Economia

Empresários analisam desempenho do Brasil em 2017 e fazem planos para 2018

Para ter um panorama mais preciso das ambições das companhias no ano que vem - e registrar de que forma elas podem contribuir para virar de vez a página da crise - a reportagem entrevistou empresários, executivos e representantes de entidades setoriais

Amauri Segalla, Lino Rodrigues
postado em 07/12/2017 06:00

Empresário falam sobre investimentos em 2018

São Paulo ;
A economia brasileira está longe de deslanchar, mas ela atingiu aquele ponto em que já é possível afirmar com certeza: a questão não é saber se o país vai crescer, mas quanto. Todas as projeções mostram um salto mínimo de 2,5% em 2018, mas há quem fale em avanço de 4%, o que seria o melhor resultado desde 2010. Para ter um panorama mais preciso das ambições das companhias no ano que vem ; e registrar de que forma elas podem contribuir para virar de vez a página da crise ; a reportagem entrevistou empresários, executivos e representantes de entidades setoriais. O resultado da consulta indica um futuro promissor, mas ainda com enormes desafios.


;No ano que vem, vamos injetar a maior parte do nosso ciclo de R$ 1,5 bilhão de investimentos, que termina em 2021;, afirma Roberto Cortes, presidente da MAN para a América Latina. ;Independentemente de cenário positivo ou negativo, temos que estar sempre investindo para não perder a capacidade de competir. Em 2018, as vendas vão crescer cerca de 10%. É um número bom, mas que ainda não recupera a queda de 70% nos últimos cinco anos. De qualquer forma, só o fato de a economia estar em uma trajetória de alta é algo a se comemorar.;

A indústria começa de fato a se recuperar depois de três anos consecutivos de queda livre. Nesta semana, saíram os novos resultados do setor. Em outubro, a produção industrial cresceu 0,2% na comparação com o mês anterior, um avanço apenas tímido. O importante, nesse caso, é comparar o período atual com o mesmo mês do ano passado. Se isso for feito, o salto chega a 5,3%, ou à sexta taxa positiva seguida. Para 2018, as projeções são ainda mais otimistas. ;Vamos investir em inovação e lançamento de novas linhas de produtos em 2018 para enterrar, definitivamente, essa angustiante fase de recessão que atravessamos;, diz Cleber Morais, presidente da Schneider Electric.

Apesar dos ventos favoráveis, a indústria está longe de recuperar o rigor. Vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), José Ricardo Roriz Coelho está angustiado com a perda de relevância do setor. ;Em 2018, a indústria deve fechar com 11,1% de participação no PIB. Com esse resultado, regrediremos 65 anos;, afirma. Qual é a saída? ;Temos a expectativa de que a reforma da Previdência passe, mas é preciso também acelerar a Reforma Tributária. O problema é que discutimos isso há 30 anos e nenhum governo assume essa bandeira. Quem sabe a partir de 2019.;

Os problemas afligem diversos segmentos da indústria. O presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Fernando Figueiredo, diz que as empresas do setor químico não têm investimento previsto pelos próximos cinco anos devido à grande capacidade ociosa, com uma média acima de 20%. Segundo o executivo, mesmo que o país volte a crescer, as empresas vão utilizar essa capacidade para atender uma possível expansão da demanda.

Além da ociosidade, ele reclama do alto custo das matérias-primas e da energia utilizadas na produção. No Brasil, o preço do nafta é 102% superior aos valores praticados em outros países concorrentes. Por aqui, o gás custa três vezes mais do que nos Estados Unidos e a energia elétrica é 40% mais cara. ;É lamentável essa elevada capacidade ociosa e esses custos que quase inviabilizam a nossa atividade;, diz Figueiredo.

Em relação à previsão do governo, de que o PIB brasileiro crescerá em torno de 2% em 2018, o executivo diz que, se isso realmente acontecer, o setor químico deverá avançar 2,25%. ;É uma vergonha comemorar um crescimento de 2% para um país com o potencial do Brasil;, critica o chefe da Abiquim.

Alguns setores estão em situação bem mais confortável. Poucos deles apresentam perspectivas tão favoráveis quanto o varejo. Com o consumo em alta e a volta da confiança dos brasileiros, as grandes redes começam a faturar alto. ;O ano de 2017 foi fantástico para a nossa empresa;, diz Frederico Trajano, presidente do Magazine Luiza, lembrando que as ações de sua companhia foram as que mais se valorizaram na bolsa. ;Acredito que 2018 será um ano que nos fará esquecer a crise recente, com a volta dos bons indicadores ao varejo. As vendas já estão crescendo e, se tudo continuar caminhando para frente, teremos um 2018 muito melhor.;

O mesmo otimismo é observado no turismo. ;A demanda que ficou reprimida durante a fase mais aguda da recessão voltará com força em 2018;, diz Guilherme Paulus, fundador da CVC e atual presidente do grupo hoteleiro GJP. ;Ainda não sei qual será o valor dos nossos investimentos, mas posso garantir que vamos continuar de forma intensa.;

Crises são sempre experiências traumáticas e seria um exagero dizer que elas trazem aspectos positivos. Mas é inegável que episódios ruins sempre trazem ensinamentos. ;Uma coisa descobri na vida: quando a gente não ganha, aprende;, afirma Sonia Hess, fundadora da Dudalina. ;Aprendemos muito com os tropeços da economia nos últimos anos. Por isso estão mais fortes e experientes. Agora, sabemos que a recuperação está no horizonte.;

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