Economia

Crise: fechamento de lojas no Distrito Federal é superior ao do país

Com o aprofundamento da crise, entre 2015 e 2016, o número de unidades que encerraram as atividades cresceu 17% na capital. No país, aumento foi de 6,7%, totalizando 108,7 mil empresas

Rodolfo Costa
postado em 02/05/2017 06:00
Com o aprofundamento da crise, entre 2015 e 2016, o número de unidades que encerraram as atividades cresceu 17% na capital. No país, aumento foi de 6,7%, totalizando 108,7 mil empresas

A crise econômica, que destruiu postos de trabalho e provocou a maior retração de vendas no comércio, transformou, em definitivo, o ato de baixar as portas de lojas depois de um dia de atividade para muitos empresários. Ao longo do ano passado, 108,7 mil lojas fecharam em todo o país, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). No Distrito Federal, a recessão foi ainda mais intensa. Na capital federal, o fechamento de unidades comerciais superou o de aberturas em 2,5 mil. O número é 17% maior do que o de encerramento no mesmo período de 2015. No Brasil, o ritmo foi 6,7% superior na mesma comparação.

A empresária Bernardete Martins, 56 anos, está entre os milhares de empreendedores do DF que passaram pela triste experiência de fechar as portas. Das quatro unidades que tinha da rede própria Cirandinha, que vende roupas para bebês e crianças até 10 anos, ela mantém apenas duas. ;Ficou um sentimento de fracasso e frustração. O encerramento das lojas, uma delas no ano passado, foi, para mim, uma tristeza difícil de dimensionar;, conta.

A crise nas vendas foi profunda em todo o Brasil, mas, no DF, as vendas no varejo ampliado ; que insere vendas de veículos e materiais de construção ; recuaram 12,2%, acima da queda nacional de 8,7%.

[SAIBAMAIS]Quando abriu a primeira loja, em 2008, Bernardete tinha esperança de que daria certo e poderia gerar empregos. ;Ao fechar de vez, parecia que eu é que tinha feito tudo errado;, lamenta. Os primeiros anos como empresária da Cirandinha foram promissores. Logo no início, o faturamento da empresa crescia na ordem 20% ao ano. Com a crise, as vendas desabaram. ;A situação começou a ficar ruim em 2014 e, no ano passado, parece que o mundo parou. E janeiro e fevereiro de 2017 simplesmente não existiram;, critica. Com o fechamento das lojas, ela acabou demitindo cerca de 20 trabalhadores.

Massa salarial

Não é à toa que o tormento do fechamento de lojas abalou tanto Bernardete. A crise econômica no DF foi mais profunda do que a média do país. A massa salarial ; a soma de todos os salários pagos aos trabalhadores ; recuou 3,4%, no quarto trimestre do ano passado, em relação ao mesmo período de 2015. No país, a queda foi de 1,25% na mesma base de comparação.

Parte dessa queda na massa salarial é explicada pelo avanço do desemprego, que também foi mais intenso no DF, onde o número de desocupados subiu 52%, no quarto trimestre de 2016, em relação ao mesmo período do ano anterior. No Brasil, esse aumento atingiu 36%. A taxa de desocupação, por sinal, saltou de 9,7% ao fim de 2015 para 13,9% nos três últimos meses de 2016 no DF, uma alta de 4,2 pontos percentuais. Na média nacional, esse avanço foi de 3 pontos percentuais, quando o índice de desemprego fechou a 12% no ano passado.

Com o crescimento do desemprego e a queda real dos rendimentos, os comerciantes que não fecharam as portas apostaram na experiência para não sucumbir à recessão. É o caso do empresário Hamilton Ramos, 59 anos, dono de um armarinho. Em 2016, presenciou de perto os filhos encerrarem as atividades por não suportarem a queda nas vendas. ;A crise afetou todo mundo. Se não tivesse uma experiência de 20 anos no varejo, já teria fechado também. Sinto que o poder de compra dos clientes caiu bastante;, lamenta.

A empresária Marilene Alves, 46, também está segurando as pontas como pode. Dona de um restaurante, amarga a brusca perda de receitas. ;Hoje, trabalho para praticamente pagar as contas básicas, como aluguel, água, luz e impostos. A minha sorte é que meu irmão trabalha comigo, faz a comida e evita um gasto grande com a folha de pagamento;, diz.

As observações de Marilene são pertinentes. Além da crise econômica, outros elementos ajudam a explicar a crise do varejo no DF: falta de segurança; ausência de estacionamentos; e aluguéis. É o que avalia o presidente do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista-DF), Edson de Castro. ;O comerciante que ainda está com as lojas abertas mal consegue pagar as despesas;, diz. (Colaborou Renato Souza)


"A situação começou a ficar ruim em 2014 e, no ano passado, parece que o mundo parou. E janeiro e fevereiro de 2017 simplesmente não existiram;
Bernardete Martins, empresária

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