessoas em situação de desalento ; que gostariam de trabalhar, mas estavam sem procurar emprego.

No último trimestre de 2016, havia 6,7 milhões de pessoas nessa condição ou que não procuravam emprego por outras razões, como por questões de saúde. A expectativa de analistas é que o estoque de desalentados tenha caído, com mais pessoas passando a pressionar o mercado de trabalho. Como não há emprego para todos, quem estava parado e não conseguiu uma vaga passou a integrar a fileira de pessoas à procura de colocação. Uma explicação para esse movimento é o endividamento das famílias e a prolongada crise pela qual passa o país, ressalta o economista Carlos Alberto Ramos, professor da Universidade de Brasília (UnB). ;As reservas de dinheiro das famílias estão acabando ou até já estão esgotadas. Endividadas, elas precisam solucionar a falta de dinheiro e, para isso, são naturalmente induzidas a entrar no mercado de trabalho;, avaliou.

Reação


[SAIBAMAIS]O recuo na população ocupada, de 29 mil vagas, é considerado positivo por Ramos. Para ele, é o sinal de que o ritmo de demissões e encerramentos de contratos atingiu o fundo do poço, de onde deve iniciar um processo de estagnação do ritmo da ocupação. A recuperação do mercado de trabalho, no entanto, ainda vai demorar. ;Devemos observar alguma melhora no último trimestre do ano;, sustentou.

A avaliação dos analistas é de que o mercado de trabalho seguramente ainda apresentará dados ruins de emprego no primeiro trimestre deste ano, como a taxa de desocupação, que se manterá em alta. A partir do segundo trimestre, esperam por uma estagnação. Só a partir do terceiro trimestre, o mercado poderá vislumbrar alguma reação.

O fato é que, por hora, não há ambiente algum de retomada, admite o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo. ;Não há qualquer indicador já divulgado por nós que levante a possibilidade ou sinalização de melhora no mercado de trabalho;, disse. Ele reforça que, quando comparados os dados do trimestre encerrado em janeiro contra o mesmo período de 2015, ano em que a crise tomou forma, os números são ainda mais preocupantes.

Entre 2017 e 2015, a população ocupada diminuiu em 2,8 milhões. Já a população desocupada aumentou em 6,1 milhões. ;Temos quase o dobro de pessoas a procura de emprego do que há dois anos;, destacou Azeredo. Do total de desempregados no país nesse período, pouco mais da metade engrossou a fileira de desocupados em um ano.

Disseminada

A vida de quem está a procura de emprego não é nada fácil. Sobretudo sem um posto formal. É o caso de Alexandre Mendonça, 40, que está desempregado há dois anos. ;Trabalhava como terceirizado no arquivo do Senado;, disse. No período, a antiga renda, de R$ 2 mil, caiu pela metade. ;Desde então, ajudo meu irmão no armazém dele. Mas tudo o que ganho mando para os meus filhos, que estão no Nordeste;, disse.

E é para perto dos filhos que ele está a caminho. Com dificuldades para encontrar emprego, Alexandre está de malas prontas para Natal. ;A situação aqui está muito difícil. Vou tentar alguma coisa por lá. O cenário de emprego no Distrito Federal está muito ruim, mesmo para quem tem escolaridade;, comentou ele, que tem nível superior incompleto em direito.

O desemprego no Brasil só não é mais preocupante porque um fundamento da economia está ajudando a amenizar seu impacto: a inflação. Com os preços desacelerando, o rendimento médio real ; renda descontada da carestia ; no trimestre ficou em R$ 2.056.


DF tem maior renda per capita

O Distrito Federal segue no topo do ranking das unidades da Federação com o maior rendimento domiciliar per capita, que é a divisão dos rendimentos domiciliares pelo total de moradores. Na capital federal, esse valor foi de R$ 2.351, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A média ficou acima da nacional, de R$ 1.226 mil, e da de São Paulo, de R$ 1.723 mil. Os rendimentos domiciliares são obtidos pela soma dos recebidos com trabalho e de outras fontes por cada morador. O DF continua na liderança pela grande quantidade de servidores públicos, seja da esfera federal ou distrital.

Colaborou Vera Batista

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