Economia

Criação de suínos com respeito aos animais resulta em carne saborosa

Criação de suínos com respeito aos animais, sem provocar sofrimento e estresse, resulta em carne mais saborosa e atende às exigências do mercado internacional

Marlene Gomes - Especial para o Correio
postado em 19/06/2017 07:00
Em baias coletivas, as fêmeas passam o período de gestação em grupos, com espaço adequado, e não disputam alimentos ou água
Pernil, lombo ou costelinha. A carne suína é apreciadíssima em diversos países. E cada vez mais vem conquistando a mesa dos brasileiros, não somente porque é saborosa, mas também por causa do preço, muitas vezes inferior em relação ao corte bovino. Por trás desta carne rica em vitamina B1, ferro, selênio e zinco, com baixo teor de colesterol e com baixo teor de gordura, ao contrário do que se acreditava, existe uma agroindústria que utiliza a técnica do bem-estar animal para evitar situações de fadiga para os suínos.
A fazenda Miunça, localizada no Programa de Assentamento Dirigido do Distrito Federal (PAD-DF), foi pioneira no Brasil na implantação da tecnologia exigida pela União Europeia, em 2010. Hoje, a técnica do bem-estar funciona em 100% da granja de suínos, o que garante respeito aos animais e ao meio ambiente. Sem violência, sofrimento e o estresse contínuo, os animais agradecem. O resultado é uma maior produtividade, além de uma carne ainda mais saborosa, para o consumidor final.
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O proprietário da fazenda Miunça, Rubens Valentini, abandonou o sistema convencional de criação de suínos e abraçou o conceito de uma suinocultura baseada em princípios, como respeito aos animais e sustentabilidade. O novo modelo implantado na granja de suínos, denominado baia coletiva, possibilita gestações coletivas. As fêmeas reprodutoras passam o período de gestação em grupos, geralmente com 10 porcas, em um ambiente com espaço adequado, no qual têm liberdade de movimentos, não disputam alimentos ou água.
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Para adequar a granja, Rubens Valentini importou o sistema automatizado ESF (Eletronic Sow Feeding), da fabricante austríaca da Schauer, um equipamento com corredores e portas de entrada e de saída, permitindo o fornecimento individualizado de ração. Um chip é instalado na orelha de cada matriz, o que permite o armazenamento individual de informações, o acompanhamento eletrônico e um rigoroso controle automatizado das condições físicas do animal.

A máquina de alimentação fornece, com precisão, a dosagem de ração específica de cada animal, de acordo com o peso, período de gestação e genética da matriz. ;Digo que o restaurante abre à 1h da manhã e fecha às 8h da noite;, brinca Valentini. ;Cada uma come na hora que quer e a quantidade que precisa;, afirma. Cada matriz fica prenha duas vezes e meia, por ano, em média. A gestação dura cerca de 116 dias e nascem em torno de 15 leitões. Além da produtividade, o sistema de bem-estar apresenta outra vantagem ; cada leitão nasce pesando 1,5 kg a mais, em média, do que no sistema convencional, em que ficam 24 dias no local até o desmame. Cerca de 30 dias após o parto, as matrizes já estão prenhas novamente.

Creche
A maternidade da fazenda não para. No local, são realizados 140 partos por semana, com o nascimento de 2,1 mil leitões, média de 300 porquinhos por dia. Visando o bem-estar dos filhotes, a fazenda Miunça vai construir uma creche para que esses leitões permaneçam no local nas primeiras oito semanas de vida, após o desmame. O local será climatizado e terá iluminação específica e restaurante, com ração individualizada de acordo com a idade e a necessidade do animal.

A tecnologia é austríaca, sendo que os equipamentos já foram importados. A creche começa a funcionar em setembro. ;Os investimentos resultam em mais qualidade dos produtos, maior velocidade de crescimento dos animais e maior conversão alimentar;, explica. Hoje a fazenda tem cerca de 4 mil animas, entre matrizes e leitões. ;Com a tecnologia, acabaram o desconforto e a agressão aos animais, diminuiu o estresse e melhorou a produtividade da granja;, diz o fazendeiro.
País precisa se adequar às normas
Proporcionar o bem-estar na criação de animais é obrigação na legislação de vários países, uma demanda influenciada pelos consumidores. Em 2002, o Real Decreto 1135, da Comunidade Europeia, estabeleceu normas mínimas de proteção dos suínos confinados para efeitos de criação e engorda. Desde 2013, não é permitida, em nenhum país da Europa, a utilização do sistema convencional de gaiolas individuais de gestação de suínos. No Canadá, a prática será banida até 2024. Nos Estados Unidos, já foi banida em 10 estados.

No Brasil, não existe legislação específica sobre o assunto. Mas o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) trabalha para conscientizar os produtores nacionais sobre a importância de adoção de boas práticas e bem-estar dos animais, do nascimento à criação, transporte e abate dos animais.Um acordo de cooperação com a Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS) proporciona treinamento e capacitação.

;O Plano Safra, por meio do Inovagro, tem uma linha de crédito para financiar inovações
tecnológicas nas propriedades rurais, com o objetivo de aumentar a produtividade, a adoção de boas práticas de gestão e de agropecuária e a inserção competitiva dos produtores rurais nos diferentes mercados consumidores. A taxa de juros é de 6,5%, ao ano;, explica Charlie Ludtke, coordenadora da secretaria de Mobilidade, do Produtor Rural e do Cooperativismo do MAPA.

O Distrito Federal tem 11 mil matrizes que produzem 330 mil suínos por ano. A produção anual é de 19,8 mil toneladas e o consumo é igual ao da média nacional, de 15 a 16 quilos per capita por ano. Vinte e cinco produtores, que trabalham em escala industrial, são responsáveis por 90% da produção local, mas a cidade tem cerca de 150 pequenos criadores. O faturamento é de cerca de R$ 132 milhões. ;Queremos produzir, com qualidade, toda a carne que é consumida no DF. Para isso, os produtores locais utilizam a tecnologia e trabalham respeitando o meio ambiente e os animais;, diz Rodrigo Bezerra Fernandes Batista, presidente do Sindicato dos Criadores de Suínos do DF (Sindsuínos).

O Brasil exportou 198 mil toneladas de carne suína in natura no primeiro quadrimestre de 2017. O resultado é 1% superior ao recorde histórico de 192,6 mil toneladas atingido no ano passado. O número foi comemorado pelos produtores, principalmente porque demonstra uma recuperação das exportações do produto, depois da divulgação dos resultados de Operação Carne Fraca da Polícia Federal, em março. ;O bom desempenho mantém positiva a expectativa para o resultado anual, com possibilidade inclusive de superar o recorde de 733 mil toneladas alcançado em 2016;, afirma o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Marcelo Lopes.

A média diária exportada em abril foi de 2,47 mil toneladas por dia, superior à registrada no mês de março, que ficou em 2,38 mil toneladas por dia. Mas o volume exportado foi de 44,5 mil toneladas, retração de 18,7% em relação ao mês anterior, porque abril teve menos dias úteis.

De acordo com o presidente da ABCS, o panorama deste ano para a suinocultura se mantém favorável aos produtores devido à alta das exportações, preço do suíno vivo estável e custos com tendência de queda. ;É o momento de recuperar as perdas e voltar a investir;, diz Lopes. (MG)

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