Eleicoes2010

Luiz Estevão age nos bastidores

Filiado ao PMDB, primeiro senador cassado do país participa ativamente das decisões do núcleo de coordenação da campanha de Weslian Roriz. Sem poder disputar cargo, ele teria lugar de destaque em eventual governo da ex-primeira dama

Ana Maria Campos
postado em 10/10/2010 08:18
O escândalo do Fórum Trabalhista de São Paulo, em 1999, comprometeu o passado político de Luiz Estevão. A Lei da Ficha Limpa pode limitar suas pretensões futuras. Mas fato é que atualmente o primeiro senador cassado da história transita nos bastidores do processo de sucessão eleitoral do Distrito Federal. É um dos principais conselheiros da família Roriz. Se o ex-governador transferiu para a mulher a perspectiva de poder, Estevão deposita no casal a chance de manter influência no governo local.

Luiz Estevão deixa a casa da família Roriz, no Park Way, após reunião dos coordenadores de campanhaFiliado ao PMDB, partido de Tadeu Filippelli (vice de Agnelo Queiroz), Estevão pertence à turma de dissidentes que apoia Joaquim Roriz. Desde o início da campanha, quando o ex-governador era o candidato e agora, com a indicação de Weslian, ele participa das decisões do núcleo de coordenação da coligação rorizista.

A ligação estreita com o casal projeta o ex-senador a lugar de destaque em eventual governo liderado pela ex-primeira dama. Condenado a 31 anos de prisão pelos crimes de formação de quadrilha, peculato, estelionato, uso de documentos falsos e corrupção ativa, Estevão deverá permanecer nos bastidores. Isso, no entanto, não significa que não terá poder.

No início do processo eleitoral, apesar de estar recolhido da política há quase uma década, Estevão deu as caras. Participou de reuniões para a escolha da equipe de Roriz. Ajudou a escalar o time e prometeu ajuda para o pagamento de despesas de campanha. Nos bastidores, circula a informação de que a opinião de Estevão contou para contratação do marqueteiro Dimas Thomas, que migrou da campanha de Toninho do PSol para a de Weslian.

Por causa da confusão judicial, todo o patrimônio de Estevão está bloqueado como forma de garantir o reassarcimento de prejuízos aos cofres públicos. O ex-senador acompanhou de perto os desdobramentos mais importantes da impugnação da candidatura de Roriz. Em 22 de setembro, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) começou a analisar o recurso que discutiu a aplicação da Lei da Ficha Limpa no caso do ex-governador, Estevão foi à casa de Roriz, no Park Way.

Reuniões com Roriz
As pessoas mais próximas de Roriz não negam a reaproximação entre os dois políticos. Dizem que a participação de Estevão se limita aos conselhos esporádicos e negam qualquer intervenção financeira. O ex-senador evita detalhar a ajuda que tem dado ao ex-governador. ;Seria deselegante falar sobre isso. Pergunte aos assessores de Roriz;, afirmou Estevão ao Correio, no início da campanha, quando sua participação começou a ficar evidente. Ontem ele não foi localizado para comentar. O coordenador de comunicação da coligação rorizista, Paulo Fona, confirmou a ligação de Roriz com Estevão. ;Os encontros ocorrem de vez em quando e não há qualquer doação de dinheiro;, garante.

O vínculo de Estevão e Roriz é antigo. Existe desde o início das eleições na capital e teve momentos de maior ou menor intensidade, mas nunca se rompeu totalmente. Eleito deputado distrital, Estevão cresceu como líder da oposição no governo Cristovam Buarque (1995-1998) e avaliou que teria envergadura para ser o candidato ao governo. Mas Roriz conseguiu se colocar como o nome na disputa contra a reeleição do petista. Estevão se elegeu ao Senado. Em comum, eles têm um adversário: José Roberto Arruda, a quem o ex-senador atribui a sua derrocada política.

Memória
Problemas com a Justiça

Com 460 mil votos, Luiz Estevão elegeu-se senador em 1998, após uma atuação destacada na Câmara Legislativa como oposição ao governo de Cristovam Buarque, então no PT. Ele foi autor de várias ações judiciais que contestavam programas do petista. Na época, teve como parceiro o então deputado distrital Tadeu Filippelli (PMDB), hoje vice na chapa encabeçada por Agnelo Queiroz (PT).

Ao chegar no Senado, em 1999, Estevão conquistou o cargo de relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Logo ele se indispôs com colegas, inclusive, com o então senador Antônio Carlos Magalhães. Seu mandato durou apenas um ano. Foi abatido na CPI do Judiciário, que investigou denúncias de corrupção na obra do Fórum Trabalhista paulista. Estevão foi o primeiro senador cassado. O então líder do governo no Senado, José Roberto Arruda, na época era filiado ao PSDB. Arruda foi um dos responsáveis, com ACM e o hoje presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, pela costura política para a cassação de Estevão. Mais tarde, Arruda se envolveria no escândalo do painel do Senado, sendo obrigado a renunciar.

Com a cassação, Estevão perdeu a chance de concorrer a governador. Para se ter uma ideia do potencial dele, o político teve, há 12 anos, mais votos que Weslian Roriz (440 mil) no último domingo. Mas Estevão foi preso e responde a 41 processos na Justiça. Fundou o time do Brasiliense. Ano passado, cogitou tentar retomar sua elegibilidade, perdida em 2000. Por causada Lei da Ficha Limpa, fica impossível prever quando estará liberado para nova investida nas urnas.

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