Economia

Com novas tecnologias, indústria da saúde avança

Grandes fabricantes de equipamentos apostam em novas tecnologias para melhorar os diagnósticos, inclusive as empresas de tecnologia.

Paula Pacheco/Estado de Minas
postado em 15/01/2019 06:00
Instalações da Novartis: laboratórios buscam não só inovar no desenvolvimento de produtos e serviços, mas também tornar a produção mais eficiente

São Paulo ; Os investimentos em inovação na área da saúde têm ocorrido em velocidade cada vez maior e em diferentes frentes. Operadoras de planos de saúde buscam formas de reduzir as despesas e melhorar a eficiência dos tratamentos. Grandes fabricantes de equipamentos apostam em novas tecnologias para melhorar os diagnósticos, inclusive as empresas de tecnologia.

É o caso da Apple, que, em dezembro, anunciou o início do funcionamento do recurso de eletrocardiograma do modelo apple Watch series 4. O equipamento permite ao usuário acompanhar o comportamento do coração, medindo os batimentos durante as atividades físicas e com a possibilidade de detectar arritmia cardíaca. Nesse caso, avisos são emitidos para que o usuário, dono do relógio, vá ao médico.

Hospitais e laboratórios de análises clínicas pegam carona nesse movimento com o objetivo de tornar suas operações mais eficientes. Há também as heath techs ; startups do setor de saúde ;, que têm conseguido avanços e chamado a atenção de grandes grupos.

Apesar da universalização da saúde pública, prevista na Constituição, o Brasil também tem conseguido acompanhar essa tendência, o que é visto tanto nos grandes grupos quanto nas startups. A Tismoo, que atua na área de biotecnologia, trabalha em duas frentes. Uma é a que oferece serviços de sequenciamentos genéticos variados e medicina personalizada com foco nos transtornos neurológicos relacionados ao autismo. Com um laboratório na Universidade da Califórnia e outro em São Paulo, a health tech oferece testes para diagnosticar os diferentes tipos de autismo, além de outras síndromes neurológicas.

Parte das pesquisas genéticas ocorre a partir de uma ;fazenda de minicérebros; ; a Tismoo recria em laboratório as etapas do desenvolvimento neural a partir de células do próprio paciente. Nesse processo, uma célula é transformada em célula-tronco da estrutura cerebral, possibilitando testar medicamentos para os diferentes tipos de doenças e fazer ajustes de doses de medicamentos.

Aproximação

A Tismoo é uma das cerca de 250 health techs que atuam no Brasi. Muitas são encabeçadas por pesquisadores ligados a universidades. Para os grandes grupos, a aproximação com essas startups é uma forma de trazer novas tecnologias para dentro de casa. É o caso da gigante farmacêutica Roche, que há cerca de um ano pagou US$ 1,9 bilhão pela americana Flatiron Health, especializada na coleta de dados clínicos de pacientes com câncer.

Sócia da Bain & Company, Luiza Mattos analisa que a área da saúde vem sendo muito impactada por novas tecnologias digitais nos últimos anos. A mudança de comportamento já vem trazendo ganhos para as empresas e para os usuários. As possibilidades, acredita a especialista, são muito grandes. Ela dá como exemplo o uso da Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês) para aumentar a aderência a tratamentos de saúde, por meio do monitoramento remoto do paciente.

;As novas tecnologias vão permitir cada vez mais o engajamento físico e digital do paciente, seja por meio da análise de dados ou do monitoramento da sua jornada. Isso é fundamental quando falamos de desperdício de recursos;, explica Luiza.

Com esse tipo de investimento tecnológico, ela acredita que os prestadores de serviço e os gestores poderão ter uma atuação mais eficiente sob o aspecto financeiro e melhorar os cuidados com seus pacientes. ;Com o aumento do uso da tecnologia digital e de dados, será possível identificar de forma mais assertiva o melhor caminho para o paciente e qual será o tratamento mais eficaz;, defende.
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Inovação em ciclos curtos


Na corrida por soluções para a saúde, os ciclos de inovação deverão ser cada vez mais curtos ; o desenvolvimento, o aprendizado e os ajustes ocorreram quase que simultaneamente, como destaca a . sócia da Bain & Company.
;Muitas inovações dependem de tempo para ter seu desempenho econômico percebido. O importante é que as empresas e o governo tentem identificar nesse processo quais são os indicadores de sucesso trazidos pela inovação tecnológica, como os benefícios para a operação e para o cliente, isso tanto na saúde privada quanto na saúde pública;, diz a sócia da Bain & Company.
Luiza destaca que nesse processo de avanço tecnológico na saúde, o consumidor terá papel muito importante ; o do uso racional dos recursos dessa área. Hospitais, laboratórios e operadoras de planos de saúde têm buscado usar ferramentas tecnológicas e relacionamento com o cliente para mapear a forma como seus serviços são utilizados. Há uma queixa antiga do setor quanto à ida desnecessária aos consultórios, pronto-socorro e laboratórios.
Essa transição de modelo na área, explica Leonardo Giusti, sócio e líder de healthcare e life science da KPMG passa também por um ponto fundamental no setor: a mudança da remuneração por volume de serviço prestado pelo benefício levado ao cliente, ou seja, a eficácia no atendimento.

Envelhecimento


;A população vem envelhecendo e o aumento do custo em saúde será inevitável. Por isso, é importante trabalhar cada vez mais com Big Data, contar com a ajuda da tecnologia para ter mais acerto no diagnóstico, além de fazer uma gestão da jornada de saúde dentro das empresas;, afirma Leonardo Giusti.

Contudo, para chegar ao modelo ideal na área da saúde será preciso seguir por um longo caminho. Um dos pontos fundamentais dessa transformação é a digitalização dos dados dos pacientes, concentrados em um cadastro único, na nuvem.

O uso de cloud computing também será cada vez maior para o armazenamento de dados que poderão servir como um grande banco de dados, um Big Data, para traçar padrões e melhorar os diagnósticos. Laboratórios, como a Dasa, já estão fazendo grandes investimentos nesse tipo de solução e vêm conseguindo melhorar os resultados da operação, com o processamento mais rápido de amostras.

Outro desafio será o aumento do alcance da telemedicina, que permite reduzir os custos de atendimento, aumentar o número de pacientes tratado e a eficiência no diagnóstico, que pode ser feito à distância por especialistas.

Giusti lembra que esse novo momento do setor tem levado algumas empresas a buscarem especialistas para gerir a operação e os custos na área de saúde. Hospitais como o Sírio-Libanês, de São Paulo, passaram a oferecer esse serviço. Com a ajuda de tecnologia, conseguiu administrar o uso dos serviços médico-hospitalares e saber como encontrar formas de melhorar a saúde dos funcionários e a saúde financeira do negócio.

;Hoje vamos desde o prontuário eletrônico ao uso de robôs. Vivemos uma revolução digital. Nesse setor, a complexidade é um pouco maior, porque lidamos com a saúde das pessoas;, diz Vladimir Pizzo, gerente de informática clínica do Hospital Sírio-Libanês.

;Não há dúvida de que essa é uma indústria altamente impactada pelas novas tecnologias. A inovação é o caminho para que as empresas se tornem cada vez mais competitivas. Os ganhos ainda são marginais, mas crescerão a medida que a integração de soluções avançar;, afirma Eliane Kihara, especialista em saúde da PwC. (PP)

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