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Perfil: Roberto Jefferson, um observador privilegiado

Líder do PTB afirma que pressão do PT sobre Aécio Neves vai aumentar e caberá a ele liderar a oposição, enquanto José Serra tende a ser um político regional

postado em 30/08/2010 08:10
Desde que perdeu o mandato de deputado federal em 2005, quando 313 parlamentares consideraram que ele denunciou o mensalão do PT sem provas, Roberto Jefferson, 57 anos, tem várias atividades e uma missão política: ser o arauto da oposição ao presidente Lula e ao PT. Como presidente do PTB, uma agremiação partidária que tem a cabeça com o voto declarado a favor de José Serra e o corpo trabalhando para Dilma Rousseff, ele observa a política de um ponto privilegiado, capaz de vislumbrar os movimentos da oposição e do governo.

Roberto Jefferson: E do alto da sua torre, a cobertura de um prédio de cinco andares na Asa Norte de Brasília, a sede petebista, ele avisa: ;Dilma só perde essa eleição se ocorrer algum fato excepcional. Se não resistirmos em estados emblemáticos como Minas, São Paulo, Paraná, Goiás, vamos virar PRI. Vamos ter um partido justicialista argentino, um peronismo. Lula é o Peron do Brasil. Ele tem um partido que abriga embaixo liberais, socialistas, direita, esquerda, e esses grupos vão ocupando o poder sempre dentro da mesma estrutura de partidos. Se não reagirmos, o Lula fará um partido justicialista peronista, não tenho dúvida disso;, comentou ao Correio.

Essas declarações ainda não chegaram ao twitter do ex-deputado dessa forma. Ele, por enquanto, se limitou a ecoar entre seus 6.420 seguidores (registrados até sexta-feira) a necessidade de sobrevivência nesses estados para, a partir desses governos, estruturar um projeto alternativo rumo a 2014, quando o próprio Jefferson, se quiser, poderá ser candidato a um novo mandato de deputado ; já terão se passado os oito anos de cassação de seus direitos políticos. ;O Geraldo (Alckmin) e o Aécio vão precisar se unir para liderar a oposição no Brasil. Senão, será engolida completamente;, diz ele.

Ele se mostra preocupado desde já com a tentativa de Lula de cooptar o ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves. Respirou aliviado quando o Ibope divulgado na sexta-feira apresentou Antonio Anastasia (PSDB) à frente de Hélio Costa (PMDB), em Minas Gerais. ;O governo vai tentar derrotar o Geraldo e o o Anastasia para deixar Aécio enfraquecido, espremido politicamente, em sua própria base por Hélio Costa e, no plano federal, pelo PT. e, assim, buscar cooptá-lo para contrapor o peso do PMDB;, diz o petebista acreditando que caberá ao mineiro liderar a oposição, enquanto José Serra tende a se transformar num político regional.

Como quem já viu muita coisa em política, esteve ao lado dos tucanos e, depois de Lula, Jefferson antevê uma crise sem fim, se fracassar o projeto de Lula, de montar um novo partido para apoiar Dilma. ;Ela é autoritária, mas não tem autoridade política. E autoritarismo é o caminho da crise;, alerta. Daí, calcula, a proposta de abrir uma janela para troca de partidos, onde Lula trabalharia um partido único ou um novo acessório para abrigar os deputados aliados.

;A reforma política vem rápido. Há uma crise no quadro partidário, uma disputa de poder (entre PT e PMDB) colocada claramente aos olhos do Brasil. Ou um grande, ou um de linha auxiliar, moderado, para obrigar os pequenos e médios a buscarem esse partido. E, infelizmente, essa reforma não virá por apelo social. Virá para dar estabilidade ao governo Dilma. É o primeiro pacto que terá que fazer. Senão, não terá paz para governar;, comenta, referindo-se ao primeiro trabalho do presidente Lula, tão logo as urnas sejam abertas. ;E o Lula sabe que terá que fazer isso. Ele não foi fazer doutorado em Princeton, mas é doutor em política;, elogia.

Roberto Jefferson acredita que nem mesmo o seu partido, o PTB, resistirá intacto se Lula vier com uma nova agremiação. Aberta a janela da fidelidade, que hoje segura os deputados nas legendas que lhes garantiu a eleição, Jefferson avalia que muitos petebistas não hesitariam em pular do barco. Nos bastidores, há quem diga que, por isso, ele deixa a bancada livre para apoiar Dilma. ;Os partidos hoje não têm unanimidade. A bancada apóia Dilma, uma parte estará no governo. Isso eu não posso evitar. Eu voto em Serra, mas os deputados estão com ela. No PTB só temos duas unanimidades: não mexer na CLT sem um plebiscito que autorize. E o fim do fator previdenciário;, diz.

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