Economia

Venda de ações antes de delação garantem R$ 475 mi a donos da JBS

Suspeitas, as operações são investigadas pela Comissão de Valores Mobiliários, que abriu cinco processos, e pelo BC

Rosana Hessel
postado em 23/05/2017 06:03
Enquanto o país amarga uma crise política sem precedentes, que vai adiar a recuperação da economia, a família Batista acabou lucrandopelo menos R$ 475,6 milhões em operações suspeitas, quase o dobro dos R$ 225 milhões que pagarão à Justiça. Os donos da JBS, protagonistas da delação premiada que abalou os alicerces do governo de Michel Temer, venderam 32,9 milhões de ações em abril, depois de realizada a gravação com o presidente, ao valor médio de R$ 10, compondo o total de R$ 329 milhões. Esses papéis valem hoje, depois da delação, R$ 196,74 milhões. Assim, deixaram de perder R$ 132,26 milhões, conforme estimativas preliminares e não oficiais.

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Os controladores também venderam 20 milhões de ações, no valor de R$ R$ 200 milhões, à própria tesouraria da JBS. Nesse caso, pouparam R$ 80,4 milhões, pois os papéis valem hoje R$ 119,60 milhões. Na primeira venda, o prejuízo ficou com os compradores. Na negociação com a JBS, as vítimas foram os acionistas minoritários. Nas duas operações, o ganho estimado é de R$ 212,66 milhões. Além disso, há suspeita de que a família Batista tenha comprado R$ 1 bilhão em dólares e ganhado cerca de R$ 263 milhões no mercado de câmbio, depois da delação, quando a moeda norte-americana disparou.

O uso de informação privilegiada e a manipulação de mercado são crimes previstos na Lei n; 6.385, com pena de um a cinco anos de prisão. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu cinco processos administrativos para investigar operações consideradas irregulares. O Banco Central também investiga a JBS por transações suspeitas no mercado futuro de dólar e de derivativos. As investigações da CVM estão sob sigilo, mas qualquer pessoa pode pedir vista do processo por meio do serviço de atendimento ao cidadão, no site da autarquia. O órgão não revelou quando pretende concluir as investigações.

Procurada, a JBS informou, em nota, que ;todos os atos ilícitos que a companhia e seus executivos cometeram no passado foram comunicados à Procuradoria-Geral da República e estão documentados nos autos da delação premiada homologada pelo Supremo Tribunal Federal;. ;As informações, dados e provas encontram-se em poder da Justiça, órgão responsável pela avaliação de tais documentos. A companhia segue em seu firme propósito de colaborar com a Justiça brasileira no combate à corrupção no país;, acrescentou.


Tombo


As ações da JBS foram as que mais se desvalorizaram ontem na Bolsa de Valores de São Paulo (BM), graças às turbulências políticas e também ao rebaixamento da nota da companhia, anunciado pela agência de classificação de risco Moody;s. O tombo foi de 31,34% e o papel encerrou o dia cotado a R$ 5,98. O prejuízo para os acionistas em valor de mercado foi de R$ 7,4 bilhões. A JBS informou que ;as operações continuam em ritmo normal, dentro do plano de negócios;. ;A empresa tem uma situação financeira robusta e confia na qualidade de seus produtos e serviços;, adicionou.

Esse movimento de queda da JBS deverá ser frequente daqui para frente, na avaliação da Marco Saravalle, analista da XP Investimentos. ;Por enquanto, foi um ataque especulativo, mas, quando as investigações de irregularidades forem concluídas e confirmadas, é possível que a queda seja maior;, avisou.

Embalado pelo recuo das ações da JBS, o Ibovespa, principal indicador da bolsa paulista, voltou a fechar no vermelho. Especialistas avaliam que os investidores estão em compasso de espera, aguardando os desdobramentos da semana. ;Vai ser difícil acalmar o mercado. A incerteza é praticamente completa. Por isso, é preciso ficar quieto, esperando algum sinal;, explicou o economista-chefe do banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves.

Ontem, o Ibovespa recuou 1,54% e encerrou o pregão a 61.673 pontos. O dólar iniciou o pregão em alta e atingiu o pico de R$ 3,31 para a venda às 12h29, com alta de 1,65% sobre o fechamento de sexta-feira. Mas, com a nova intervenção programada do Banco Central, que vendeu 40 mil contratos de swap cambial, a moeda norte-americana encerrou o primeiro dia da semana em queda de 0,61%, cotada em R$ 3,27.

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