Economia

Governo deve elevar PIB de 2018 para 3%

Se a taxa de crescimento subir 1 ponto percentual, a receita do governo poderá aumentar de R$ 13 bilhões a R$ 15 bilhões, pelas estimativas de especialistas. Esse recurso adicional, no entanto, não poderá ser usado para aumentar despesa

Rosana Hessel
postado em 18/09/2017 06:02
O otimismo do mercado financeiro, que ajudou a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) a romper a barreira dos 75 mil pontos na semana passada, tem feito a equipe econômica cogitar aumento na previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2018, dos atuais 2% para 3%. Essa ampliação de 1 ponto percentual (p.p.) na taxa de crescimento do ano que vem permitiria um incremento de R$ 15 bilhões apenas nas receitas com impostos do governo, pelos cálculos de Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria. Já nas contas do economista Luka Barbosa, do Itaú Unibanco, o montante será um pouco menor, de R$ 13 bilhões.

O dinheiro adicional não poderá ser utilizado pelo governo em aumento de despesa, avisam os analistas. ;Esses recursos não representarão uma folga no Orçamento, porque já está com os gastos limitados pela emenda do teto (de 3% conforme a inflação de 12 meses até junho no ano que vem) e o governo não poderá ultrapassá-lo. Ele poderá usar essa receita para diminuir a meta fiscal;, explica o especialista do Itaú Unibanco. A instituição começou o ano com uma das previsões mais otimistas do mercado para 2018, mas, em meio à crise política estourada em maio com a delação premiada dos donos da JBS, reduziu a taxa de 4% para 2,7% e preferiu manter as perspectivas agora neste patamar devido ao cenário político ainda muito incerto, informa Barbosa.

A mediana das estimativas do mercado medida pelo boletim Focus do Banco Central para o PIB em 2018 passou de 2% para 2,1%, na semana passada. ;Todo mundo revisou as estimativas para baixo em maio com a crise política e, agora, com esse clima mais otimista, apesar da continuidade da crise política, está revisando para cima. O governo também tem dado sinais de animação com essa retomada e é possível que aumente as projeções;, conta Alessandra, que manteve a projeção de alta de 2,8% para o PIB no ano que vem.

O economista Braulio Borges, da LCA Consultores, no entanto, acredita que é pouco provável que a economia brasileira consega crescer 3% no ano que vem, mesmo que a Selic (taxa básica de juros) chege em 7% ao ano, como está previsto na mediana das previsões do boletim Focus. ;O bom desempenho dos setores que estão puxando a alta do PIB em 2017 não deve se repetir em 2018, como é o caso da agricultura, que, neste ano, está com o clima favorável. A indústria automobilística, que vem se recuperando devido às exportações, também não deverá ter o mesmo desempenho no ano que vem;, alerta ele, jogando balde de água fria no clima de euforia atual.

Marcel Balassiano, pesquisador da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), também acredita que será um desafio grande para o governo fazer o PIB crescer 3% em 2018. ;Há muitas incertezas no radar e o principal gargalo para esse crescimento serão os investimentos, que devem encolher 4,6% ainda neste ano porque a confiança ainda não se recuperou;, destaca. Ele lembra que o PIB potencial hoje está abaixo de 2%, e, para o país crescer em ritmo mais acelerado, é preciso que a taxa de investimento fique acima da média mundial, de 25% do PIB. Para piorar, de acordo com dados da Tendências, a taxa de investimento em relação ao PIB, que é o principal motor para o crescimento sustentável, continuará abaixo de 20% do PIB até 2025, ;na melhor das hipóteses;. ;As condições do mercado internacional hoje estão favoráveis, pois não há nenhuma crise externa que possa prejudicar a retomada da economia. O maior risco hoje de a economia travar são as eleições de 2018;, afirma Alessandra.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, está entre os mais otimistas. Aposta em alta de 3% no PIB do ano que vem. ;Neste ambiente político nuclear, a economia segue impávida. Mesmo o terremoto de maio não afetou a trajetória esperada e voltamos à expectativa de crescimento que se tinha antes do imbróglio de maio;, afirma ele, reconhecendo que a retomada dos investimentos ainda é marginal, principalmente, na indústria devido à capacidade ociosa elevada.

Os números ainda não estão fechados e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem sinalizado aos seus interlocutores que a nova previsão será ;acima de 2%;. A expectativa é que as novas projeções sejam anunciadas na próxima sexta-feira, quando o governo vai divulgar o relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas e ainda anunciará o desbloqueio de R$ 8 bilhões a R$ 10 bilhões dos R$ 45 bilhões do Orçamento que estão contingenciados. Já a taxa de expansão do PIB de 2017 passará de 0,5% para algo entre 0,7% e 0,8%. No entanto, alguns membros da equipe querem deixar essa mudança para o último relatório bimestral do ano, de novembro.

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