Economia

Hora de negociar renovação de mensalidade é agora

Pais devem procurar escolas já, antes da confirmação da maior parte das matrículas

Anna Russi*, Rodolfo Borges
postado em 22/10/2017 06:05
Para Olegário, diálogo tem de ser franco sobre dificuldades financeiras

É chegada a hora de discutir a renovação das matrículas escolares. Na medida em que o ano está perto do fim, mães e pais já começam a fazer os cálculos de quanto gastarão com a mensalidade escolar dos filhos em 2018. Em um país que sai da maior recessão da história, em que muitos dos chefes de família nem sequer tiveram reajustes salariais, é preciso muito jogo de cintura e diálogo para manter as crianças em um colégio privado. Para isso, é importante se preparar para as negociações com as escolas.

Antes de qualquer acordo, no entanto, é indispensável sentar e conversar com os filhos. Afinal, são eles os principais interessados em continuar ou não na escola atual, tendo em vista que uma mudança indesejada pode comprometer o rendimento escolar. O diálogo é essencial para evitar uma possível frustração da criança ou do adolescente. Com o sinal verde, é hora de negociar.

Quanto antes os pais conversarem com os filhos e procurarem a escola para um acordo em relação à mensalidade, melhor, avalia o consultor financeiro Rogério Olegário, da Libratta Finanças Pessoais. ;Nesta época, muitas escolas ainda não se organizaram para o próximo ano. Logo, não têm ideia ainda de quantas crianças serão matriculadas. Quem deixar para negociar mais à frente, quando a escola já estiver cheia de alunos, tem mais chances de se deparar com uma negativa de desconto;, ressalta.

Além de agilidade no diálogo com as instituições de ensino, é importante que as negociações ocorram pessoalmente. O olho no olho com algum representante que tenha poder para celebrar o acordo será sempre melhor do que telefone, e-mail, ou outras ferramentas de comunicação. Ao barganhar, é importante questionar o aumento e exigir transparência do colégio acerca das razões para o percentual de reajuste.

Ao exigir que a escola seja transparente, é importante também ser sincero. Caso a correção na mensalidade exceda o montante disponível no orçamento para custeio com a educação dos filhos, não tenha vergonha de expor os problemas financeiros. ;Não é errado dizer quais compromissos tem para pagar. Isso dá poder argumentativo para pedir uma redução;, sustenta Olegário.

Concorrência

Por mais que a escolha do filho seja permanecer no colégio atual, apresentar uma proposta da concorrência na negociação ajuda. ;Falar tanto das propostas educacionais de outras escolas quanto dos preços garante uma boa argumentação;, diz Olegário.

Estar munido de informações macroeconômicas, como inflação, também é boa ideia, avalia o consultor. ;Leve já os dados sobre a variação de preços relacionados à educação. Na mesa de negociações, use os números como um arsenal de argumentos;, acrescenta Olegário.

Usar a inflação da educação como argumento é uma boa estratégia. No acumulado em 12 meses encerrados em setembro, os preços de bens e serviços ligados ao ensino registraram alta de 7%. É o que se vê na abertura do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Por mais que tenha sido quase o triplo do custo de vida médio geral para o período, é o menor crescimento nessa base comparativa desde fevereiro de 2011.

O problema é que o índice não é um parâmetro único para as escolas embasarem os aumentos. Custos podem variar bastante dependendo do estado, da cidade, ou mesmo do bairro em que está a escola. E, ainda que se tenha acesso às despesas específicas de cada estabelecimento, é importante ressaltar que os preços são livres. Nada impede que a instituição decida aumentar investimentos, recompor a margem de lucro que foi reduzida em meio à recessão dos últimos anos ou, simplesmente, ampliá-la diante da avaliação de que o mercado permite que assim se faça.

Em grande parte dos casos, o que se vê é a aplicação de reajustes próximos ao custo de vida médio com educação, mas isso está longe de ser um alívio. A servidora pública Mônica Zampieri, 39 anos, por exemplo, critica o fato de o colégio do filho mais velho, de 7 anos, ter anunciado um ajuste de 8% na mensalidade. ;Levando em consideração que eu não tive reajuste, e que o salário do meu marido foi corrigido em apenas 5%, é um aumento que vai pesar no nosso orçamento;, diz.

O aumento estimulou Mônica a procurar o diretor financeiro da escola para pedir o desconto. Afinal, esse não é o único custo educacional com que a família precisa enfrentar. Para 2018, o casal também terá gastos com creche para o filho mais novo, de 11 meses. Fora as despesas com a mensalidade da enteada, que cursa faculdade de Direito, ela prevê que, somados, todos os gastos com educação responderão por cerca de 40% do orçamento. ;Tivemos que vender nosso carro e comprar um mais barato para acomodar todas essas mensalidades dentro do que recebemos;, afirma.

Mãe de três crianças, a advogada Vânia Pereira de Oliveira, 44 anos, está preocupada com a renovação das mensalidades. Embora o colégio ainda não tenha informado oficialmente sobre os reajustes, pais e mães foram chamados para uma reunião. ;Eu ainda não renovei a matrícula e estou pesquisando os valores em outras instituições particulares;, diz.

Por meio de negociação, Vânia espera conseguir manter os filhos na escola e, assim, evitar matriculá-los no sistema público. ;Já tentei transferi-los há alguns anos. Desisti porque onde moro, na Asa Norte, não é tão fácil ter vaga na rede pública;, lamenta. Todo ano, destaca, tem feito um sacrifício em prol da educação das crianças, e, em 2018, não será diferente. ;Teremos que cortar alguns gastos com viagens e festas de aniversários. Por isso, buscamos atividades de lazer em família. Não queremos ter gastos durante o período de férias de fim de ano;, comenta.

Contrato

A mudança de instituição deve ser a última opção a ser escolhida. Por isso, a negociação é tão importante, aponta o presidente da Associação de Pais e Alunos das Instituições de Ensino do Distrito Federal (Aspa-DF), Luis Cláudio Megiorin. ;Escola não é como um plano de telefonia, que tem portabilidade. Não devemos mudar de escola, mas mudar a escola. Cada mudança gera sofrimento e um processo de adaptação para a criança;, destaca.

O ideal, avalia Megiorin, é que transferências aconteçam apenas em dois casos: falta de confiança na proposta pedagógica; ou na perda da confiança na capacidade da escola em cuidar da integridade física e moral. ;Por lei, os pais têm total direito de procurar um acordo com a escola;, ressalta. Ele adverte que, fechada a negociação, é importante que tudo esteja previsto em contrato. ;Tudo deverá estar documentado. Desde o valor da nova mensalidade a custos com formatura e passeios;, alerta.

* Estagiária sob supervisão de Paulo Silva Pinto


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