Economia

Previdência privada é boa opção, mas é preciso atenção com taxas

Entretanto, quem pretender contratar um plano precisa ficar atento às formas de tributação e taxas cobradas, que consomem os ganhos e afetam o resultado final

Letícia Cotta*, Hamilton Ferrari
postado em 11/02/2018 08:00
O temor de perda de benefícios com a reforma da Previdência Social levou ao aumento da procura por planos privados com foco na aposentadoria em todo o Brasil. Algumas empresas registraram crescimento de mais de 60% na demanda em Brasília, por exemplo. Especialistas destacam que essa modalidade de investimento pode ser uma boa opção para acumular recursos. Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que no ano passado, os fundos de previdência renderam entre 9,8% a 26,7%, dependendo da composição da carteira. Apesar disso, quem pretender contratar um plano precisa ficar atento às formas de tributação e taxas cobradas, que consomem os ganhos e afetam o resultado final.

A lógica da previdência complementar particular é fazer uma reserva financeira de longo prazo, que se somará à aposentadoria do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Atualmente, o teto do benefício pago pelo governo é de R$ 5,6 mil por mês. Essa quantia, em muitos casos, é insuficiente para o segurado que, ao final da vida, terá uma série de despesas prioritárias com saúde, como remédios e, talvez, acompanhamento médico.



É o que pensa o arquiteto de software André Felipe Carneiro Pereira, 35 anos. Ele se preocupa em se aposentar com um orçamento compatível com as suas necessidades. ;Não quero que meu padrão de vida caia;, justifica, destacando que está à procura de um plano de previdência. Enquanto pesquisa as melhores opções, André faz investimentos de longo prazo no Tesouro Direto, em títulos públicos federais. ;Não posso deixar de fazer uma reserva. É como se fosse uma previdência paralela;, diz.

Na prática, os planos de previdência privada são parecidos com o investimento feito por André. A pessoa contrata uma empresa ou uma instituição financeira que vai gerir os recursos por um período de tempo. Ou seja, o consumidor transfere o dinheiro para o banco, por exemplo, que, por sua vez, estuda as melhores aplicações que formarão o montante desejado.

Desenho de homem regando uma planta. Ao lado do vaso há uma moeda

Taxas

Por isso, é cobrada uma taxa de administração nos planos de previdência privada, que prejudicam a rentabilidade. O educador financeiro Jonatas Bueno, da Diagnosticar, Sonhar, Orçar e Poupar (DSP), afirma que o melhor caminho é a pessoa estudar as aplicações financeiras e fazer por conta própria, mas contratar uma empresa para gerir os recursos não deixa de ser uma alternativa para se preparar para o futuro. ;As pessoas não podem só contar com a aposentadoria do governo, porque o Estado não conseguirá custear. A população está envelhecendo e precisa tomar a iniciativa de investir o próprio dinheiro desde o começo da vida profissional, com o objetivo de somar o que será ganho com o benefício do INSS;, explica.

[SAIBAMAIS]O superintendente comercial da empresa Mongeral Aegon, Rodrigo Moscoso, conta que, para conseguir fazer o dinheiro render mais na previdência privada, a pessoa precisa encontrar taxas de administração menores que, pelo menos 1,5% ao ano. ;Há cobranças de taxas de administração que variam de 0,7% a mais de 2% ao ano. Se passar desse nível de 1,5%, prejudica a rentabilidade;, indica.

Na hora de contratar o plano, é necessário verificar qual o produto indicado para seu perfil. O Plano Gerador de Benefícios Livres (PGBL) é recomendado para pessoas que fazem a declaração completa do Imposto de Renda. A vantagem é que a pessoa pode deduzir anualmente a aplicação, desde que ela não passe de 12% da renda bruta do investidor. A desvantagem é que, ao sacar o dinheiro, a tributação vai incidir sobre todo o recurso aplicado e o rendimento obtido.

Já o plano Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) é sugerido para quem preenche o formulário simplificado do Imposto de Renda. Essa opção também é indicada para os isentos. O bom é que, no resgate do dinheiro, a tributação incide apenas sobre os ganhos obtidos, ou seja, o rendimento. O contra é não poder abater as aplicações na declaração anual do IR.

A família do empresário Vinícius Gouveia, 25, fez, desde os seus 10 anos, um plano de previdência para ele. ;Como eles queriam que eu virasse sócio da empresa, planejaram para eu ter uma graninha acumulada, e até hoje eu coloco um pouquinho todos os meses;, afirma. ;Invisto um valor relativamente baixo, R$ 100, mas pretendo aumentar;, completa.

Um dos motivos para que Vinícius mantenha o plano é porque ele tem receio de ficar desempregado quando estiver mais velho. ;Caso tudo dê errado, é muito mais fácil arrumar um trabalho agora, enquanto estou jovem. Não vejo um mercado que abre muitas portas para as pessoas mais experientes;, avalia.

O professor Lauro Faria, economista do Centro de Pesquisa e Economia do Seguro, da Escola Nacional de Seguros, conta que o plano de previdência é uma boa opção para quem deseja acumular para a aposentadoria. ;O importante é se organizar para fazer desde cedo. Quanto mais tarde for, maior será o volume necessário para formar o montante necessário. Mas quem está no meio da carreira ainda tem tempo para isso. Não é recomendado para quem é idoso, porque aí não faz sentido uma aplicação de longo prazo;, explica.

Ao escolher o plano, a pessoa precisa se organizar financeiramente. O investimento não pode ser nem tão alto, a ponto de comprometer a renda mensal do consumidor, nem tão baixo, pois não terá efeitos significativos. Em vez de definir o valor fixo, o investidor pode estabelecer uma parcela da remuneração do mês, que pode variar, na maioria dos casos, de 10% a 30%.

Rentabilidade

A taxa básica de juros (Selic), que é definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), norteia os juros da economia brasileira. Quanto mais baixa estiver, menor será o rendimento de algumas aplicações financeiras, como as de renda fixa. Na última semana, o BC decidiu por baixá-la para 6,75% ao ano, o que contribui para a redução dos ganhos de vários investimentos, inclusive de planos de previdência privada.

Rodrigo Moscoso afirma que, com os juros menores, a pessoa precisa dobrar a atenção para as taxas cobradas pelas empresas. ;Quando essas cobranças aparecem, é possível perceber que é até mais rentável a pessoa deixar na poupança. Ainda mais que algumas instituições cobram outras taxas, de certa forma escondidas;, alerta. Mas, com pesquisa, o consumidor consegue encontrar plano de previdência privada que dê rendimentos muito satisfatórios para a aposentadoria.

Moscoso explica que o Imposto de Renda regressivo é uma vantagem da previdência privada frente às outras aplicações. ;Numa aplicação de 30 anos, por exemplo. Com o passar do tempo, a cobrança é muito menor. A tributação sairá da casa dos 30% e chegará em 10%, por exemplo, ao final do período;, diz.

Jonatas Bueno defende que a pessoa deve procurar conhecimento sobre os tipos de investimentos e ;fazer o próprio caminho;. ;O plano de previdência, para valer a pena, precisa render, por ano, no mínimo, o que Selic oferece hoje. Mas há aplicações que apresentam rentabilidade melhor, e as pessoas podem conseguir, se pesquisarem;, ressalta.

*Estagiária sob supervisão de Paulo Silva Pinto

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação