Economia

Saiba até onde o Nubank pode chegar no mercado de cartões

O desafio agora é enfrentar a concorrência dos bancos tradicionais

Lino Rodrigues
postado em 21/12/2017 06:00

São Paulo ; Depois de causar uma revolução no mercado de cartões de crédito, oferecendo uma experiência totalmente digital por meio de um aplicativo de celular, a startup Nubank quer fazer o mesmo no terreno dos bancos tradicionais. Desde agosto, a empresa está testando uma experiência também digital nas contas-correntes e investimentos. Com previsão de chegar ao mercado em 2018, a iniciativa vai permitir que o cliente guarde, invista e transfira seu dinheiro de maneira eletrônica. ;Assim como fizemos com o cartão de crédito, imaginamos como seria uma conta que fosse inventada para os dias de hoje, sem burocracia, sem tarifas abusivas e com funcionalidade;, diz David Vélez, CEO e fundador da startup. Na semana passada, a empresa deu o primeiro passo para a internacionalização, com a abertura de um escritório em Berlim, na Alemanha.

Desde que lançou o cartão de crédito internacional sem tarifa ou anuidade, em setembro de 2014, o Nubank se tornou um fenômeno entre as fintechs brasileiras e um exemplo a ser seguido por outras empresas digitais que estão nascendo. Os números alcançados em apenas três anos de operação são comparáveis aos de instituições financeiras tradicionais: foram 13 milhões de pedidos para o cartão, mas o Nubank selecionou apenas 2,5 milhões. Outras 500 mil pessoas aguardam em fila de espera.

O sucesso pode ser medido pelo percentual de jovens que aderiram ao novo serviço (70% dos usuários têm menos de 36 anos) e pelo volume de dinheiro conseguido em cinco rodadas de investimentos (US$ 180 milhões). Recentemente, a empresa anunciou aumento de sua linha de crédito de recebíveis com o Goldman Sachs e o fundo Fortress Investment Group, para R$ 455 milhões. ;Nosso objetivo foi ganhar uma fatia do mercado bancário tradicional, começando pelos jovens, que são mais abertos a utilizar a tecnologia;, diz Vélez.

O executivo lembra que, nas conversas com empresários e ex-presidentes de bancos, ainda na fase de planejamento do Nubank, ouvia deles que não conseguiria fazer a empresa prosperar em um mercado concentrado como o brasileiro. ;Eles disseram que eu era gringo, que não conhecia o Brasil, nem o poder dos bancos, e que o setor financeiro iria acabar comigo;, diz. Como o futuro mostrou, todos erraram nas previsões. A ironia é que, com o tempo, o Nubank passou a ameaçar exatamente os que duvidaram de seu potencial. Hoje em dia, está no radar dos grandes bancos, que começaram a se mexer para oferecer produtos semelhantes.

Segundo Vélez, a maior dificuldade no início foi desenhar a operação para um mercado com um arcabouço regulatório enorme e convencer as pessoas de que a crença convencional de que seria impossível para uma startup entrar no mercado financeiro não era verdadeira. ;É um setor muito fechado, que protege as cinco maiores instituições, mas acho que o mercado está agora aberto a inovações;, diz o fundador. ;O Banco Central admite o problema da concentração bancária e quer mais concorrência, mais empresas brigando. Isso foi uma surpresa muito grande para nós;, conta Vélez, que ainda depende de uma licença do BC para a sua operação no Brasil. O pedido da licença para operar como instituição financeira foi feito há dois anos e, segundo ele, a empresa tem conversado com as autoridades e feito ;tudo que mandam, passo a passo;, sempre com a ajuda de advogados.

Para encurtar o caminho no BC, o Nubank contratou Gustavo Franco, ex-presidente da instituição, que traz na bagagem experiência suficiente no mercado bancário para superar qualquer entrave. Franco terá também a missão de conselheiro nas estratégias da empresa. ;Ele traz uma série de experiências complementares às minhas. A chegada do Gustavo como conselheiro vai nos ajudar a dar visibilidade ao regulador;, afirma Vélez.

Especialistas que acompanham a trajetória da startup alertam para alguns problemas que podem surgir com a entrada do Nubank na seara dos bancos. Para ingressar nesse mercado, a empresa terá que seguir as regras impostas pela legislação aos outros competidores, como auditorias, tesouraria e compliance, o que vai demandar custos extras. A dúvida dos especialistas é como fechar as contas e manter as vantagens para os clientes com um custo mais elevado.

De acordo com os números do primeiro semestre do ano, o Nubank registrou prejuízo de R$ 39 milhões. No período anterior, as perdas foram de R$ 122 milhões. Embora a situação financeira tenha apresentado melhora, a expectativa dos analistas é de que a nova operação possa elevar novamente os prejuízos do Nubank.

Para Renato Ramalho, sócio da A5 Capital Partner, a intenção do Nubank sempre foi se tornar um banco e agora vai aproveitar os milhões de usuários captados com o cartão de crédito para chegar ao objetivo, oferecendo cada vez mais serviços bancários. Segundo ele, o BC vem criando uma série de regulamentações que já permitem à startup fazer algumas operações de pagamento que atendam aos usuários sem o mesmo custo das grandes instituições. Mas, no futuro, lembra ele, se quiser ser mesmo um banco, precisará arcar com as regras do sistema. ;O Nubank vai ter que continuar inovando para se sobressair em um setor altamente regulamentado;, diz Ramalho.

  • Por dentro do Nubank
    Entre 2013 e 2016, recebeu cinco aportes, totalizando US$ 180 milhões

    Principais investidores:
    Sequoia Capital, DST Global, Kaszek Ventures, Tiger Global Management e Fouders Fund

    2,5 milhões
    de clientes

    13 milhões
    de pedidos para o
    cartão de crédito

    70%
    dos usuários têm
    menos de 36 anos

    600
    colaboradores

    R$ 236 milhões
    de receita no primeiro semestre de 2017

    R$ 39 milhões
    de prejuízo no primeiro semestre

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