Economia

Saiba onde investir o dinheiro das contas inativas do FGTS

Saque das contas inativas do fundo permite às pessoas se livrar de dívidas e pensar no futuro

Rodolfo Costa
postado em 26/02/2017 07:02


Os saques das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) poderão oferecer uma grande ajuda para brasileiros que sonham em investir, mas, atualmente, não dispõem de muitos recursos. Com tantas oportunidades disponíveis, o importante é não deixar o dinheiro parado. Afinal, qualquer aplicação renderá mais do que os 3% ao ano, além da Taxa Referencial (TR), que compõem a remuneração dos recursos do fundo.

A partir da data correspondente ao mês de aniversário, conforme calendário definido pelo governo, o cotista poderá solicitar, em uma agência da Caixa Econômica Federal, a transferência do dinheiro disponível na conta inativa para o banco no qual é correntista. A remessa poderá ser feita por TED ou DOC, sem pagamento de qualquer taxa.

O mesmo ocorre para caso do consumidor com mais de uma conta inativa. É bom lembrar, no entanto, que os saques só são autorizados para vínculos empregatícios encerrados até 31 de dezembro de 2015. Cotistas com conta poupança na Caixa terão o dinheiro do FGTS transferido automaticamente para a aplicação.

[SAIBAMAIS]A principal dica para os consumidores mais endividados é que paguem as contas atrasadas. Para muitos brasileiros não faltarão recursos. A Caixa calcula que 90% dos 30,2 milhões de pessoas com contas inativas têm até R$ 3 mil para sacar. Uma ótima fonte para renegociar dívidas e sair do vermelho.

Para quem não tem dívidas e deseja realizar sonhos ou mesmo fazer uma reserva de emergência, a melhor opção é investir, ainda que seja na poupança, recomenda o consultor financeiro Rogério Olegário, diretor-executivo da Libratta Finanças Pessoais. ;É melhor do que deixar no FGTS;, destaca.

;As famílias sempre têm gastos com festas de fim de ano, presentes, matrículas escolares, impostos, revisão e seguro do carro. O dinheiro do FGTS pode ser fundamental para que as pessoas comecem a planejar como arcar com esses custos;, destaca o consultor financeiro.

Com a inflação perdendo força e caminhando para fechar o ano abaixo do centro da meta, de 4,5%, até mesmo a poupança, que remunera em 6% ao ano mais TR, surge como uma boa oportunidade. Uma sugestão para quem não vai pagar as dívidas é identificar as principais necessidades que os recursos das contas inativas podem ajudar a satisfazer, e se programar, sugere Olegário.

Imprevistos

A dica de Olegário é importante, sobretudo, em razão do atual momento da economia. Economistas avaliam que o desemprego ainda vai aumentar no primeiro trimestre. Por isso, usar o recurso do FGTS para criar ou aumentar uma reserva financeira é uma boa opção para quem deseja estar preparado para imprevistos.

O conselho segue, inclusive, um dos objetivos para os quais o próprio FGTS foi criado: o de fornecer uma reserva para quem perde o emprego sem justa causa. Para a economista-chefe do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), Marcela Kawauti, é aconselhável que o cotista use os recursos das contas inativas justamente para finalidades como essa.

Antes de o governo liberar o saque das contas inativas, os recursos só podiam ser resgatados em situações específicas: após três anos sem depósitos; em caso de doenças graves; ou para a aquisição da casa própria. No caso de quem pensa em guardar dinheiro para realizar o sonho da moradia, uma opção é o investimento no Tesouro Direto, seja em títulos pós-fixadosTesouro Selic (as LFTs) e Tesouro IPCA (as NTNBs), seja no Tesouro Prefixado.

Outra opção são as aplicações em Letras de Crédito (LCIs e LCAs) ou em Certificados de Depósito Bancário (CDBs). ;Há bancos pequenos que estão lançando CDBs com estrutura muito parecida com a do Tesouro Direto. É interessante porque o investidor pode agendar o vencimento para quando deseja comprar o imóvel;, ressalta Marcela.

Para o investidor que está menos habituado com o mercado financeiro, Tesouro IPCA, Tesouro Selic, LCI, LCA e CDB podem parecer uma verdadeira sopa de letrinhas. Por isso, muitas pessoas certamente investirão na poupança. Como o vendedor Júnior Moreira, 32 anos. ;Falam que, para a compra de um imóvel, há formas melhores de aplicação do que a poupança. Mas não conheço muito investimentos seguros e rentáveis;, justifica ele, que pretende manter o dinheiro na caderneta para comprar um apartamento daqui a dois anos.

Segurança

O temor de Júnior é compreensível, mas, hoje, há muitas corretoras e assessorias especializadas que podem dar todo o suporte ao cotista. Algumas não cobram taxas para custodiar o título. Os próprios bancos também podem ser uma opção. Mas é preciso cuidado, porque, embora tenham noção do perfil do cliente, as instituições financeiras, para cumprir metas, tentam empurrar algum investimento que não seja o melhor para ele.

A forma como cada investidor aplica seus recursos é muito particular. Há perfis mais agressivos e outros mais conservadores. É também delicado recomendar o quanto e em quais aplicações investir. Mas há sugestões para quem vai sacar acima de R$ 5 mil, como o investimento em fundos, CDBs e LCIs, em que a pessoa pode conseguir rentabilidade superior a 100% ao certificados de depósito interbancário (CDI), ressalta o consultor financeiro Mauro Calil, fundador da Academia do Dinheiro.

São investimentos nos quais o cotista pode comprometer o dinheiro por um longo prazo. Afinal, se levar em consideração que os recursos das contas inativas do FGTS só poderiam ser retirados em situações específicas, manter o dinheiro aplicado pensando em um período longo é uma boa opção para quem quer uma rentabilidade maior e está procurando fazer uma reserva financeira.

Rentabilidade

Consumidores que têm até R$ 5 mil para sacar também podem encontrar opções interessantes no mercado. Talvez não com uma grande rentabilidade, mas, ainda assim, melhor que a da poupança. É o caso do Tesouro Prefixado 2023. Tomando o valor do fechamento de sexta-feira, o investidor assegura uma aplicação com rentabilidade de 10,3% ao ano, destaca o planejador financeiro Matheus Portela, da Jeremy Bentham Investimentos.

Ao considerar que a taxa básica de juros (Selic) deve atingir algo próximo de 9% ao ano ainda em 2017, ter uma remuneração de 10% é algo muito positivo para o investidor. ;Mesmo que ele revenda o título no mercado, ainda tem chance de negociar por um bom preço, porque é um papel que ficará muito valioso;, destaca Portela. Outra opção pode ser o Tesouro Prefixado 2020. Com resgate para daqui a três anos, o papel remunera o investidor em 9,95% ao ano.

Se respeitada a data de saque, a garantia de liquidez e a segurança do investimento são certas, ressalta a consultora de investimentos Roberta Borges, da BullMark Financial Group. ;E, mesmo com a Selic caindo, ainda há uma diversidade de títulos que vale mais a pena do que a poupança;, destaca. Outro título que pode ser vantajoso com a queda da Selic é o Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 2027. ;É um papel bom para um investidor mais moderado, que pode se beneficiar mesmo com os cortes da Selic;, avalia Roberta.

No atual quadro econômico, em que a reforma da Previdência está sendo amplamente discutida, pensar em ativos de longo prazo é fundamental para o investidor. ;É a oportunidade para as pessoas comprarem algum título, ou mesmo um plano de previdência privada;, sustenta Roberta.

* Estagiário sob supervisão de Odail Figueiredo

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