2013 Festival de Brasilia do Cinema Brasileiro

Diretora pernambucana discute o show business no longa de ficção

postado em 21/09/2013 07:50

Os produtores de Estrada 47 ; A montanha, de Vicente Ferraz, resolveram tirar o filme da mostra competitiva de longas de ficção do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (FBCB), preferindo inserí-lo na programação da Prémiere Brasil do Festival do Rio. Para substituí-lo, o pernambucano Amor, plástico e barulho, de Renata Pinheiro, incluído na grade do FBCB como a ficção longa a competir na nobre noite de sábado no Cine Brasília. Entrar com o trem já em movimento não é, segundo a cineasta, um problema para ela, uma veterana de outros festivais.

A assinatura artística de Renata está presente desde os primórdios do boom do cinema pernambucano no fim dos anos 1990 e início dos 2000. Ela foi a diretora de arte de títulos importantes da cinematografia daquele estado, como Texas Hotel (1999) e Amarelo manga (2002), ambos de Claudio Assis. E experimentou na direção geral dos curtas-metragens Superbarroco (2009) e Praça Walt Disney (2011). No primeiro longa-metragem de ficção, a cineasta e roteirista transita por territórios considerados inexpressivos para boa parte da elite brasileira. ;O filme tem relação muito forte com cultura de massa, a internet, o YouTube. Nossas características brasileiras, nosso apego a televisão como forte elemento da cultura popular;, relata Renata.

Em Amor, plástico e barulho, a dicotomia do universo de duas cantoras é mostrada na telona
Há mais inserções além da barreira estética imposta à arte produzida fora do centro. ;A história de Amor, plástico e barulho acontece dentro do showbusiness da música brega, mas trata da história de duas mulheres distintas. Uma é cantora experiente amargando a decadência na carreira. A outra é uma iniciante começando a galgar a trajetória de vitórias e fracassos. É muito mais sobre as duas, com desejos comuns da sociedade contemporânea brasileira. O desejo de se tornar famoso, conseguir notoriedade;, acredita.

A verve política da realizadora, executada em posição clara nas contradições sociais de Walt Disney, se desenvolvem em níveis subcutâneos na narrativa longa. ;Exploramos o universo dos outsiders, pessoas à margem que levam sua cultura independente da aprovação das elites. Nesse caso, o filme é político sim. Mas não acredito que tenha uma moral da história, não há um julgamento de valores;, reflete a cineasta. Uma das grandes preocupações do cinema recifense contemporâneo, a especulação imobiliária, objeto abordado em vários filmes produzidos na metrópole, aparece com um fator ameaçador para uma comunidade da cidade.

Amor, plástico e barulho
(PE, ficção, 90min, 14 anos) De Renata Pinheiro, às 21h.

Morro dos prazeres
(RJ, documentário, 90min, 12 anos).
De Maria Augusta Ramos, às 19h.

Cine Brasília (R$ 12,00 e R$ 6,00) Teatro Sesc Newton Rossi (Ceilândia), Espaço Cultural Paulo Autran (Sesc Taguatinga), Teatro do Sesc Gama, Teatro de Sobradinho e Teatro do Guará ; entrada franca

No caminho do bem

Radicada no Rio de Janeiro, a documentarista brasiliense Maria Augusta Ramos inverte o caminho percorrido nos excelentes Justiça (2004) e Juízo (2007) ; os dois títulos dirigidos anteriormente, em que a cineasta se entranhava nos corredores do sistema jurídico brasileiro. Em Morro dos Prazeres, Maria Augusta deixa o ambiente dedicado à punição para analisar outra esfera da sociedade brasileira: a relação entre moradores de favelas e a polícia pacificadora. ;O filme fala do processo de criação de cidadania, representado pela pacificação das comunidades carentes do Rio de Janeiro, que viveram anos sem a presença do Estado. O sonho utópico das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) é a reconciliação do poder público diante de um longo histórico de agressão policial;, enxerga.

Assim como seus filmes anteriores, Maria Augusta trabalha com uma linguagem observacional, quando o documentarista expõe seu objeto sem julgá-lo. ;A proposta é reflexão. O público vai tirar suas próprias conclusões. Não se trata de explicar a realidade. Ela é complexa, nós somos complexos, ninguém é simplesmente bom ou mau. Nós somos definidos por uma série de coisas. Eu não me atenho a isso. Espero que o público chegue a sua própria conclusão;, anuncia a realizadora.

Formada em música pela Universidade de Brasília (UnB), Maria Augusta estudou cinema na Holanda e, apesar de retratar situações sociais e jurídicas, não atuou em nenhuma das duas áreas. Para representar esses retratos cinematográficos com propriedade, há muito estudo. ;Eu faço entrevistas, pesquiso antes de fazer um filme. Em Morro dos Prazeres, nós precisamos ser aceitos pela comunidade. As pessoas tinham de ter confiança. Não só dos personagens, mas de toda a comunidade. O retrato é muito íntimo;, explica. Não recomendado para menores de 12 anos.

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