Economia

Especialistas explicam nervosismo do mercado nos últimos dias

Tensões internacionais e incerteza eleitoral deve manter a volatilidade do mercado nos próximos dias. Moeda dos EUA atingiu R$ 3,950 na sexta-feira, mas fechou a R$ 3,916

Antonio Temóteo, Gabriel Ponte*
postado em 18/08/2018 07:00
Mário Mesquita, do Itaú Unibanco, explica que desvalorização da lira turca afeta divisas de outros países
A crise na Turquia, a tensão entre os Estados Unidos e a China e as incertezas políticas no Brasil voltaram a afetar os mercados cambial e de ações ontem. Em alta pelo terceiro dia consecutivo, o dólar subiu 0,31%, vendido a R$ 3,916. Ao longo do dia, a divisa estrangeira chegou a ser cotada acima de R$ 3,950, mas cedeu com o aceno de que norte-americanos e chineses devem iniciar tratativas para reduzir os efeitos da guerra comercial. A moeda dos EUA acumula variação positiva de 4,43% no mês e de 18,09% no ano.

A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) teve mais um dia de queda. Terminou o pregão em baixa de 1,03%, aos 76.028. Com o resultado, a B3 apresenta perda de 0,49% no acumulado do ano. No mês, está negativa em 4,03%. Os mercados foram afetados negativamente após a decisão da Justiça da Turquia de negar mais um pedido para libertação do pastor americano Andrew Brunson, detido em prisão domiciliar no país por crimes de terrorismo e espionagem desde julho. O pregador passou um ano e meio em uma penitenciária.

Os Estados Unidos pedem a libertação imediata do pastor, e ameaçam impor mais sanções à Turquia se ele não for solto. Esse imbróglio levou à forte perda de valor da moeda turca e isso tem provocado elevação das incertezas nos mercados globais, explicou o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquista. Ele ressalta que esse cenário produz reflexos nas moedas de países emergentes, especialmente aqueles com maior vulnerabilidade externa.

Mesquita explica que, na última semana, a lira turca chegou a valer 7,23 liras por dólar ; voltando para o patamar de 6,04 ontem ; e acumula queda de 37% neste ano. Ele destacou que o país, que apresentava uma das maiores taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do mundo, nos últimos anos, tem um forte desequilíbrio externo, com deficit em conta-corrente ao redor de 6,5% do PIB ; muito maior do que a média dos seus pares. ;Soma-se a isso o elevado nível de inflação ; a variação em 12 meses está em 15,8% em julho ; característico de uma economia sobreaquecida, e a dificuldade que enfrenta em endereçar esses desequilíbrios através dos instrumentos de política fiscal e monetária;, disse.

Volatilidade

O analista-chefe da Rico Investimentos, Roberto Indech, explicou que a agitação observada no mercado brasileiro será constante nos próximos meses. ;Podemos esperar por um dólar com fortes oscilações nos próximos 50 dias. Existe uma série de fatores, como cenário eleitoral, embargos econômicos e crises internacionais. Assim, o Banco Central (BC) tem a possibilidade de voltar a intervir fortemente;, explica.

Segundo Indech, a normalidade no mercado de renda variável só é esperada quando houver definição do cenário eleitoral, assim como uma visão mais clara do panorama internacional. ;Havendo uma estabilização, é possível que haja uma normalidade, mas não há expectativa disso;, afirma.

* Estagiário sob supervisão de Rozane Oliveira

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