Economia

'Tensões econômicas' põem crescimento mundial em risco, diz G20

O comunicado aprovado nesta terça-feira (20), ao fim de uma reunião de dois dias em Buenos Aires, reconhece que o crescimento mundial enfrenta riscos, entre eles "as tensões econômicas e geopolíticas"

Agência France-Presse
postado em 20/03/2018 19:23
Buenos Aires, Argentina - Sem ânimo para condenar abertamente as tarifas alfandegárias anunciadas pelo presidente americano, Donald Trump, ou a superprodução de aço na China, os ministros das Finanças do G20 reconheceram que "as tensões econômicas" representam um risco para o crescimento mundial.

O comunicado aprovado nesta terça-feira (20), ao fim de uma reunião de dois dias em Buenos Aires, reconhece que o crescimento mundial enfrenta riscos, entre eles "as tensões econômicas e geopolíticas".

Fruto de longas discussões entre os ministros, a frase apresenta a vantagem de evocar - sem mencioná-las - as tensões deflagradas pelas novas tarifas dos Estados Unidos e pela superprodução da China, o que G20 critica há anos, denunciando que satura o mercado com aço barato.

O encontro de Buenos Aires, o primeiro sob a Presidência da Argentina, acontece a apenas três dias da entrada em vigor de novas tarifas dos Estados Unidos, que taxarão com 25% as importações de aço e com 10% as de alumínio, o que gera temores de guerra comercial.

Em um momento em que a União Europeia e outros países como a Argentina multiplicam esforços diplomáticos para conseguir uma isenção de tarifas e evitar uma guerra comercial, a reunião do G20 lembrou que a solução deve ser multilateral.

"A UE não deseja uma escalada comercial, não deseja uma guerra comercial. Mas está pronta para reagir, embora a gente favoreça uma posição diálogo", disse à AFP o comissário europeu Pierre Moscovici.

"Nossas respostas estão prontas", acrescentou Moscovici. Já o secretário de Tesouro americano, Steven Mnuchin, disse em coletiva de imprensa após a reunião que uma guerra comercial "não é nosso objetivo, mas não temos medo disso". "Devemos estar preparados para intervir no interesse dos Estados Unidos em defender uma troca livre e equitativa que se inscreva na reciprocidade".

Tensões fiscais
Outro assunto que causa tensão entre Estados Unidos e Europa é a proposta para taxar as grandes empresas digitais, como Google, Amazon, Facebook e Twitter, cujas práticas de otimização fiscal são questionadas com frequência.

Moscovici aproveitou sua viagem a Buenos Aires para dar uma mensagem de tranquilidade aos Estados Unidos com sua intervenção nesta terça-feira diante da reunião do G20.

Na quarta-feira (21/3), ele estará de volta em Bruxelas para apresentar seu projeto de taxação das companhias digitais. "Não se trata em nada de medidas de represália nem de medidas antiamericanas", afirmou, garantindo que a proposta de imposto abarca todas as grandes companhias digitais, independentemente de sua nacionalidade.

Sobre este ponto, o comunicado final foi cauteloso e não citou os impostos. "As tecnologias transformadoras puderam trazer imensas oportunidades econômicas (...), mas a transição demanda desafios aos indivíduos, aos negócios e aos governos", aponta o comunicado.

"É preciso de cooperação internacional para aproveitar essas oportunidades e garantir que os benefícios sejam compartilhados por todos. Concordamos em desenvolver um conjunto de opções para avaliar em nossa próxima reunião, em julho", acrescentou.

Criptomoedas
Para os ministros das Finanças, foi mais simples alcançar um acordo sobre o tema das moedas virtuais e do bitcoin. Eles rejeitaram considerá-las moedas soberanas, alertando para os riscos de serem usadas para lavagem de dinheiro, ou financiamento do terrorismo. "Os criptoativos não cumprem as funções-chave de uma moeda soberana", afirmaram os ministros no comunicado final.

Ao reconhecer que as criptomoedas podem contribuir para uma maior eficiência e inclusão no sistema financeiro, os ministros expressaram também sua inquietação sobre como "proteger consumidores e investidores, a integridade do mercado, a evasão fiscal, a lavagem de dinheiro e o financiamento ao terrorismo".

"Fizemos importantes esforços neste terreno nos anos recentes e deveríamos evitar que um novo elemento como os criptoativos escapem às normas comuns", disse à imprensa o governador do Banco Central francês, François Villeroy.

O ministro espanhol Román Escolano afirmou que "nestes momentos, não podemos achar que os criptoativos sejam um risco à estabilidade financeira internacional, mas é um assunto que temos que acompanhar ativamente".

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