Economia

Cenário externo atenua efeito de resultado do julgamento do TSE no mercado

Analistas acreditam em continuidade da gestão macroeconômica, mesmo que resultado do julgamento seja insuficiente para fortalecer o governo

Mônica Izaguirre - Especial para o Correio
postado em 09/06/2017 06:00
Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim:
O mercado financeiro não tem ilusões de que o governo Michel Temer sairia fortalecido para tocar sua agenda de reformas econômicas, na hipótese de vencer a batalha jurídica que trava por sua sobrevivência. Uma eventual vitória no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é vista como insuficiente para neutralizar o desgaste e os riscos políticos decorrentes do envolvimento do nome do presidente da República nas delações do dono da JBS, Joesley Batista, ao Ministério Público Federal.
A possibilidade de o governo sair do julgamento tão fragilizado quanto já está, porém, não é, por si só, fator de deterioração de expectativas em relação a indicadores econômicos importantes, pelo menos não no curto prazo. Isso dependeria de novos fatos. Num cenário de continuidade do governo Temer, há fatores que favorecem o bom comportamento de câmbio, juros e inflação.

Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim, destaca entre eles a situação do mercado financeiro internacional. O momento é de liquidez e de baixa aversão a risco. Ou seja, há recursos e disposição de investidores internacionais de aplicar dinheiro em países emergentes, como o Brasil. ;O cenário lá fora está tranquilo. Isso atenua o impacto da crise política. Dá para dizer que, a curto prazo, os mercados vão bem no Brasil e no mundo;, afirma.


Aventura

Também ajuda a crença de que, mesmo fraco, o governo não vai alterar a gestão macroeconômica. Saber que, com Temer no governo, ;não haverá populismo, não haverá aventura na gestão da economia ajuda a tranquilizar o mundo dos negócios;, disse Padovani.

Mesmo que vença no TSE, ;o governo sai fragilizado; em função das delações da JBS, reconhece. ;O cenário continua de muito alto risco;, disse Padovani. Rafael Cortez, sócio e analista da Consultoria Tendências, lembrou que uma eventual decisão favorável do TSE não garante que Temer conseguirá acabar o mandato. Afinal, existe, na visão dele, o risco de que as delações de Joesley Batista possam resultar em denúncia do Ministério Público contra o presidente. Caberia ao Supremo Tribunal Federal (STF) aceitar ou não a denúncia e julgar o caso. ;Esse é um risco político muito relevante;, afirma.

Cortez cita ainda risco de enfraquecimento da base governista no Congresso com a possível saída do PSDB. A aproximação do período de campanha eleitoral tenderia a esvaziar ainda mais a base aliada, dificultando as reformas necessárias para a economia, a principal delas, a da Previdência Social. ;A tendência é de que a lógica eleitoral afete cada vez mais a base de apoio para votação das reformas.;

Carlos Thadeu de Freitas Gomes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), também acredita que a fraqueza política do governo neste momento não é motivo para sobressaltos maiores no mercado financeiro. ;Não há espaço maior para volatilidade de câmbio e juros;, disse. Ele explicou que a demora no atraso da agenda de reformas importantes para a economia já está precificada na cotação de ativos, como o dólar. Além disso, existe, segundo ele, uma convicção forte da maior parte dos agentes econômicos de que, mesmo com atraso, as reformas vão sair, em especial a da Previdência.

;O mercado já precificou que a reforma vai sair porque simplesmente não há alternativa;, afirmou o economista da CNC. As regras da Previdência precisam mudar, pois, do contrário, a dívida pública seguirá trajetória insustentável, explicou.

;As reformas estão no radar. Por isso, estamos vendo menos volatilidade;, disse ele, referindo-se a câmbio e juros. O economista da CNC destacou ainda o poder de fogo do Banco Central para intervir no mercado de moeda estrangeira. Mesmo com governo fraco e atraso de reformas, isso também o leva a trabalhar com a improbabilidade de uma disparada do preço da moeda americana no atual cenário. As reservas cambiais da autoridade monetária, na casa dos US$ 380 bilhões, dão tranquilidade ao BC.

De todos os analistas ouvidos pelo Correio, o mais otimista é José Luiz Rodrigues, sócio da JL Rodrigues, Carlos Atila e Consultores Associados. Mesmo num cenário de sobrevida com fragilidade do governo Temer, ele não espera sobressaltos no mercado financeiro. Com tanta instabilidade política nos últimos tempos, o mercado aprendeu a trabalhar assim, explicou. Como fator de estabilidade dos mercados, ele destacou a determinação de Temer de manter a atual gestão da política econômica.

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